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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Flamengo vence com ajuda da força

Um médico passa apressado.
- Disseram que não iam matar civis – grita.

Hassan está sozinho junto de uma cama onde se encontra o seu irmão mais novo, com estilhaços no estômago, a cara amarela em delírio.

- Tem que viver, tem que viver – chora Hassan e, entre soluços, conta: - Estávamos em frente à nossa casa, Ali, Jamil e eu. Eu não fui atingido, mas os meus dois irmãos mais novos caíram no chão numa poça de sangue. Este é o Ali, o Jamil morreu na hora. Tinha acabado de fazer 6 anos.

O trecho acima foi retirado do livro 101 Dias em Bagdá. E mostra a crueldade dos ataques americanos sobre a capital Iraquiana. O presidente dos Estados Unidos, numa guerra pessoal, atacou o país com o pretexto de que lá havia armas químicas de destruição em massa. Destruiu a infra-estrutural do lugar, matou inocentes e enforcou Sadan Hussein. Ora, ora, o mais ignorante dos leitores sabe que aquilo foi uma carnificina. Um jornalista francês que havia coberto guerras durante 20 anos, declarou, à época: “Nunca tinha visto na vida soldados com tanta vontade de matar”. Pergunto: George Bush foi julgado pelos crimes de guerra cometidos no Iraque? Claro que não. Quem tem o poder nas mãos aproveita-se da glória que ele lhe traz. E por mais que uns e outros questionem, os tiranos saem impunes. E ainda tem que os defenda.

Ontem, no jogo entre Flamengo e Boa Vista, valendo o título do primeiro turno do Campeonato Carioca, o jogador rubro-negro Renato entrou decidido a bater em quem lhe cruzasse o caminho. O máximo que recebeu como punição foi um amarelo cartão amarelo. No segundo tempo da partida, agrediu um adversário com uma joelhada no peito. O árbitro, para não entristecer a maior torcida do país, fez vista grossa. Vamos combinar: os times se equivaliam em ruindade. Quem tivesse com um jogador a mais, certamente tiraria proveito da situação. Não adiantou a reclamação dos atletas do Boa Vista. Mal da vista, ou da consciência, o árbitro amputou o time de menor poder. E assim a força mostra a sua força em qualquer lugar. No Iraque, no Afeganistão ou no campo de futebol carioca, quem é mais forte mata o mais fraco. E viva a força.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O homem bom

Ah, um homem bom, um homem bom.



Um homem bom está sempre de braços abertos. Para amigos, não-amigos, contentes, descontentes, brancos, pretos, religiosos ou não.


Ah, um homem bom, um homem bom.


Um homem bom carrega sempre um sorriso e não poupa simpatia. Às vezes, até para quem não merece. O homem bom, entretanto, não seria chamado assim se fizesse tal distinção.


Ah, um homem bom, um homem bom.


Um homem bom anda sempre com a guarda baixa, pois não espera maldade nem outras malinagens vindas da parte de quem foi feito imagem e semelhança do criador. O homem bom acredita, acima de tudo, que o ser humano é bom.


Ah, um homem bom, um homem bom.


Um homem bom tem o coração maior do que o de uma mãe. Ora, ora, a mãe, muitas vezes, não comporta outra coisa que não seja fruto do seu ventre. O homem bom, por outro lado, abarca filhos, colegas, vizinhos e até mesmo torcedores rivais.


Ah, um homem bom, um homem bom.


Um homem bom parece não temer mau-olhado. Por isso não faz questão de esconder seus sucessos. Talvez acredite na plena proteção que vem do pai das luzes. E parece não ver os risos falsos, os olhares atravessados, a mão escondida atrás das costas com um afiado punhal. Não, um homem bom só vislumbra a paz, a esperança e o amor. O homem bom é, sem sombra de dúvida, divino.


Ah, um homem bom, um homem bom.


