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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Papai Noel visita Câmara de Vereadores de Florianópolis

Papai Noel chegou mais cedo na Câmara de Vereadores de Florianópolis. E trouxe, no saco, 7 novos terneiros.

O número de vereadores que era de 16 vai saltar para 23. Isso mesmo. Um aumento de 43,75% na quantidade de mamadores.

Papai Noel, meu filho, assim o senhor mata o contribuinte da capital. Papai Noel, meu garoto, vossa excelência está bancando o Tiradentes com o pescoço do povo, é?

A câmara aprovou ontem, o incremento de 7 vereadores.

Assumindo o controle do teu morro

          Ninguém fala em outra coisa, aqui no Brasil: é só Rio, Rio, Rio. E não fugirei à regra. Não é, porém, da Cidade Maravilhosa que farei referência. Não, é ao teu Rio de Janeiro, ao meu e ao nosso Rio. Antes te pergunto: Como é que os morros cariocas chegaram à situação em que estão? Se você viu televisão, leu jornal ou escutou rádio, sabe que foi devido a ausência do poder público. Sem o mando do Estado, os traficantes ditaram as regras. E como é em nossas casas?
          Outro dia eu estava assistindo a um programa televisivo de domingo à noite e me apareceu uma família moderna. Uma mãe com três ou quatro filhos. O pai, que não é bobo nem nada, saiu pela tangente. No máximo paga uma pensãozinha. E muitos deles não dá mais um tostão quando o filho completa a maioridade. A mãe que se vire. Chamou minha atenção uma das filhas, por volta dos 15 anos, que estava com o namorado. Ela frisou que a não aceitava a mãe colocar um namorado dentro de casa. E a mãe, idiota, ficou mostrando os dentes. Enquanto isso, a pirralha estava com o namorado no sofá. Ou seja, a mãe que paga as contas não manda na casa, quem manda é uma babaquinha que ainda nem perdeu o odor das fraudas. E na tua casa, como é?

          Dia desses um rapaz, que mora com a mãe, disse que acha normal mandar a genitora tomar no “pi”. Outro, que mora com o pai, afirmou que já mandou o velho para a pqp. O que é isso? É inversão, meu chapa. Quem deveria ter o domínio no lar perdeu o pulso. O despreparado, o desmiolado, assumiu o comando. E o resultado? O resultado podemos acompanhar nos jornais diários. Aproveitando a deixa, será que não é hora de pais e mães retomarem o controle de seus morros?

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Marcelo D2 é fanfarrão

         Gente do céu, a coisa tá feia no Brail. Tem muito pai de família aumentando a mesada dos filhos em até 500%. Não tem aumento de salário que acompanhe esse galope. Tudo por causa da invasão do complexo do Alemão. Claro, com a apreensão de mais de 40 toneladas de maconha, até o momento, e de centenas de quilos de cocaína, o preço do produto para o consumidor final disparou. E como fica um guri que não trabalha e precisa manter o vício? Se bem que essa gente odeia ser chamada de viciada. De maconheiro, então, nem se fala. A verdade é que a pressão estoura no bolso dos pais. Para não ver seus pimpolhos deprimidos, os supostos donos de casa sacrificam o lazer, e até o comer, e entregam o fruto do suor para os meninos.
         Aí vem o Marcelo D2, dizer que apoia a ação da polícia. Apoia, Marcelo?, usando droga? Poxa, meu camarada, isso é que chamo de fanfarrão. O cantor do "legalize já" faz apologia escancarada ao uso de tóxico e vem querer dar uma de bom moço?! Daqui há pouco vai aparecer Adriano - aquele que jogava no Falamengo e que fazia festas com traficantes da Vila Cruzeiro - alardeando que a PM pode contar com o apoio dele! Continuo com a campanha: fique um mês sem fumar e sem cheirar e quebre as pernas do tráfico.

sábado, 27 de novembro de 2010

Campanha para a acabar a guerra no Rio

Atenção, você que acha que a guerra no Rio de Janeiro precisa ter um fim. Desde já, quero dizer que não é a polícia quem resolverá a questão. Nem exército, nem marinha  e nem a aeronáutica. O máximo que essas forças podem fazer é expulsar os traficantes dalí. O poder de resolver a questão está com você. Como? Combatendo o uso de maconha e cocaína, pelo menos. Sim, porque não adianta prender os traficantes cariocas e deixar os consumidores livres para adquirir o bagulho de outros. O viciado comprará droga em São Paulo, na Bahia ou em Porto Alegre. Meu caro, se tem traficante é porque tem usuário, vamos combinar.

