Utilização do conteúdo

Autorizo o uso do material aqui produzido, desde que seja dado crédito ao autor e não tenha uso comercial

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Acabou o inverno


     O inverno acabou hoje. Isso mesmo; mais precisamente às 11h40. Caso algum mal-acabado tenha dito algo diferente, asseguro: errou. Ou você acha, simpatia, que a estação da neve em São Joaquim se foi no dia 22 de setembro? Necas trepas de pitibiriba, jacaré. Isso é papo de professora do primário. Acho até que, hoje em dia, só a piazada da pré-escola cai nessa conversa. Um leitor mais apegado às formalidades dirá: “negativo, seu Gilead, é uma questão de subdivisão do ano baseado em padrões climático”. Como diria este camarada aqui quando criança – pois agora aprendeu a conjugar quase dez verbos -: péra, péra, péra.  Se as estações são baseadas no clima, no meu querido nordeste só tem duas, a sem chuva e a com um pouquinho de chuva.

     Lembro como se fosse hoje o dia em que estudei, pela primeira vez, essa matéria esquisita. Imagine, meu amigo, quarenta crianças dentro de uma sala, quase quarenta graus lá fora, e uma senhora de meia idade explicando que são quatro as estações do ano. Até ali, as únicas estações das quais eu ouvira falar eram as de trem. E bastava. Agora vinha aquela tia me empurrando mais inutilidades na cachola. Quase não dormi naquela noite. Internet não tinha. Ora, quatro décadas atrás não havia nem computador. Se bem que, no sítio onde eu morava não tinha energia. Tivesse energia e um computador vagabundo eu teria virado morcego, até achar sentido para o que a pedagoga ensinara. Naquela noite quase insone, decidi: “vou fingir que acreditei no que a teacher disse, embora eu saiba que é uma invenção de adultos”. E me perguntei: “será que quando eu crescer vou entender o que é esse negócio de quatro estações?”.

     Hoje em dia, analiso o que ouço a partir da minha realidade. Não adianta o telejornal dizer “às 6h04 desta manhã começou a primavera”, se eu preciso, antes de subir na motocicleta, botar uma camiseta de algodão, outra de lã por cima e depois a jaqueta. Sem falar na luva, claro. Nesse caso, amizade, para mim continua inverno. Hoje, entretanto, foi diferente. Saí de casa de calça jeans, camiseta e tênis. Agora, sim, acabou o inverno que demorou quase oito meses.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O parlamento não mudou nada


“Nós representamos uma comédia parlamentar”.
Quem disse essa pérola? 

Foi Joaquim Nabuco em seu discurso parlamentar feito em 22 de março de 1879.

Ontem, em frente a assembleia legislativa de Santa Catarina, o presidente do Sindcomb (Sindicato de Donos de Postos de Combustíveis), Ângelo Sombrio, fez um desabafo público que me fez lembrar o falecido Nabuco:
“É preciso que os políticos parem de roubar”. 

Mudou alguma coisa nesses mais de 130 anos?

Ângelo discursando na frente da Alesc

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Com vocês, Matos Costa


     Chama-se Matos Costa. Capitão Matos Costa. Não vou mentir, ele não é nem um Alain Delon. Está longe até de ser um DiCaprio. Aproxima-se de um Grande Otelo, apesar de não ser afrodescendente. Tivesse o chifrudo nascido dez minutos depois, seria apenas dois olhos. Dois enormes olhos. Pesa pouco mais de cem quilos. Para quem tem um ano, apenas, não é um caso perdido. O Jersey é assim mesmo. É maior do que um espirro de gato, sim. É calmo, pelo menos. Mais um traço do gado proveniente das ilhas Jersey. E é puro, o danado. Chegou para comandar os quadrúpedes do Três Platôs. Assumiu o posto que pertencia ao Coronel Gerineldo Márquez. Recebeu o nome de Matos Costa em homenagem ao Capitão do exército brasileiro que defendeu os revoltosos da Guerra do Contestado no sertão catarinense dos anos 1910. O Matos Costa chifrudo, assim como foi o fardado, é um pacifista. Se bem que teve um embate violento com Jipão. Briga pelo poder, ressalve-se. Lamento profundamente o Jornal Nacional não ter divulgado a chegada de Matos Costa ao sítio. Preferiu contar coisas que não interessam aos brasileiros – conflito na Líbia, por exemplo. Até porque não temos ao menos como averiguar se essas histórias são verdadeiras. Há quem jure de pés juntos que é tudo uma farsa para manipular os incautos telespectadores. Euzinho aqui, que não quero correr o risco de permitir que coloquem inverdades na minha cachola, há muito deixei de assistir telejornais. Prefiro coisas mais reais, mais próximas da minha realidade, mais comprováveis. O início do reinado de Matos Costa no Três Platôs, por exemplo.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Semana Contestada