Um homem bom cuida dos seus como a galinha cuida dos pintainhos que trouxe à luz. Está sempre com as asas abertas para abrigá-los. O homem bom é pura proteção. E de tanta responsabilidade para com os outros, muitas vezes falta-lhe um guarda-chuva quando o temporal recrudesce. Não tem problema, ele ergue a cabeça e mata a sede sem precisar pagar a conta d’água.


Ah, um homem bom, um homem bom.


Um homem bom acredita no patrão, no chefe e no companheiro de labor. Veste a camisa da empresa, doa-se até não mais poder. E quando o patrão fecha-lhe as portas, o chefe passa a chave e o companheiro ocupa a vaga que era dele, enormes janelas do céu se escancaram para ele. É que, assim como Maurício babilônia, do livro Cem Anos de Solidão, as borboletas enfeitam-lhe o caminho. E os passos do homem bom, diz a sagrada escritura, “são confirmados pelo Senhor”.


Ah, um homem bom, um homem bom.


Sorte de quem encontra um. Azar de quem o despreza.


Ah, um homem bom, um homem bom.



Ps: Uma homenagem ao meu amigo Paulo Scarduelli, demitido no mês passado da Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Foi ele o idealizador, o criador e o motor de propulsão do curso de Jornalismo desse estabelecimento de ensino.





quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Aha, uhu, o Kadafi é nosso

     Na última terça-feira, o dono da Líbia, o todo poderoso, excelso e divino Muammar Kadafi fez um pronunciamento aonde parecia estar tendo um ataque de nervos. E foi categórico: “Não deixarei a Líbia. Morrerei aqui como um mártir”. Escutei, li e vi trezenas de comentários sobre a frase do cidadão. Achei, confesso, patética. Ora, ora, o cara está há quatro décadas pendurado na teta do Estado – ele e a família, ressalte-se -, e vem querer dá uma de herói?! Mas ele me lembrou alguém bem conhecido do povo brasileiro. Ao assumir mais um mandato como presidente do Senado, o homem sacou a verborragia e disse estar fazendo um “sacrifício pessoal”. Sarney, “mermão”, tu estás pensando que aqui é a Líbia? Kadafi, meu filho, tu estás pensando que a Líbia é o Brasil?

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Kadafi e Pirata, mera coincidência

     O leitor contumaz desse blog já deu, certamente, umas espiadas nas histórias que conto sobre a vida no sítio. E sabe que lá tem uns boizinhos de estimação. Para ser preciso, são seis: Pirata, Mel, Zobaida, Jipão, Gerineldo e Bibigul. Os bichos são danados de sabidos, atendem individualmente quando chamados. Entre os chifrudos, reina uma democracia totalitária. Todos os quadrúpedes são livres para pastar onde bem entenderem, e se quiserem. É claro que para a coisa não desandar para a anarquia, e de acordo com os discursos políticos mais modernos, o Pirata é o líder máximo do lugar. E o que isso significa? Ora, ora, paisano, significa que a liberdade dos liderados vai até aonde não contrarie o manda-chuva. E o pirata, simpatia, não é o presidente por acaso. Não, senhor. Ele tem as maiores guampas entre todos. É o mais alto. O mais forte. O mais ágil. O mais tudo. E sendo o maioral, impôs seu reinado presidencialista.

     “Péra aí”, gritaria o ledor mais afoito, “lá no tal sítio, o sistema é presidencialista ou é um reinado? No início deste parágrafo você falou em democracia totalitária, como explicar essa confusão?” Calma, jacaré, essa questão é, embora não pareça, fácil de entender. É que os conceitos de Presidencialismo, Reino, Democracia e Autoritarismo se confundem. No Brasil, por exemplo, temos um presidente – opa, agora é uma presidenta -, mas o povo gosta mesmo é de uma monarquia. Na prática, quem tem ascendência de grande envergadura na política larga na dianteira na corrida por cargos públicos. Por isso se proliferam as chamadas oligarquias. É o tal “sangue azul” bombando no pedaço, “mermão”. “Vige Maria”, espantar-se-ia o matutinho. E o presidente cobre-se com o manto invisível da realeza. 
 
