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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Isto é que é bola fora!

          Aconteceu com uma amiga minha. Ela é moradora de Florianópolis, da praia de Canasvieiras. No verão ela costuma alugar a casa para turistas que vêm aproveitar as praias da ilha. Outro dia um homem entrou em contato com ela pela internet e reservou o imóvel. Quando o hóspede chegou com a família ela cumprimentou-o e tratou logo de agradá-lo:
- Bonita sua filha, bem grandinha. Já é uma moça.
O cinqüentão não titubeou em desfazer o mal-entendido:
- É minha esposa.
E agora, fazer o que? É o que sucede quando tentamos elencar quem não conhecemos.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Hospital lucra 1.600% em cada xerox

Cena um: Cidadão descobre que está com câncer.
Cena dois: Após primeira sessão de quimioterapia é orientado a procurar uma clínica para fazer o implante de um cateter.
Cena três: O octogenário busca uma que tenha convênio com o plano de saúde dele.
Cena quatro: A clínica conveniada indica um médico do seu quadro.
Cena cinco: O médico marca o local e a data da cateterização. Será em um hospital particular.
Cena seis: Dois dias antes da pequena cirurgia a esposa do ancião recebe um telefonema da clínica. A secretária avisa que haverá um custo: R$ 750,00.
Cena sete: Esposa da vítima – depois explico o “vítima” – pede recibo e prontuário do marido para tentar ressarcimento por parte do plano de saúde.
Cena oito: Filha do casal vai pegar, três dias depois, o prontuário.
Cena nove: Hospital cobra R$ 5,00 pela xerox do documento. São três folhas de papel ofício. Cada xerox sai por R$ 1,666

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Negrinha chata

         Apenas quero corrigir a frase preconceituosa da futura jornalista, que citei ontem. Conversei com pessoas que me garantiram que a moça disse o seguinte:

"Tem aquela negrinha chata do Fantástico". Referindo-se a Glória Maria, que apresentou o programa por quase dez anos.

         Segundo um amigo da estudante, que estava ao lado dela na hora do coice, ele não esperava tal atitude, tendo em vista que ela “mal abre a boca”. Daí podemos perceber o preconceito reinante no coração da catarinense. O assunto tocou tanto a jovem que ela explodiu, vomitou o que sobejava em seu interior. E o que é pior: teve apoio de muitos colegas. E vem gente dizer que o preconceito contra os negros é coisa do passado. Negativo, paisano. Ele existe, mas é velado. É dissimulado. É disfarçado. Devemos calar diante de tais posturas? Devemos permitir que grupos marginalizados continuem sob a bota dos dominadores?

terça-feira, 25 de maio de 2010

Aquela negra?

         Aconteceu em uma sala de aula do curso de jornalismo. Onde? Aqui em Florianópolis. O professor exibiu o filme “Uma onda no ar”, que conta a história de quatro amigos dispostos a criar uma rádio. Tem um problema: eles moram na favela e querem uma rádio para levar aos ouvintes a voz da comunidade. Surge assim a Rádio Favela. A ideia do professor era promover uma discussão sobre os problemas sociais refletidos no filme. Mas alguns alunos demonstraram total desconhecimento do assunto. Quando o professor disse que a televisão brasileira limita, e muito, o espaço destinado ao negro, uma futura jornalista saiu-se com esta:

- No Fantástico tinha aquela negra.

         Mas a forma que a moça falou foi de total desprezo com Glória Maria. O riso foi geral. Não havia um negro sequer na sala.

         Um aluno presente questionou o preconceito da estudante. Perguntou se ela admitia que tal declaração fosse filmada. Lamentável saber que os futuros jornalistas são incapazes de fazer uma leitura mais aprofundada dos desequilíbrios sociais da nação. Lamentável saber que esses moços e moças tenham uma visão tão medíocre das distorções sociais que presenciamos. Lamentável.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Pra lá, calo safado

         No último sábado eu estava conversando com um jogador de voleibol que atua na Europa. Ele é brasileiro. Falou da vida que leva no velho continente, do clube onde trabalha e do país onde vive. Jovem e vaidoso, não pôde deixar de contar da vida amorosa. “Namorei a ex de Ronaldo”. Gente do céu, não acreditei. O guapo se propôs a provar: “No próximo mês ela vem me ver”. Quase que eu tinha um troço. O cara namorou com a moça que namorou Ronaldo, o craque português! E eu, justamente eu, mais iluminado que o anjo Gabriel, terei a honra de conhecê-la. Entrei em crise só em pensar na ideia. Ele assegurou que me apresentará à moçoila. Acho que vou ter um troço.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Toda noite eu sonhava com o banquete que aquele cachorro comia