Por isso eu peço para você, que é usuário de drogas: passe um mês sem fumar. Passe um mês sem "cheirar".
Peço a você, pai, a você, mãe: impeça seu filho de usar pó, evite que ele fume o "baseadinho" diário.

E não me tenha por radical; por favor. Só tenho ficado irritado quando escuto pais de usuários de drogas se dizendo alarmados com o caos do Rio. Acho um tremendo cinismo quando vejo consumidores de cocaína e de maconha fazendo um discurso de interessados em ver o problema carioca acabar. Fala sério. Se você, paisano, não fuma e nem cheira, deve ter, tenho quase certeza, um parente que faz uma coisa ou outra; ou as duas. Leve esta campanha adiante. Um mês sem drogas, é o que precisamos para quebrar as pernas do tráfico. O resto, paisano, é balela. É esparadrapo na ferida. Depois do resultado a gente avalia o impacto.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Solução para acabar com o crime organizado

          Hoje cedo, enquanto assistia as últimas notícias sobre a pouca vergonha que está acontecendo na cidade do Rio de Janeiro, tive uma ideia. Ela veio quando um comentarista de segurança explicou como os ataques dos criminosos são planejados. Segundo o camarada, os chefes do crime se comunicam por meio de celulares que entram clandestinamente nos presídios. Logo imaginei que a polícia, desorganizada, perdeu de novo. Segundo o especialista, o problema maior está no sistema prisional. Aí meus neurônios entraram em polvorosa.
          Mnha ideia consiste em juntar os quatro poderes em um grande complexo. Como? Contrata-se um arquiteto e um engenheiro dos bons, e não precisa mais do que isso. Se não, vira cabide de emprego. Projeta-se quatro grandes edifícios de, pelo menos, 20 andares dispostos de tal maneira que formem um quadrado. Aí basta uní-los através de extensos corredores. No bloco A, coloca-se o Executivo; no B, o Legislativo; no C, o Judiciário e no D o presídio. Os quatro poderes juntinhos. Só assim a bandalheira pode ser combatida. E ficará barato os trâmites envolvendo o crime.
         Imagine a economia que teremos pelo simples fato de não precisar mobilizar um aparato gigantesco para transportar um preso?! Da cela, vai ao julgamento e depois volta para a cela, a pé. A segurança dispensada aos três poderes legalizados será aproveitada para controlar os presos. Sim, porque enquanto os presídios forem contruídos no meio da pobreza, esqueça a polícia, meu chapa. Para ficar dez, é só construir um anexo que sirva de escola aos filhos dos políticos, e dos magistrados.
               Meu medo é de que os quatro poderes se unam. Aí dane-se o mundo, afinal de contas eu não me chamo Raimundo.  

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Bicho também é gente

          Ontem fui criticado no blog de um amigo meu. No letrasdatorre ele comentou sobre um camarada dele que estava indignado – talvez esse não seja o adjetivo mais apropriado – com o nome que dou a alguns dos meus animais. A razão da crítica era meu terneiro Gerineldo Marquez. O homem não se conforma com um touro carregando nome de pessoa. Aí me desculpe, querido, mas bicho também é gente, como diria a sábia, filósofa e poliglota Cristininha no auge dos seus sete anos de vida. Gerineldo não é, saliento, um bicho bruto. É um exemplar lapidado da raça Jersey. Não é, muito menos, um ignorante; atende pelo nome e tem vontade própria. Não merece, assim, um nome?