     E, venhamos e convenhamos, democracia e autoritarismo andam bem juntinhos – feito o rosto e o retrato. Em suma: Pirata é presidente, rei, democrata e autoritário. Por favor, isso não tem nada a ver com o presidente da Líbia, Muammar Kadafi, que está a quatro décadas no poder por lá. É bem verdade que a população líbia pode fazer o que quer desde que ele e os filhos permitam, mas daí a comparar o alvinegro Pirata com o maluco africano é sacanagem. Como diria Tim Maia: Kadafi é um “tremendo quatro-quatro-meia”, isto é, pífio. O homem, entretanto, não é He-Man, mas tem a força. E a força, meus caros, costuma botar todo mundo para correr lá no sítio .


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

101 dias em Bagdá

     Quer ler um bom livro? E quando digo bom, refiro-me a forma como é escrito, na abordagem de quem escreve, na beleza e leveza do texto, e, acima de tudo, no peso do conteúdo. 101 dias em Bagdá é tudo isso. Åsne Seierstad, a jornalista norueguesa autora de O livreiro de Cabul, conseguiu prender minha atenção até o fim das 383 páginas. A moça foi para o Iraque dias antes da invasão do país pelos empregados de Bush filho. E narra, com muita riqueza de detalhes, o dia a dia de um correspondente internacional naquele país. Conta como, na busca pela informação, subornou funcionários iraquianos – um dilema ético da profissão. Sem economizar em personagens, procura mostrar o dilema dos iraquianos nos dias que antecederam a destruição do país. A obra divide-se em três partes: O antes, o durante e o depois.

     O antes é, conforme o termo sugere, como estava Bagdá e seus moradores na véspera dos ataques. A maioria parecia não acreditar na invasão americana. Outros ansiavam pela queda de Saddam, mas não pretendiam ser governados por ocidentais sedentos de petróleo. O durante, mostra os horrores da guerra. O morticínio de inocentes. O massacre a civis e a derrota das forças leais ao tirano que espezinhou a antiga caldeia por mais de trinta anos. O depois é um relato de 4º páginas mostrando o caos gerado no país durante os primeiros dias da ocupação americana. A desilusão dos iraquianos, a prepotência dos conquistadores e a certeza de muito, muito sofrimento.

Vale a pena ler o livro.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Eh, chororô!

Vamos combinar: a torcida do Botafogo é chegada num choro. E a direção do clube também, diga-se de passagem. Basta o time perder uma semifinalzinha de campeonato carioca para o time da macumba que as lágrimas vêm a baixo. Chamo "time da macumba" devido ao preto e ao vermelho da camisa dos herdeiros de Zico. E essas cores predominam nas oferendas a exu. Com ou sem macumba, com ou sem exu, o Fogão despediu-se do primeiro turno do Cariocão. Em uma tarde inspiradíssima de Ronaldinho Gaúcho - deu dois passes certos, um drible e um chute a gol - e contando com os revólveres descalibrados dos artilheiros alvinegros, o time da gávea levou a melhor nos pênaltis.

E bastou o apitador dar a última soprada no instrumento de trabalho para que os primeiros "buá, buá, buá" fossem ouvidos. "Juíz ladrão", esbravejou um. "Não deu um pênalti escandaloso daquele", ressentiu-se outro. A bronca era a mesma: o árbitro teria deixado de marcar uma falta cometida por um defensor do adversário dentro da área. "Ele tirou a bola com a mão", berrou um botafoguense exaltado. O árbitro, com aquele sabedoria digna da profissão e com um discernimento que só o juíz de futebol possui, perscruta a mente do flamenguista, analisa a intenção do atleta e constata: "Foi sem querer". Eu, que não sou torcedor do Botafogo, tive vontade da chamar o soprador de apito de "filho da ...", como sou um cara educado, limitei-me a dizer que "se tivesse sido na área contrária, teria sido pênalti claríssimo". E isso aconteceu no finalzinho do clássimo, "no apagar das luzes", como diriam os mais antigos do que eu.