          Tem certas expressões que perdem o sentido à medida que o tempo passa. Caducam. Envelhecem, perdem o viço e só lhes resta a lembrança. Em certos casos, nem a lembrança. É, paisano, nosso idioma é vivo, e por ser vivo é mutante. Quando criança este amanuense costumava reter na cachola frases que achava bonitas. Que o tocava. Que o fazia pensar. Nunca esquecerei quando ouvi, pela primeira vez, um maluco dizer “isto aqui tá um cabaré de cego dentro de um balaio de gato”. Simpatia, fiquei noites sem dormir imaginando a cena. E ficava inculcado com esse tipo de coisa. Só desencanava quando ouvia uma nova, tipo “sou igual goiano, gosto de pegar para saber se o trem é bom”. Ou ainda, “cobra que não anda não engole sapo”. Hoje, entretanto, li uma manchete no jornal Tribuna da Bahia que me fez voltar ao passado: “Dia de cão para os usuários de ônibus”.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Tô de saco cheio com a natureza

          Desculpe-me, amizade, se estou apelando para seu lado religioso, mas a causa é nobre. Um leitor não espiritualizado talvez já tenha sido tentado a parar com a leitura. Não faça isso, por favor, precisamos muito de você. Por outro lado, um ledor com inclinações para assuntos religiosos já deve estar querendo ir direto para o último parágrafo; anseia por saber o desfecho desta crônica. Comportamentos próprios do ser humano. Gostamos de tomar posicionamento. Explico antecipadamente que não me importa tua ideologia, se é que você tem, não me interessa teu credo e menos ainda as cores do teu partido. Precisamos da tua fé, se você é de fé, da tua energia, se és místico, do teu pensamento positivo, se és agnóstico.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Coitada da tua mãe!

          Como vai tua mãe, está melhor? Caramba, que surra ela levou, hem!? Fiquei com dó. Dois seguranças batendo na coitada, foi uma barbárie. Vê-la no chão da prefeitura, feito um cão sem dono sendo espancada por dois guardas me deixou injuriado. Você vai mover um baita processo contra o poder público? Vai fazer manifestação nas ruas da cidade exigindo capacitação da segurança pública? Simpatia, tua mãe merece respeito. Ela paga impostos, trabalha honestamente e, acima de tudo, é uma professora. Tua genitora, como muitos outros professores, estão na linha de frente da educação dos nossos patrícios. Estamos cansados de saber que educação é a base de qualquer país desenvolvido. Não podemos tolerar que uma educadora seja agredida por selvagens travestidos de guardas.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Planeje agora ou incomode-se para sempre

           Um mar calmo, um barco a vela, uma tarrafa, cinco peixinhos recém-pescados e uma gaivota. Ah, faltou o céu – azul. Não, não estou falando de uma paradisíaca paisagem perdida no oceano pacífico. Apenas retrato Florianópolis. Claro, no imaginário de um artista. A cena reproduzida pode ser vista em um quadro afixado na parede de uma ONG na Ilha da Magia, apelido carinhoso dado à terra do poeta Cruz e Souza. A obra de arte – cujo tema é “O que você espera para Florianópolis no Futuro?” – trás na legenda uma referência à expectativa da população florianopolitana sobre o futuro do lugar onde mora. Seria belo, se não fosse utópico. O mar da Ilha de Santa Catarina quase sempre é agitado pelos fortes ventos. O barco a vela foi substituído, há décadas, por embarcações motorizadas. A tarrafa só é usada na pesca artesanal, ou por hobby. Os poucos peixes deram lugar às toneladas de pescados movimentadas no Mercado Público diariamente. Gaivotas ainda têm, mas dividem o espaço aéreo com aviões e helicópteros, cujo número cresce dia após dia.


sexta-feira, 14 de maio de 2010

Viva a revolta!