Aê, paisanos, a Semana Contestada foi assim: 

Semana  Contestada

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Hoje iniciei aquela que estou chamando de Semana Contestada. Depois de um ano que estive aqui - escrevo agora de Caçador -, tirei estes dias para revisitar alguns locais aonde estive e conhecer outros que ficaram faltando conhecer na expedição que fiz em setembro de 2010.

Semana no Contestado ( 19-23/09/11)
Objetivo: busca de informações para dar suporte ao livro que estou escrevendo  sobre o Contestado, a ser lançado em 2012 nos 100 anos do Contestado.
Saída de Florianópolis: 5h20.
Temperatura: 17º
Chegada em Caçador: 18h10
Temperatura: 17º

     Quando saí ainda estava escuro. Em Santo Amaro da Imperatriz começou uma garoa fina. Na altura de Rancho queimado a cerração cobria a Serra Geral. Cheguei em Lages às 8h05 e o termômetro indicava 12º. Aviso logo que desta vez vim de carro. O tempo chuvoso dos últimos meses foram desestimulante para uma viagem de moto. Passei por Curitibanos por volta das 9h e segui para Frei Rogério. Fui por uma estrada de terra aberta pelos tropeiros no século dezenove. Passava das 10h30 quando estacionei na frente da casa do historiador Pedro Felisbino, em Taquaruçu. Depois do almoço - feito sempre no capricho pela esposa dele - fomos ao local onde ficava o antigo reduto, ao pequeno museu do jagunço (mede 48m2) e subimos até uma campina do outro lado do rio taquaruçu - foi dela que as forças oficiais atacaram a antiga cidade santa dos caboclos. Ainda deu tempo de ir até a localidade de Linha Morais, no município de Monte Carlo. Lá, conheci Alzira Prates, cujo bisavô foi um dos poucos sobreviventes do massacre de Taquaruçu. Tomaz Palhano, o bisavô da professora, combatera ao lado de José Maria no entrevero do Irani. Às 17h rumei a Caçador. Fui recebido com um abraço pelo Padre João Casara - reitor do seminário diocesano.




Algumas fotos do primeiro dia da Semana no Contestado:

Vestígio do caminho que ligava o antigo reduto de Taquaruçu a Curitibanos


Pedro Felisbino em frente ao cemitério usado pelos moradores de Taquaruçu até meados do século passado
Túmulo no antigo cemitério
Visão que os militares tinham do reduto quando fizeram a matança
Parte do reduto está sob o açude
Aqui jaz Taquaruçu
Casa de caboclo - Taquaruçu
Casas de caboclos - Taquaruçu

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Semana Contestada

Para quem quer continuar me acompanhando na Semana Contestada, o link é:
http://herdeirosdocontestado.blogspot.com/

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Semana no Contestado

Olá.
Durante toda esta semana estarei no Meio-Oeste de Santa Catarina, na antiga região disputada por Paraná e Santa Catarina no início do século passado. Em setembro de 2010, estive por aqui - já estou escrevendo de Caçador - para mapear os locais de combate durante a chamada Guerra do Contestado.

Para acompanhar, o linque é:
http://herdeirosdocontestado.blogspot.com/2011/09/semana-no-contestado.html


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Bater ou não na mulher, eis a questão


     Ela trabalha na casa de um amigo meu. E diz adorar o neto.
- Aquele alemãozinho é muito inteligente. Vai fazer quatro anos e já diz cada coisa.
E continuou: “outro dia ele segredou que não era para contar certas coisinhas que a mãe dele faz senão o pai bateria nela”. A esposa do meu colega entrou na conversa: “o marido bate nela?”. Adalgisa, chamemos assim a diarista, arrematou: “pois é, podia bater escondidinho, né?”.
- Não, Adalgisa, não é para bater nem escondido. Homem não deve bater em mulher -, retrucou a senhora.
- Ah, mas ela merece -, obstinou-se a da limpeza.