Meus amigos, o árbitro não marcar pênalti é admissível. "Errar é humano", alardeia um bobão, como se ele acabasse de criar a frase repetida há séculos. O que não dá para suportar é um torcedor flamenguista que trabalha como comentarista  de televisão querer provar que não foi pênalti. O que devo esperar, no entanto, daquele comentarista de futebol? Imparcialidade?, sabedoria?, inteligência?, coerência? A verdade é que o jogo foi para as cobranças de tiros livres diretos e o arqueiro rubronegro levou a melhor. Sheid, meu cachorro, disse-me que, se ele fosse o presidente da República, ordenaria que todos os árbitros ajudassem o Flamengo a vencer. Assim sendo, o povo ficaria feliz da vida e esqueceria os mandos e desmandos da administração pública. Que chorem as minorias, que chorem os botafoguenses.


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Descaso com a Daniela

Nos mês de janeiro, florianópolis é invadida por um mundo de turistas. As televisões, as rádios e os jornais não falam em outra coisa. As estradas em direção às praias, é um furdunço só. As águas frias são invadidas por seres ávidos de um banho salgado. A prefeitura, no entanto, assoberbada com tanto serviço- só pode ser- não consegue estruturar a cidade para receber os visitantes. A praia da Daniela, a melhor de Floripa, parece ter sido abandonada a própria sorte. Para completar, as enchentes que sacudiram o Estado, trouxe muita sujeira para o mar. Bastou uma borrasca e a praia ficou imunda. Deu dó, ver cinco funcionários da companhia de limpeza tentando, numa missão impossível, remover o entulho.

Dá para criar peixe. Pensando bem, será que a ideia é essa?!

Que bela recepção hem, meu chapa!

Pode escolher pisar na lama ou no lixo

Cinco funcionários para limpar quase dois quilômetros de praia?


A rosa é uma contribuição dos macumbeiros


O barquinho também
 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Diálogo sobre a paz



- O que é a paz, rapaz?


- Sei lá, deve ser uma daquelas coisas das quais todo mundo fala, embora não consiga dizer o que realmente é.

- Mas tem que ser um negócio muito importante, não é? Porque é assunto comentado nos cinco cantos do mundo.

- Que é comentado, sei que é. Só não sabia que era nos cinco cantos do mundo, como você diz. Aliás, nunca ouvi falar que o mundo tem cinco cantos.

- Mas já ouviu que tem quatro, não é?

- Isso sim.

- Quer dizer que o mundo é quadrado?

- Não, o mundo é redondo.

- Pois então. Se um ignorante pode dizer que o mundo tem quatro cantos, porque eu não posso afirmar que tem cinco?

- É, pensando dessa maneira...

- Mesmo assim, continuo sem saber o que é a paz.

- Um colega meu disse que paz é ausência de guerra.

- Essa resposta eu creio que ele copiou do governo dos Estados Unidos da América.

- Eu acho que paz é o mesmo que tranqüilidade espiritual.

- Hum, isso cheira a religião.

- Mas a religião é um elemento comum a todos os povos.

- Não sei, não. Acho que você está confundindo religião com religiosidade.

- Tem diferença?

- Claro; religiosidade é a carência que o ser humano tem de entrar em contato com a divindade, alguém que age numa dimensão mais elevada. Religião, por outro lado, é a codificação da religiosidade, feita por quem tem interesse em dominar seus pares.

- Agora você vai dizer que Jesus Cristo não tinha religião!?

- Isso mesmo. Tanto é que ele não se preocupou em criar uma cartilha para reger a vida dos seus seguidores.

- Mas, e a Bíblia?