          Coitado! Pobrezinho, diria um piedoso. Dá pena, choraria minha mãe, dona Margarida. Eu achei o máximo. A mais pura expressão da vontade própria. Um sonoro “não” nos olhos boquiabertos da mulher. Um desprezo merecido à ignorância de quem insiste em alterar a natureza. Um protesto silencioso contra essas barbaridades cometidas pela sociedade dita moderna. Ele sentou-se na calçada. Resignado. E quando eu passei ele me encarou com uns olhos de “quer o quê”. Dei risada. Que moral. A dona não sabia o que fazer. Contentou-se em segurar a corrente que estava presa à coleira do insubordinado.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O medo faz cada coisa

          A verdade é que o medo faz coisas. Vais me dizer que nunca realizastes nenhuma doidice motivada pelo medo? Fez, não é? Vale salientar que deixar de fazer algo, é fazer. Óbvio. Implica em uma atitude. É uma questão a ser filosofada. Vamos ao medo. Uns conhecidos meus, moradores da Serra Catarinense, estavam conversando banalidades quando um dele, Elesbão, saiu-se com esta:

- Vocês sabiam que o melhor remédio para picada de cobra é chá de esterco de burro?
- Tá louco, cumpade? – estarreceu-se Arnóbio. – Não tomo um porcaria dessas, jamais. Prefiro morrer a beber um troço desses.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Dunga não gosta de futebol bonito

          É uma pena que o técnico da Seleção Brasileira, Dunga, não tenha se espelhado em equipes vitoriosas, como a de 58. À época, a comissão técnica convocou Pelé, jogador do Santos, que tinha apenas 17 anos. Não levou o garoto para ser titular, mas o time só deslanchou quando ele entrou em campo, ao lado de Garrincha. Agora o time da Vila Belmiro tem Neimar e Ganso jogando uma barbaridade. Dunga, o zangado, desprezou o talento e o encanto dos dois. Preferiu Júlio Batista e Grafite. Mas o treinador não está, por incrível que pareça, fadado ao fracasso.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"O povo é ignorante"

        A história de Sheid; parte 2
           Sheid nasceu em Seordal, um dos vinte e sete países que formam o planeta Cachorropeia. Por ser filho do governante ele foi preparado, desde a mais tenra idade, para suceder o pai no comando. Fala todos os idiomas cachorros. Para não perder a pronúncia das línguas distantes, costuma fazer longos monólogos em frente ao espelho do quarto que lhe ofereci. Eu, particularmente, não entendo patavina. Aos dez anos já discorria sobre temas ligados a política, educação e finanças. Lera todos os clássicos do mundo dele. Outro dia ele me confessou que aos quinze anos se achava um sabichão. “Na verdade eu era um bobalhão”, refletiu.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A verdadeira identidade de Sheid

          Vez em quando eu cito Sheid, o meu cachorro, neste espaço. Muitas pessoas perguntam-me por ele. Querem conhecê-lo por acharem-no humano em demasia. Indagam-me de onde o comprei. Querem saber a raça. Eu divago. Brinco. Ontem à noite, entretanto, conversei com o cão por várias horas e resolvemos descortinar a real identidade dele. E a partir de hoje, em dias incertos, contarei detalhes pertinentes a ele. E vou principiar pela origem do moço. Permita-me o “moço”.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Mudar ou não mudar

          Como você mudou! E mudou mesmo. Se para melhor, se para pior, não é problema meu. É seu. Mas que mudou, mudou. E não há nenhum demérito em mudar. Haveria se não o fizesse. Lógico. Olhe a paisagem ao seu redor; modifica-se diuturnamente. Observe as árvores; não são estanques. Dê uma espiadela nos pássaros; todo ano trocam as penas. Você mudou. Você está vivo. E me vem um ensandecido dizer que não muda. Muda, sim. Muda física, mental e espiritualmente. Pense em você há dez anos. Fui tentado a escrever “dez anos atrás”, mas se é há dez anos, é óbvio que é atrás. Como eram os teus diálogos? Como eram teus sonhos? Como eram teus pensamentos? Como eram tuas palavras? Como era teu agir?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Tô doido, tô doido, tô doido

          Lembra daquele humorista que dizia: “To doido, to doido, to doido”? Pois então, ontem eu endoidei de vez. Pirei, surtei, maluquei. E sabe qual foi o motivo? Um jogo de futebol. Isso mesmo, a final do Campeonato Paulista. Saiba, gente boa, que eu caí na besteira de assistir a partida sem tirar o som da televisão. Foi a minha desgraça. Cheguei de viagem no exato momento em que o árbitro apitava o início da peleia. Deixei o volume ligado e fui ouvindo. Quando vejo futebol, costumo acionar a tecla “mute”. Ontem, porém, no afã de acompanhar o espetáculo, esqueci da mania. E você sabe como é narrador, não é? E comentarista? Meu Deus do céu! Não sei você, mas, quando ouço o que eles falam, tenho a sensação que estou acompanhando outro jogo. Ontem, entretanto, foi um terror.