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domingo, 30 de outubro de 2011

Como fazer o Brasil entrar no primeiro mundo

Para o Brasil dar um salto de qualidade é preciso:

1- Que todo político e toda turma do judiciário sejam obrigados a ter atendimento médico pelo SUS. Plano de saúde e médicos particular, necas trepas de pitibiriba.
2- Que eles só possam ir ao trabalho se for usando transporte coletivo.
3 -Que não tenham direito a segurança armada nem a escolta policial.
4- Que sejam julgados na justiça comum. Foro privilegiado, nem pensar.
5- Que eles morem ao lado dos presídios.
6- Que os filhos deles sejam obrigados a estudar em escolas públicas.

Fazendo isso, o país vai entrar nos eixos.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Igreja, bar e bordel - isso não dá certo

Florianópolis - trevo de acesso ao Jurerê

Santo Amaro da Imperatriz - margem da BR-282

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ambulâncias para os cabarés


     Ai, meu jesuizinho cristinho!, os médicos que atendem pelo SUS vão cruzar os braços. Sério, os danadinhos – e as danadinhas também, claro – estão protestando contra os baixos salários e as más condições de trabalho. Pelo menos foi isso que a Folha de São Paulo registrou hoje. Euzinho aqui acha que a briga é apenas por dinheiro. Esse papo de melhora nas condições de trabalho é conversa fiada. Tudo grupo, como diz o filósofo da periferia. Para ter o apoio da população, os de branco alegam preocupação social. Não que o Gile ignore as péssimas instalações do sistema único de saúde. É de chorar em alemão. Essa parada dos médicos, pelo menos, é por aumento salarial; só isso. Em uma sociedade fragmentada, quebrada em miúdos e desconectada – apesar da internet – cada qual luta pelo seu pedaço. “Que se dane o mundo que eu não me chamo Raimundo”, é a frase que melhor reflete o cidadão atual.

     Com os médicos não é diferente. Sim, temos raras e salutares exceções. No geral, contudo, é cada um por si e o governo contra a maioria. Só quem não faz greve por aumento de salário é a turma do judiciário. A rapaziada da política também não, lembrei agora. E pelo mesmo motivo: são parceiros na rasgação do dinheiro público. Agora vamos combinar: o que tem de médico dando “migué” em plantão, hem. As denúncias se amontoam por todo o Brasil. A qualidade no atendimento é para lá de questionada. Só não entendo o motivo de o pessoal dos serviços gerais não estarem de mãos dadas com os médicos. Se a briga é, também, por melhoria nas condições de trabalho, o ambiente nos hospitais carece de transformação urgente. E os enfermeiros? E os técnicos de enfermagem? Estão todos ganhando altos salários? Se os médicos vão parar, que parem todos os profissionais da área da saúde.

     E tenho uma sugestão a fazer ao movimento grevista: direcionem as ambulâncias com doentes para as câmaras municipais, assembleias legislativas, prefeituras, palácios de governadores e outros cabarés semelhantes. Quem sabe? Pode até dar certo.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Vem veranear em Floripa, vem


     “Tá chegando o verão, muito amor no coração”, diz o poeta. De barriga vazia, meu chapa, não tem amor que resista. E é bom que fique esperto quem pretende curtir os 30 dias de calor em Floripa. Almoçar, por aqui, simpatia, não é brinquedo não. Só para que vossa santidade tenha uma ideia: Ontem, domingo ensolarado, temperatura chegando aos 28º, resolvo ir almoçar em Santo Antônio de Lisboa. O recanto açoriano da ilha é uma conhecida via gastronômica.  Chego lá por volta das 13h. Simplesmente não tem onde estacionar. Vou seguindo, seguindo, até o Sambaqui. Nada. Nem uma mísera vaga. A paisagem encantadora desvia a atenção do estômago. Faço todo o percurso de volta e necas trepas de pitibiriba. Vez por outra, paro na frente de um restaurante e olhava para dentro: gente saindo pelo ladrão. As filas de carros estacionados na rua me disseram: “imagine como vai ser andar aqui em janeiro”. Deixei o peixe para outro dia e rumei para o Pântano do Sul, no oposto de onde eu estava.