- Bem, a Bíblia já existia antes de ele vir ao mundo. Depois dele ela foi apenas acrescida.

- Sei, havia o Velho Testamento e depois criaram o Novo Testamento.

- Isso. Vale ressaltar que o chamado Novo Testamento não era, para o cristianismo que surgia, um trilho. Era uma trilha. Até porque, Jesus mostrou-se implacável com a literatura religiosa como cabresto. Chegou, inclusive a dizer que “a letra mata”, referindo-se aos textos bíblicos.

- Você acha, então, que os religiosos usam a Bíblia para manipular as pessoas?

- Claro que sim. Eles aproveitam que a grande maioria não lê, e entre os poucos que sabem ler, só alguns entendem o que lêem. Para ser sincero, conheço pouquíssimos líderes religiosos que sabem ler e interpretar um texto.

- Fala sério!

- É verdade. Vou, no entanto, continuar minha pesquisa sobre a paz. Caso conheças quem queira falar da paz, é só me avisar. O que eu tenho apurado é que os judeus consideravam a paz como uma dádiva divina. Tem, inclusive, um texto bíblico que diz: “Que Deus sobre ti levante o rosto. Que ele tenha misericórdia de ti e te dê a paz”.

- É, a paz é algo divino, mesmo. Vou estudar o assunto melhor, depois te digo o que entendi da paz.

- Valeu.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Polícia transgressora?!

     Tá no artigo 20, I, do Código de Trânsito Brasileiro: Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das rodovias e estradas federais, cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições;”. É que em um Estado de Direito, o Estado deve respeitar as leis que ele próprio cria.
     Tá no artigo Art. 22. "Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, no âmbito de sua circunscrição: I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito das respectivas atribuições;

Agora, paisano, dê, por favor, uma olhada na foto abaixo:



Vamos aproximar um pouco mais:



     Olhe onde a viatura policial estacionou. Eu estava chegando na Receita Federal, no Centro de Florianópolis, e não encontrei vaga para meu veículo; tive que parar longe e ir caminhando até o prédio. Quando cheguei, vi o carro da Polícia se esbaldando em cima da calçada. Acompanhei o sargento que desceu da viatura. Ele entrou no prédio da Receita, pegou uma senha e esperou tranquilamente para ser atendido. O pior de tudo é que o quartel da Polícia fica em frente a Receita. Bastava o fardado ter parado do outro lado da rua - em seu quartel - e atravessado a via pública. Não, preferiu o lado mais fácil, o lado do infrator.

     Que mau exemplo, autoridade

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A realidade não é colorida

A realidade que eu descobri
É bem diferente da que me mostraram
Nos bancos dos jardins.
Onde os artistas contracenam
Em meio a rosas, orquídeas
Violetas e jasmins.
O mundo me sorriu em preto e branco
E pelas ruas das cidades, o que eu vi?
Pedaços de pessoas procurando
Quem sabe ser feliz.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

O Pânico, a novela e a bunda

Ah, se eu pudesse voar...



Voaria para bem longe.


Fugiria do Brasil.


Fugiria dos deputados, dos prefeitos e do vereador que os traiu.






Daria adeus ao ministro do turismo.


Aquele da orgia no motel.


Iria trabalhar para o Julien Assange.


Mesmo que para isso eu tivesse que fugir das gangues.






Imagino-me livre desse cabaré.


Que graças à gente de bem como o Sarney está em pé.


Vejo-me dando adeus a essa TV imunda.


Que tem como ponto forte o Pânico, a novela e a bunda.






Ruas alagadas, nunca mais.


Ladrão saindo pelo ladrão, jamais.


Passaria uns dias na Itália.


Na Itália, não, pois rima com canalha.


 
 
E Berlusoni se esconde por lá.
 