         E não coloquei qualquer nome no bovino. Homenageei o coronel Gerineldo Marquez, retratado pelo Nobel de literatura Gabriel Garcia Marquez. E te pergunto, paisano: você conhece algum Rodrigo? E Rafael? Arnaldo, Renato, Fred, Jair, Osório, conhece? Eu conheço uma ruma desses. Um magote de celerados que fuma maconha com o dinheiro dos pais, toma cachaça e volta para casa de madrugada perturbando a família. E quando a mãe reclama da vida que levam, eles mandam-na “pi”. Deixo o "pi" para que o leitor substitua-o pelo palavrão que lhe aprover. Conheço uma centena deles que, ao invés de assistir a aulas – em uma faculdade bancada pelos burros de cargas que os geraram -, tomam cerveja no barzinho mais próximo. Nem por isso eles perdem o direito ao nome que carregam no registro. Poderíamos chamá-los, todos, de potenciais delinqüentes, se já não o são. Não, todos merecem um nome. E meu Gerineldo, que nunca me deu uma cabeçada, que jamais me deu um coice, que acompanha-me sempre que é chamado para uma caminhada no pasto, não é digno de um nome? Fala sério, Valério.

         Invoco os bichos, como já fizeram os Titãs, a saírem dos lixos e invadirem o mundo dos cidadãos civilizados. Só não vou fazer como Eduardo Dusek, e pedir para que troques o teu cachorro por uma criança pobre. Seria hipocrisia minha. Se você quer ter uma criança gerando ou adotando, é uma questão que só diz respeito a você. Mas se desfazer de um cachorro, de um cavalo ou de um bezerro é, no mínimo, burrice.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O mundo tá perdido

          Definitivamente, este mundo não tem mais jeito. Estou em uma clínica, na sala de espera. Localizada no Centro de Florianópolis, tem uma sala de espera digna de... digna de uma crônica. As atendentes, em número de três, aparentam tranqüilidade. Para ouvi-las é preciso estar pelo menos um metro próximo das moças. O granito do piso está apto para receber um colchão e servir de cama. As paredes brancas não têm uma manchinha, sequer. E olha que procurei por uma. E tem uma prateleira que me chamou a atenção. Nela eu pude encontrar jornais do dia e revistas. Diferente da maioria das clínicas que conheço, essa tem revistas atuais. Nada de ler o que ninguém mais quer. Nada de folhear páginas e descobrir, no meu caso com tristeza, que o Flamengo foi campeão brasileiro. Os semanários são os últimos lançados no mercado.

         Não consigo conter o ímpeto e avanço sobre as revistas. Ui, tinha uma Veja na minha frente. Desvio-me das presas afiadas do panfleto e agarro-me a uma que achei mais interessante. Dou uma espiada nas matérias e resolvo pegar outra. É quando percebo que ninguém – isso mesmo, ninguém – visitou a prateleira enquanto eu estava lendo. A sala tinha dezoito cadeiras para clientes. A metade estava ocupada. Foi quando escutei uma voz irritante vindo da parede acima das revistas. Uma televisão exibia oi programa de Ana Maria Braga. E os oito presentes estavam vidrados na global. Tinha um senhor – com seus sessenta e poucos anos – que chegou a deslocar o tronco para a frente, na tentativa de chegar mais perto da tela. Ele parecia beber um vinho do Porto. Outra senhora, ao meu lado, tinha uma expressão fisionômica que lembrava um torcedor que viu o time golear o adversário.

         E tinha também um camarada que sentava com as costas na cadeira. Estava quase embriagado com o programa televisivo. E os jornais, pobres jornais, choravam. E tem gente querendo tomar o mandato de Tiririca alegando que o palhaço não sabe ler!

sábado, 20 de novembro de 2010

O Corinthians será o capeão brasileiro de 2010

Hoje é sábado e quero aproveitar para dar o meu palpite de como será encerrado o campeonato brasileiro de futebol 2010. Faltando três rodadas eu antecipo o campeão, quem vai para a Libertadores e que cai para a segundona.