     Bate não bate, a conversa se esvaiu em menos de cinco minutos. Quando a dona da casa saiu de perto, Adalgisa olhou para mim e resmungou como se eu fosse cúmplice: “tem que bater, sim”. Eu, sem argumento suficiente para mudar a ideia de uma senhora que um dia também já apanhara do esposo, emudeci. E olhe que estou falando de uma situação ocorrida em Florianópolis, no sul maravilha.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Jesus Cristo, o cidadão e o político

     Queremos um Brasil melhor? Queremos um Brasil menos corrupto? Queremos um Brasil mais transparente? Queremos um Brasil mais justo? Temos um preço a pagar para que isso venha a acontecer. Queres pagar para ter um Brasil melhor? Queres pagar para ter um Brasil menos corrupto? Queres pagar para ter um Brasil mais transparente? Queres pagar para ter um Brasil mais justo? Ou és daqueles que acham que quem faz o país são os deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes? Que só eles precisam ser melhores, menos corruptos, mais transparentes e mais justos? Se pensas assim, podes parar a leitura por aqui e continuar no teu mundinho do tamanho de um grão de mostarda e tão cheiroso quanto o vômito de um cão. Podes continuar criticando os políticos e fazendo tuas maracutaias em nível, digamos assim, quase inocentes. Xingue a presidente Dilma Rousseff por proteger  supostos bandidos e defenda com todo fervor teu filho, teu neto, teu parente ou teu amigo quando ele cometer “pequenos deslizes”. E quando chegares diante do espelho, após mais um dia medíocre, olhe no grão dos teus olhos e diga “não passo de um FDP”. E cuspa, caso coragem tenhas, na tua imagem recém saída do chuveiro quente.

     Tenho sérias dificuldades em me apropriar de textos sagrados para defender meus pontos de vista. Sejam esses textos da Bíblia, do Alcorão ou de qualquer outra religião. Vivendo, entretanto, em um país dito cristão, permito-me uma exceção e conto o que Jesus Cristo disse sobre o assunto que ora escrevo: “Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito (Lc 16:10)”. Sensacional o camarada. Você, leitor, é católico, evangélico ou simpatizante das ideias do Cristo? Ou concordas com quase tudo que ele pregava, menos com aquilo que te contraria? Eu, particularmente, concordo em gênero e grau com o messias judeu. E nas muitas vezes que tombo, o faço por ter ignorado um pequeno escorrego anteriormente dado.

     Como é que queremos um Brasil melhor se não conseguimos ser justos e transparentes nas nossas igrejas? Outro dia, um senhor aqui de Floripa me contou a seguinte história: o responsável pelo coral da igreja que ele frequenta sabotou uma das integrantes para poder substituí-la pela amiga dele. Meu Deus do céu, é muita mesquinharia.

     Moras em condomínio, amizade? Tu achas que a administração de lá trabalha para todos? Duvido. Duvido com um D do tamanho do maracanã. Assim como no alto escalão do Governo Federal, uns poucos tomam o poder e legislam em causa própria. “Mas no meu condomínio tem assembleia, Gilead”, brada um ingênuo. Bobagem, jacaré. As decisões foram tomadas anteriormente nos bastidores, nas reuniões disfarçadas, nos emails trocados, nos telefonemas dados entre uma meia dúzia de três ou quatro condôminos discípulos de Paulo Maluf. A assembleia nada mais é do que uma forma hipócrita de legitimar a vontade de uma minoria. Exatamente como na política partidária. Como diria o filósofo popular: "é um jogo de cartas marcadas".

     E queremos um Brasil melhor, menos corrupto, mais transparente e mais justo? Conta outra vai. O político nada mais é do que um cidadão que se acostumou com deslizes.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O cantor solitário


     Ele é solitário; faz-me lembrar um homem honesto dentro do Congresso Nacional. Com a diferença que o político sério não consegue fazer nada. O personagem desta crônica, no entanto, trabalha incansavelmente, alheio ao que acontece no mundo ao redor do dele. Sim, o cara a quem me refiro tem seu próprio planeta. Mede cerca de oitenta centímetros quadrados o mundinho do moço. Sua casa, seu mundo. Nada mais lhe interessa. Metódico, trabalha de hora em hora. Uma da manhã - ele aparece na varanda da casinha de madeira em que vive e cumpre sua missão. Duas da manhã – quem está acordado pode testemunhar que o ermitão deu o ar da graça e labutou. E faz isso durante as vinte e quatro horas do dia, incansável feito um torcedor do Corinthians. Falando no time paulista, acho que o danado será campeão brasileiro por saldo de gol. Ao término do campeonato, terá o mesmo número de pontos de Vasco, São Paulo e Botafogo. Levará o troféu por ter marcado um gol a mais. Sim, do jeito que o Brasileirão está...