Pense num rapaz desmoralizado.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Nízia Floresta não é a burguesia, mas fede

     Vamos supor que vossa senhoria seja convidada a votar na performance de alguém. Chega às vossas mãos uma ficha contendo três opções para você optar por uma: ótimo, bom e regular. Acontece que você achou o desempenho algo assim... sofrível, horroroso, uma lástima. Como é que você vai fazer para opinar? Se marcar ótimo, estará mentindo; se assinalar bom, também; optando por regular, nem assim estará dizendo o que pensa. E agora, José? Pois foi assim que me senti ao acessar o site da prefeitura municipal de Nízia Floresta, cidade localizada a 35 quilômetros de Natal/RN. Vi uma enquete onde o internauta poderia avaliar a administração da prefeitura. E grifo “prefeitura” com p minúsculo porque não tenho um p menor. As alternativas eram exatamente as mesmas que relacionei acima. Gente do céu, eu estive lá. É uma tristeza. O prefeito, conforme servidores públicos me confidenciaram, “só aparece na cidade uma vez por semana”. Fiquei horrorizado e perguntei a um funcionário: - Mas o prefeito não mora aqui?- E ele ironizou: - Ta brincando rapaz, ele só frequenta esta cidade no ano da eleição.



- Qual o salário do prefeito?- perguntei.

- Não posso dizer não "sinhô". – respondeu.

- Mas essa informação é pública -, retruquei.

- Ah, é? Então... é doze mil –



     Nossa senhora das botijas escondidas! O camarada recebe uma dinheirama dessas por um emprego e não precisa comparecer ao local de trabalho?! A cidade tem um litoral de praias belíssimas, as casas de veranistas multiplicam-se como formigueiros. Imagine, seu moço, o quanto a prefeitura arrecada de IPTU! A menos de vinte quilômetros distante da praia, esconde-se a pequena sede do município. As ruas são fétidas. Os esgotos correm por cima da pavimentação. O município tem 23 lagoas e abastece várias cidades do Estado potiguar. Mesmo assim, o lençol freático fica à mercê de pútridas lamas que serpenteiam pelo meio das ruas. Ora, ora, amado mestre, pois não é que o prefeito asfaltou certas ruas e deixou de fazer o saneamento básico? Ouvi falar, mas não creio que seja verdade, que o prefeito, que está no quarto mandato, é engenheiro. Não, não creio que um engenheiro seria tão irresponsável. O lugar da cidade melhor cuidado é o cemitério. Verdade, é limpo, pintado, e parece pronto a receber aqueles que não suportarem a catinga das ruas. Agora, vamos combinar, o cara ser prefeito de uma cidade e não ter coragem de morar nela, já diz tudo.


As barracas da feira são emolduradas pelos esgotos

A falta de esgoto permite que a frente da escola fique assim

Ainda bem que a tela não reproduz o cheiro

Bem vindo ao cemitério


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Édipo sem complexo

    Quem nunca ouviu falar no Complexo de Édipo? Quem não conhece o tal complexo, de certo tem ideia de quem seja Édipo. Um bom leitor tomou conhecimento do “pé inchado” – significado, em grego, do nome Édipo – certamente por intermédio da Odisseia de Homero, ou pela leitura de uma obra de Sófocles. Um brasileiro autêntico, sabe alguma coisa do rapaz porque assistiu a uma novela da emissora de Roberto Marinho. E se você, amizade, é admirador de Sigmund Freud, é sabedor da interpretação que a psicanálise freudiana concebeu ao episódio mitológico. Nem novela Global, nem elucubrações libidinosas do famoso austríaco me interessam. Importa-me, mesmo, é a atitude de Édipo ao descobrir que desposara a própria mãe: vazou os próprios olhos e fugiu de Tebas.