1 Corinthians 70


2 Cruzeiro 69
3 Fluminense 69
4 Botafogo 62
5 Grêmio 61
6 Santos 58
7 Atlético-PR 58
8 Internacional 54
9 São Paulo 53
10 Palmeiras 50
11 Vasco 49
12 Atlético-MG 46
13 Ceará 46
14 Avaí 44
15 Atlético-GO 43
16 Vitória 43
17 Guarani 41
18 Flamengo 40
19 Prudente 33
20 Goiás 32

 
Quando terminar o campeonato, pode cobrar meus pitacos. Mas que o mengão vai cair, ah, vai.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O brasileirão está pegando fogo

          O retrato do futebol brasileiro pode ser visto na tabela de classificação da série A. Tive a audácia de classificar nossos times em três grupos. E permita-me, por favor, dizer que os times são nossos. Primeiro, dê, paisano, uma olhada na pontuação deles:


1 Corinthians 63
2 Fluminense 62
3 Cruzeiro 60

4 Atlético-PR 56
5 Botafogo 56
6 Grêmio 54
7 Santos 52
8 Internacional 51
9 São Paulo 51
10 Palmeiras 50
11 Vasco 46
12 Ceará 45

13 Atlético-GO 40
14 Flamengo 40
15 Atlético-MG 39
16 Vitória 39
17 Avaí 37
18 Guarani 37
19 Goiás 32
20 G. Prudente 27



         Os três primeiros, pintadinhos de verde, são os únicos capazes de lutar pelo título, como estão fazendo. Qualquer um deles poderia ser capeão que estaria tudo certo. São do mesmo nível. Têm condições, embora não sejam nenhum bicho papão, de representar o futebol brasileiro no exterior.

          Do Atlético/PR ao Ceará, o grupo amarelo, é o grupo dos que não cheiram nem fedem. Tiveram oportunidades de melhorar na tabela, mas na hora H, amarelaram. Não são tão ruins, estão, entretanto, longe de serem competitivos.

          Os oito últimos, os vermelhinhos, estão deixando os torcedores vermelhos de raiva e de vergonha. Eles são o que os boleiros costumam chamar de "baba". O Grêmio Prudente, último colocado, não sei por qual cargas d'agua ficou tão para trás. É do mesmo nível dos outros - ou seja, fraquíssimo. Mereciam cair todos para a Série B. Não vou negar que torcerei para que o time do Guga, o Avaí, escape. Por outro lado darei uma festa se o time do Ricardo Teixeira - presidente da CBF - caia para a segundona. Vai dizer que não sabes por qual time o Teixeira torce?! Vou dar uma dica: é o time que mais tem pênalti marcado - irregularmente - a seu favor. Segunda: é preto e vermelho. Não preciso dizer que é carioca, preciso? O fogo está aceso no Brasileirão. Quatro desses vermelhinho arderão no fogo da Série B em 2011. Torce, torcedor, torce.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Meus heróis não morreram de overdose

          Vamos deixar uma coisa bem clara: meus heróis não morreram de overdose. E posso relacionar o nome de alguns deles, para que possas, paisano, confirmar o que digo:

Tex Willer – Um ranger (espécie de polícia especial) durão que estava sempre pronto a lutar pela justiça. É bem verdade que o cara matava muita gente, mas como dar uma flor para quem lhe cuspia balas de revólver?

Ken Parker – outro justiceiro que, com um rifle na mão, era imbatível. Li, em 1978, o primeiro episódio do cara lançado no Brasil. E tinha uma frase que nunca esqueci: “Onde a bala é a lei, meu gatilho dá a sentença”. Imagine o que diria um herói brasileiro dos nossos dias: “Onde o dinheiro é a lei, eu compro o magistrado”.

Zagor – um herói que vivia na floresta fazendo valer a lei com uma machadinha. Eu, que morei, quando criança, muito tempo em um sítio, talvez me visse na figura do camarada. Imagine um zagor moderno: cigarro de maconha na boca, berrando mais palavrões do que Wanderlei Luxemburgo e dirigindo um carro com o som nas alturas.

Moisés – Sim, Moisés, o legislador hebreu. Eu ficava fascinado com a maneira como ele guiou os israelitas em busca da terra prometida. Na versão de hoje podemos destacar alguns gurus que, com a missão de conduzir as almas atribuladas a um reino de paz, nadam em dinheiro.