     Pontualíssimo; parece um trem inglês. Eu, particularmente, gosto de mirar a mansão dele e vê-lo saindo para contribuir com a organização do tempo de quem está passando por ali. Ou de quem está sentado lendo um livro, fazendo uma panelada de feijão no fogão a lenha ou simplesmente vendo o mundo passar. Ele tem uma mansão, sim. É pequena, mas é uma mansão. Ou achas que mansão é sinônimo de imensidão? É verde e amarelo o safadinho. Pensei em chamá-lo de Roberto Carlos, de tão bem que ele canta. O capixaba poderia pensar que estou querendo dizer que ele só sabe cantar um estilo musical, por isso deixei para lá. A voz do minúsculo cantor é firme, encorpada. Às vezes ela me parece um pouco triste. Acredito, porém, que seu estado de espírito não se abala. É apenas um espelho de quem o observa cantarolar. Não canso de ouvir sua melodia repetitiva. E sempre que as pilhas dele descarregarem vou trocá-las para tê-lo cantando de hora em hora. Como é bonito ver o cuco na parede.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Chega de cachorro


     Você, por acaso, tem um galinha em casa? Daquelas toda cheia de pena, com um baita bico e que bota ovo? Pois é, não tem. “Como é que vou ter uma galinha, se moro num apartamento, Gilead?”, esbraveja o leitor mais irritado. Tendo, respondo. Simples assim. Passe em uma agropecuária qualquer e compre um filhote. Três reais, não mais do que isso. Aí basta um pouco de ração, todo dia, e três meses depois ela estará pondo. Como bônus pela tua aquisição, a penosa vai devorar os restos de almoço e janta da tua mesa. Opa, vais produzir menos lixo. Ela não exige maiores cuidados. Água, pouca coisa, e comida – incluindo tuas sobras, como já disse. Após noventa dias, ou até menos, terás um ovo caipira todo dia. Não daqueles ovos envenenados de hormônios que compras no supermercado. Por ser um animal de hábitos saudáveis, não gastarás com pet-shop. Xampu, nem pensar. Roupinha para proteger do frio? Não é necessário; as penas são agasalhos naturais da bicuda. Vem no pacote que custou três reais. 

       Ah, teu vizinho de apartanil não vai ficar de saco cheio com o barulho. Claro, galinha, diferente dos cachorros, não faz tem a garganta ligada no volume máximo. Sim, quando põe ela até dá umas cacarejas mais altas. Normal, quando fazemos algo bom também gostamos de divulgar. Caso queiras levar a bonitona para passear, podes colocá-la dentro de uma mochila. Deixe só a cabeça dela para fora e pronto. Ninguém no elevador vai alegar que está correndo risco de ser atacado. E a maior sacada – e é claro que, inteligente como és, já percebeste que faço campanha pela galinha em oposição aos cães – é que ela não urina nas colunas e paredes dos prédios. Sim, porque não vejo um dono de cachorro que lave o xixi do animal dele. Outro idiota que o faça. E como o dono de cão sabe que tolo é o que não falta, deixa o latidor aguar as plantas dos jardins alheios, lavar os pneus dos carros – dos outro, evidentemente – e outras “cositas más”. 

       Vamos deixar claro que não sou contra alguém ter cachorro. Vários amigos meus têm. E eu curto isso. Mas daí a socializar um problema é algo bem diferente. O único inconveniente da galinha são os excrementos. Uma caixinha com serragem, porem, resolve o caso. Você, nesse caso, pode optar por uma fralda. E fraldas, meu caro, precisam ser trocadas. Assim como síndicos, chefes e políticos – e pela mesma razão, como bem alertou Eça de Queiróz. Se bem que o escritor português referiu-se apenas aos políticos, mas acho que ele esqueceu de anotar as demais categorias de profissionais que carecem de substituição. Voltando às galinhas, posso garantir que o animal de estimação perfeito para os grandes centros urbanos é a fêmea da espécie Gallus gallus domesticus.  Faça um teste, amizade. Adquira já seu exemplar e divirta-se. Ou vossa senhoria já não cansou de tanta cachorrada?