     Resumindo a história: Édipo era filho dos reis de Tebas, Laio e Jocasta. Laio foi informado, através do oráculo, que o menino o mataria e casaria com a própria mãe. Não teve dúvidas, mandou que o pimpolho fosse abandonado em um bosque, pendurado pelos pés, para morrer à míngua. Encontrado por pastores, Édipo foi levado a Corinto e adotado pelo rei Políbio. Cresceu sem saber nada sobre seus genitores. Mais tarde, ao ser chamado de filho postiço de Políbio, deixou Corinto. Em sua viagem, teve que duelar com um homem que não sabia quem era. Matou Laio. Chegando a Tebas, desvendou o segredo da Esfinge que atormentava os tebanos e recebeu como prêmio a mão da bela viúva de Laio. Depois de alguns anos, soube que Jocasta era sua mãe. Édipo, então, vazou os próprios olhos e se foi de Tebas.

     A atitude de Édipo, passada batida por muitos, que me chama a atenção é o código de ética dele. Hora, paisano, Édipo não cometeu crime algum quando casou com a mãe. Ele não sabia de quem se tratava. Jocasta foi um prêmio que ele, como benfeitor dos tebanos, recebeu. Mesmo assim, sentiu vergonha. Ele não fez nada de ilegal; sentiu-se, entretanto um imoral. Ontem um deputado americano, Christopher Lee, renunciou ao cargo na Câmara de Representantes dos Estados Unidos. Não roubou, não matou e nem cometeu crime previsto em lei. Foi, contudo, imoral. E renunciou. Bem que nossos homens públicos, como José Dirceu, Antônio Palocci e Pedro Novaes – ministro do turismo que fez uma orgia em um motel maranhense e botou a conta para a câmara pagar -, só para citar alguns, poderiam aprender com Édipo e fugir para o Afeganistão.



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Hê, boi

     Vou te falar, paisano: se tem um ser civilizado no planeta, esse tal é o boi. E quando falo boi, não me refiro ao touro castrado. Não. Isso é para quem é mais conhecedor da lida campeira. Boi, no caso deste post, é o macho da vaca. Aí tem o boi grande, o boi pequeno, o boi cargueiro e o boi de corte. É tudo boi, entretanto. É como homem. Quando se fala em homem não tem essa de heterossexual, homossexual ou torcedor do Flamengo. Homem é homem, como diz o filósofo e cantor cearense Falcão. E boi é boi, independente da crença. A verdade é que o quadrúpede é exemplo de civilidade. Ex-pli-ca-rei.


     Olhe, simpatia, uma fila de chifrudos. Eles seguem em passo cadenciado, um após o outro na direção escolhida. Você não verá, nem que a vaca tussa, um boi abestalhadamente parar e atrapalhar os demais. Nada disso. Tu não verás, amizade, um deles no meio de um movimentado calçadão parar abruptamente para observar uma vitrine e quem vir atrás ter que esperar o que o maluco, ou a maluca, quer fazer. Com o boi não tem isso. Um não atrapalha o outro. Um boi não atravessa uma frenética rua com o celular na orelha esquerda. Ele sabe que pode criar problemas para seus pares.

     Aprendo, cada dia mais, com os bois. Já pensei, juro que pensei, em sugerir a um deputado federal que eles façam um curral em frente ao Congresso. E vou dar a ideia aos vereadores para criarem um projeto de lei obrigando todos os estudantes da rede pública a visitarem regularmente uma fazenda. Só assim poderemos atingir um estágio satisfatório de civilização.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sarney, o matador