Paulo – O apóstolo que deu a vida para levar a religião cristã ao império romano. Hoje tem muito Paulo pregando um Cristo desapegado da riqueza. Tais pregadores, no entanto, não dispensam o carro importado e casas luxuosas.

         Por isso afirmo: meus heróis não morreram de overdose. Lamento quando vejo seguidores de heróis que morreram em tal situação.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Príncipe William?, que nada, quem vai casar é Gerineldo

          Gerineldo está procurando uma namorada. Eu, particularmente, sou contra. Acho o danadinho muito imaturo. Percebo-o muito apaixonado pela Jipão. Essa, sim, ao meu ver, está bem mais preparada para um relacionamento amoroso. Os dois estão sempre juntos. Quem os vê, diz logo que “aí tem coisa”. Não passa, porém, de um namorico pueril. Mas como diz a sabedoria popular, “onde há fumaça, há fogo”. E quem sou eu para contrariar a voz do povo. Falei sobre esse suposto enlace para um colega e ele ficou sem entender nada. Reclamou que não sabia quem era Gerineldo e muito menos Jipão. Veja só.

         Expliquei-lhe que Gerineldo Marquez é o nome de um terneiro Jersey que tenho. Jersey é a raça do bonitão, para te poupar o esforço de pesquisar no Google. Jipão é a bezerrinha da mesma espécie. Ele, cá entre nós, achou estranho eu dar nome aos bois e tratá-los como se fossem gente. Fiquei, juro por tudo que tens respeito, chateado com o posicionamento do camarada. E disse-lhe que os bichos têm, sim, muito valor para este escriba que vos fala. De nada adiantou eu dizer que os nomes que coloco neles são, em geral, significativos – Gerineldo Marquez, por exemplo, é um personagem do livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez. Meu amigo disse que não se interessa por coisas sem importância, apenas por aquelas que têm a ver com o mundo dele. Não ficou claro para mim o que significa “o mundo dele” e tasquei-lhe uma pergunta:

- Sabias que o príncipe William vai casar?

- Claro, com Kate Maddleton – respondeu.

- Conheces William? – Alfinetei.

- Não. – disfarçou.

- E a futura esposa dele, é tua amiga? - Girei a faca na barriga do homem.

- Também não. – cambaleou.

         Aí eu não perdi a oportunidade: “Vem cá, oh companheiro. Tu vens dizer que não se interessa com a história do meu bezerro porque ele não tem a ver com o teu mundo. E a família real britânica, tem?”. O indivíduo recolheu-se a insignificância de um latino portador de complexo do terceiro mundo e tratou de se despedir de mim. Aí eu me lembrei daquela música de Belchior: “Eu sou apenas um rapaz, latino-americano sem dinheiro no banco...”. Aonde já se viu, ignorar Gerineldo, que mora aqui perto, e saber detalhes de um “nobre” inglês!?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Tudo é permitido, desde que escondido

          Retornei a Floripa ontem no fim do dia. Depois de um feriado regado a livros, gado e alguns parentes. E resolvi dar uma caminhada no calçadão da Beira-mar Norte. O vento frio, o céu acinzentado e o vai-e-vem das pessoas indicavam que o inverno, teimoso, está prestes a ser expulso. Falta, certamente, uma primavera mais ousada que lhe diga: “Cai fora, animal”. Mesmo assim, caminhei. Foram cinco quilômetros de passadas largar capazes de ativar as glândulas sudoríparas. E não consigo fazer o passeio sem prestar atenção ao meu redor. Olho para o mar, analiso o movimento da maré e resmungo a cada esgoto que vejo esbofetear o pedaço de Atlântico. Apuro a audição para saber o tipo de diálogo que os passantes trocam. “Não acredito, amiga, que ele foi capaz de fazer isso”, lamenta uma moçoila. “Só tem um jeito: cortar a internet”, sentencia um pai incapaz de educar o filho. “Você é a razão da minha vida”, mente um guri nos ouvidos da namoradinha que aparenta ter seus 14 anos. Um motoqueiro joga a arma que dirige contra um motorista lerdo que não aprendeu que lugar de tartaruga é na faixa da direita. E tem mais isso, mais aquilo e outras cositas.

         Em uma curva, próximo a um tradicional quiosque, vários carros estão estacionado. Um modelo 1000 está com o porta-malas aberto. Ao contrário dos demais, a frente está de costas para o mar. Razoes obvias: dentro da mala tem um casal com as pernas penduradas para fora apreciando a paisagem líquida à frente. Ele tem, calculei, 60 aninhos. Ela, certamente, a mesma idade, embora aparentasse bem mais. Se bem que, por estarem posicionados contrários aos demais motoristas, ela até que podia ser, de fato, mais velha do que ele. E, se era, justificava-se a postura opositora. Em uma sociedade em que tudo é permitido, desde que escondido, e tudo é proibido, desde que seja feito no escuro, o pensar contrariamente é, quase sempre, desprezado. O fato é que os brotos fumavam seus cigarrinhos sem se importar com os atletas de plantão. Não que eu seja a favor do fumo; sou, sim, favorabilíssimo a confrontação de idéias. Venhamos e convenhamos, simpatia, sem essas rusgas seríamos semelhantes a cardumes de tainhas. Falando em peixe, que fome!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Desgraçadas ruas

          Ele vinha a passos apressados no calçadão da Felipe Schmidt, Centro de Florianópolis. Não devia ter mais que dezoito anos. Os cabelos, tenho certeza, não conversavam com um pente havia dias. A pele do rosto quase não cobria o zigomático. A sola do pé já devia estar acostumada ao contato direto com o chão. Será que pesava 50 quilos? Talvez, osso pesa pra caramba. As roupas, ah, as roupas, pareciam ter saído de dentro de uma garrafa. Garrafa suja, diga-se de passagem. Os olhos, entretanto, corriam da esquerda para a direita procurando o que talvez só o rapazola soubesse. Afundados na cavidade ocular, arrastavam a cabeça toda vez que se mexiam. E a cabeleira negra ondulava. Ao vê-lo, ainda de longe, aquela correria do olhar chamou minha atenção. O que buscava?

          O cérebro, de certo, ainda trabalhava, apesar de seu possuidor parecer mais um autômato. Teria pai o tal guri? E mãe? Certamente, não. Alguém projetou irresponsavelmente, alguém pariu. O que não significa que são pais. Claro, é uma questão de achismo. Eu acho de um jeito, outra pessoa pensa diferente e uma outra concorda. Como aqui eu escrevo o que eu acho, pois a crônica é minha, aquele piá não tem pai e muito menos mãe. Se tivesse um pai, leitor e leitora, não estaria naquela situação. E não me tenha por ignorante, muito menos por intolerante. Nem me xingue de insensível, por favor. E se você me perguntar se os pais são os culpados pela decadência de um ser que um dia foi anjo, não penso duas vezes antes de responder: sim, os pais são os culpados. E digo sem pensar porque já pensei bastante.

          Lógico, se os pais do moço que vi na rua morreram quando ele ainda não tinha os primeiros dentes, isento-os de culpa. Se estão vivos, simpatia, deveriam ser responsabilizados. E talvez até estejam arcando com um alto preço pela miséria do filho. Talvez tenham passado as últimas noites sem dormir. Talvez tenham gasto os recursos que tinham na busca de tratamento para o rebento. Não vou dizer “bem feito” porque talvez eles sejam a continuação de uma geração desgraçada. Desgraçada por um discurso que permite aos filhos fazerem o que bem entendem, como se os menores tivessem condições financeiras e psicológicas de arcar com as conseqüências. Desgraçadas com a falta de limites, com a falta de autoridade paterna. Desgraçados pais, desgraçados filhos e desgraçadas ruas.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O presente que chegou atrasado