     Sarney comandará o Senado brasileiro por mais um mandato. É o quarto. Zé do Sarney, como era conhecido ao iniciar a vida pública no início da década de 1950, é, sem dúvida, o homem certo para o cargo certo. Um leitor mais ácido diria: "Todo Senado tem o líder que merece". José Ribamar Ferreira de Araújo Costa nasceu em Pinheiro, Maranhão, em 24 de abril de 1930. Como fazem muitos filhos de "nobres", pegou carona no nome do pai. Passou a assinar como José Sarney. O pai do herói chamava-se Sarney de Araújo Costa. Isso me lembra as tantas oligarquias que se perpetuam na administração do dinheiro do contribuinte brasileiro. Os Alves, no Rio Grande do Norte; os Bornhausen, em Santa Catarina; Os Carneiros, em Alagoas; e os Neves, em Minas, que investem pesado na busca do trono da Nação - vem aí, Aécio. Sarney é um escolado. Sim, senhor. Conhece, como ninguém, os partidos políticos tupiniquins. Jogou em todas as posições. Foi juniores do PSD, subiu ao profissional na UDN, jogou de centroavante na Arena e foi eleito "o melhor do brasil" (com letra bem minúscula, mesmo) atuando pelo PMDB.
     Um artilheiro nato, diriam os mais futebolísticos. Um matador, afirmariam os mais exaltados admiradores do esporte Bretão. Sendo ele quase dono do Maranhão, e estando o Estado natal do moço com IDH semelhante aos dos mais pobres países africanos, constato: realmente, Sarney é um matador. "A César o que é de César", como disse Jesus Cristo, Zé do Sarney é um ícone da democracia verde-e-amarela. E assumirá a direção do Senado por ter sido escolhido pelos colegas de profissão. Tudo bem que por onde eu passo escuto o povo dizendo impropérios contra o clã Sarney, mas isso não conta. Afinal de contas os Senadores gastaram muito dinheiro para assumir uma cadeira na casa e precisam de conchavos para fazer valer o retorno do investimento. Ao povo bastou votar. E fez isso de mãos desamarradas. Se bem que alguns receberam R$ 20,00, o que não deixa de ser uma algema. Claro que qualquer Senador dirá que não comprou voto, que é um homem honesto e que está lá para defender os interesses da nação. Como reza o aforismo: "Me engana que eu gosto". Só me resta bater palmas para Sarney e seus comandados. Eu, do meu lado, vou desligar esse laptop e assistir Ali Babá e os 40 ladrões, quem sabe assim esquecerei nossos políticos.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O salário do palhaço

     Há pouco, recebi um email informando o valor que o deputado Tiririca vai custar aos cofres públicos.


Salário: R$ 26.700,00

Ajuda Custo: R$ 35.053,00

Auxilio Moradia: R$ 3.000,00

Auxilio Gabinete: R$ 60.000,00

Despesa Médica pessoal e familiar: ILIMITADA E INTERNACIONAL (livre escolha de médicos e clinicas).

Telefone Celular: R$ ILIMITADO.

Ainda como bônus anual: R$ (+ 2 salários = 53.400,00)

Passagens e estadia: primeira classe ou executiva sempre

Reuniões no exterior: dois congressos ou equivalente todo ano.
Aposentadoria: total depois de oito anos e com pagamento integral.
 
     Achei interessante como a mensagem foi redigida. Interessante é força de expresão. Achei mesmo foi ridícula. Ué, Tiririca é o único parlamentar que mamará na teta robusta da Nação? Gente do céu, quem votou no palhaço o fez por revolta. Ou tem algum quadrúpede que pensa diferente? Aí vem um engraçadinho criticar quem votou no circense, enviar mensagens detalhando o salário de Tiririca e ridicularizando eleitores e eleito. Até parece que Tiririca é o responsável pelas mazelas que infestam o Brasil. Não, paisano. Todos os deputados brasileiros ganham o mesmo. É por esse motivo que eles investem cifras astronômicas para chegarem aos cargos públicos. Ou você acha que a política é um sacerdócio? Ou você pensa que o empresário - para citar uma categoria - gasta uma fortuna na campanha para, depois, ajudar o povo? Fala sério, jacaré. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, a mecânica da política é a mesma: investimento pessoal. Agora, vamos combinar, se os deputados ficassem saciados com a dinheirama acima detalhada, seria, dos males, o menor. As falcatruas que eles fazem para beneficiarem A ou B, a sujidade como votam emenda e os assaltos ao erário é que fazem nosso país sangrar. E isso, meu bem, não é coisa de palhaço, é de bandido.