          Ontem fui a um almoço de aniversário. Aqui mesmo, em Florianópolis. Não vou divulgar o nome do festeiro porque prometi que não o faria. Curioso, como sou, e sem ter muito o que fazer, fui dar umas espiadas nos presentes que o gurizão ganhara. E entre suspiros falsos de “ah, que coisa linda”, ou “quanto bom gosto”, deparei-me – juro por tudo que tu tens de sagrado! – com um despertador. Confesso que fui obrigado a parar. Parar e refletir. Sim, meu espírito se inquietou com o mimo. Não era um despertador qualquer, diga-se de passagem. Tocava diversas músicas. Marcava a temperatura, umidade relativa do ar e o escambau. Tinha, entretanto, uma função que me incomodou: despertar. Meu Deus do céu, pensei com meus cadarços, para que o desgraçado desse despertador vai servir? Gente, o anfitrião estava comemorando 80 primaveras. Agora, seja sincero, qual a utilidade da geringonça? O moço mora na praia, na parte ínsula da capital catarinense. Trabalhou dos 13 aos 60 anos. Há 20 está aposentado.

          Dos 30 aos 60, morou em Brasília. Trabalhava diuturnamente em uma conhecida instituição bancária. Diuturnamente, sim. É que funcionário de banco dorme banco, acorda banco e come banco. Sei que há exceções, mas não era o caso desse piá de quem estou comentando. Na capital federal, cercada de cerrado, acordava todos os dias ao som de um velho despertador. Despertador esse que, por questões óbvias, já se escafedeu. Ao se aposentar, o homem, natural de Campos Novos, no Meio-Oeste do Estado natal do tenista Gustavo Kuerten, lembrou do ilhéu onde fora criado. Combinou com a esposa e comprou um terreno na Praia da Daniela, um balneário de Floripa. A senhora, dada às artes, fez o desenho da casa. Meses depois o ninho estava feito. “aposentadoria, aí vou eu”, realizou-se o ancião.

         Sem hora para acordar, sem hora para almoçar e sem hora para “p” nenhuma. Deixei o p ao seu gosto, leitor. Caso conheças o camarada de quem falo, podes substituir a consoante por aquilo que pensastes. Tenho certeza que ele adoraria. Se fores mais casto, troques o “p” por “porcaria”. A verdade é que o tio da Isa – e é verdade, ele tem uma sobrinha que atende por Isa – não quer nem saber de horário. As poucas vezes que assume compromisso é quando vai à igreja atrasado. Aí vem um desnaturado e oferece-lhe um despertador como presente de aniversário?! Não interessa se a maquininha tem mil e uma funções. A missão principal da megera é despertar. É marcar horário e dizer: “acorda, preguiçoso, você tem obrigações a cumprir”. Vamos combinar, é desumano falar assim com o esposo da Verinha. E fiquei horas pensando na utilidade daquele despertador. E aproveito para esclarecer uma coisa, paisano: no meu aniversário de 80 anos, por favor, não me dê um despertador. Você corre o risco de ser tocado para fora da minha casa com presente e tudo. Ah, tem mais: nem pense em levar um pijama - outra lástima.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um idiota politicamente correto

          E não venha me pedir para ser politicamente correto. Detesto essa expressão. Acho que ela cultua a hipocrisia. E o faz descaradamente. Reconheço, juro por tudo que tens, um hipócrita de longe. Mas só quando ele conversa é que tenho certeza tratar-se de um. O camarada gosta de todo mundo, votou em todos os candidatos da última eleição presidencial e afirma que adoraria ter nascido no nordeste, embora seja gaúcho. Calma, calma, não “priemos cânicos”. Usei o gaúcho como poderia ter dito goiano, carioca ou paranaense. Eu precisava de um exemplo, paisano. Voltemos ao fingido. O mal-acabado ri até de piada sem graça; só para ser simpático. E é capaz de dar os parabéns a um rapaz de 22 anos que acaba de ser pai, embora esteja no seguro desemprego. Já vi um “agradável” iludindo uma senhora que acabara de sair do salão de beleza. Gente do céu, foi terrível. “Seu cabelo ficou divino”, exclamou. E eu, olhando para aquele penteado do tipo miojo, fui mais delicado: “Não quer tentar um estilo Ronaldinho?”
          Outro dia fui a uma reunião aonde o objetivo dos presentes – exceto de um deles - era “descer o sarrafo” no exceto de um deles. Entendeu o jogo de palavras, não é? Opa, já podes ler a Bíblia. Falo assim porque já ouvi trezenas de pessoas dizendo que não lêem o livro sagrado dos cristãos porque não o entendem. Já perguntei para alguns desses: “Quantos livros você lê por mês? Lê Saramago? Lê José Lins do Rêgo? Ou limita-se a passar os olhos em livros de auto-ajuda?” Fala sério, o cara só assiste televisão e vem dizer que a bíblia é difícil de ser entendida! O que ele não sabe é ler. E, diga-se de passagem, pouquíssimas pessoas que seguram uma bíblia sabem ler. Conheço uns três que a leram e entenderam o enredo. Conheço centenas que leram e viraram religiosos. E não preciso afirmar que ficaram intolerantes, preconceituosos e manipuláveis. Voltemos à reunião.

Na hora de malhar o exceto – chamemos assim a vítima – todo mundo era delicado com as palavras. “Não é nada pessoal”, salientavam. E eu com meus botões: “como não é pessoal? Se emito uma opinião, e sou uma pessoa, minha opinião é, e sempre será, pessoal”. O discurso politicamente correto fala mais alto. E todo mundo faz de conta que acredita. Ai de quem ousa contrariar um fingido desses. Lembra daquela história do rei que vestiu uma roupa invisível, contada por Hans Christian Andersen? Todo mundo achou a roupa maravilhosa. Foi preciso uma criança para revelar a farsa. No conto, todos riram da nudez real mostrada pela sinceridade infantil. Se a história fosse hoje, iriam chamar o menino de burro, idiota e grosso. Tudo em nome do politicamente correto.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

É preciso conhecer para se impor

          Quando Zobaida desceu do caminhão, os moradores da área já estavam aguardado-a. O interessante foi ver Jipão, menor do que a moral do petista José Dirceu, correr atrás da novata. E esta, senhoras e senhores, sem saber ainda onde estava, nem o grau de periculosidade da singela Jipão, pôs-se em fuga. Depois de mais de 500 quilômetros de viagem, afastada dos pais, dos irmãos e de tudo quanto é parente, Zobaida estava visivelmente desnorteada. A fome não impedia que ela abaixasse, vez em quando, a cabeça e se alimentasse. Até agora não sei se Jipão agia motivada por um espírito arengueiro – daquele que povoou as cabeças dos dois candidatos a presidência do Brasil -, ou se tudo não passava de mera curiosidade. Digo isso porque até o coronel Gerineldo saiu ao encalço de Zobaida. Logo ele, um pacifista que de belicoso só tem o título militar. Se era por curiosidade ou não, Zobaida não pretendia descobrir, e galopou.

          Enquanto corria, Zobaida foi descobrindo cada canto do novo lar. E quando viu que os moradores marchavam em direção a um platô no centro da propriedade, seguiu-os. Comida especial de boas vindas aos três noviços. É que Zobaida não viera sozinha. Estava acompanhada de mais duas criaturas. Um macho e uma fêmea mais novos do que ela. Só aí que a ruminante pôde perceber a hierarquia do pedaço. Pirata ficou o tempo todo com o melhor lugar na mesa. Mel, essa parecia ser do segundo escalão. Jipão e Gerineldo, tadinho deles, ficaram por fora, feito pensamento de preso. Zobaida não teve dúvidas: - Aonde já se viu! Eu, nascida no lixo, vou perder pra saco sujo! - E tratou de tascar as guampas nos dois. Depois enfrentou a Mel. Não se deu lá tão bem, mas para quem acabara de chegar, foi um bom começo. Com o Pirata ela não teria chance, mas em pouco tempo não precisaria fugir da presença dele, imaginou.

          E eu, enquanto distribuía a ração, fiquei prestando atenção no comportamento dos animais. Parece que eles imitam o homem. Os seria o contrário? Ou será, ainda, que não se trata de imitar, apenas de um modo de agir próprio dos animais?