     Por volta das 14h30, parei o cavalo na beira da praia do Pântano. Quando chega a bóia, o garçom fez a tradicional pergunta: “bebe alguma coisa?”. Refrigerante quente, meu chapa, ninguém merece. E ele tenta concertar: “o senhor quer gelo?”. Quase que pergunto se ele costuma oferecer gelo para a gambazada colocar na cerveja. É que as geladeiras só aceitam cerveja, de certo. É como se o cliente não tivesse direito a um simples refri gelado. Acho que é a ditadura da cerveja. Reclamei, claro. O gerente, ou era o dono, sei lá, ficou de cara amarrada. Mais uma vez, a vista compensava. Na volta, mais engarrafamento. A televisão avisava: “em Salvador, Vasco da Gama 1, Bahia 0”. Pelo menos uma boa notícia naquela fila nojenta. E ainda estamos em outubro. Imagine o que te espera na alta temporada, jacaré. Natal, cidade do sol, dia 4 de janeiro estarei aí. Quando esse furdunço acabar eu volto.

domingo, 23 de outubro de 2011

Domingo de sol em Floripa

Avenida mais charmosa da cidade, um convite para a caminhada:
Da Beira-Mar norte para o Pântano do Sul:
Estacionamento misto
 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Uma vez Flamengo...

E o Flamengo, hem? Meu "dius", o que foi aquilo? Caiu de quatro diante dos chilenos. E ficou barato. Tivesse sido oito a zero estava de bom tamanho. A urubuzada ficou de crista caída.

Troca-se uma bússola por um hambúrguer


     Nem existia a bússola e as pessoas já buscavam um norte para suas vidas. Um rumo certo, uma saída ou uma simples refeição. Eu mesmo, desde que andava só de calção escutava minha mãe falando de um ideal. Para quem já mora no norte, o norte é invertido. Caí no sul. Pura lei da gravidade – Newton já sabia. E andando pelas ruas de Natal, Rio de Janeiro ou de Floripa, deparo-me com as mesmas caras, os mesmos olhos buscando, buscando, buscando. A coisa é meio instintiva. O camarada já vem ao mundo "pixcurando" um não sei o quê. E passa a perseguir um cheiro, um prazer ou um milhão de dólares. E alcança.O pior é que alcança.

     Um belo dia a mãe de família, bem casada, quinze filhos nas costas, entra no supermercado, olha para um cidadão que tem uma barriga de nós todos e sente um tremor nas pernas. O coração da mulher, calejado de tantas buscas não deixa dúvida: é esse o homem da minha vida. E ela nota que passou a vida buscando o certo e achou o errado. O mal estava sacramentado. O cara para numa lanchonete com o intuito de matar a fome com um lanche rápido. Num lugar que nunca havia ido antes, embora tivesse passado na frente incontáveis vezes. Quando olha de lado vê uma dama de mãos dadas com um guri que não tem ainda sete anos. Depois de uma consulta ao coração, ele sabe que está diante da mulher dos seus sonhos. E agora José? A festa acabou, meu nobre. Tanto ela quanto ele não souberam ler o que diabos suas bússolas diziam há dez, quinze, vinte anos.

     O danado do rumo certo, daquele norte que minha mãe disse ser legal, é um desconhecido que anda disfarçado. E por isso erramos tanto quando decidimos. Hoje, com quatro décadas na cachola, costumo torcer o bico quando me convidam a um casamento. Festa, juras de amo eterno, bússolas desorientadas. E lá se vão mais duas vidas para o leste, depois de terem embarcado no trem que leva ao oeste. É, meu caro, minha cara, se o senhor ou a senhora tem mãe, assim como eu tenho dona Margô, que tal pedir a bússola dela emprestada? Ou então, contente-se com um hambúrguer. 

Antiga estação de Canoinhas

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Vai um pedaço de pizza?


        - Ô, irmão, cuida com essa moto, hem. Vai devagar.

     Esse cuidado com um desconhecido me deixou pensativo. Porque foi sincero. E a sinceridade, meu chapa, é uma roupa discreta. Não é carregada de purpurina, como o é a da sua irmã gêmea - a falsidade. Só quem convive, ou conviveu, com as duas é capaz de diferenciá-las. Ronaldo tinha uma espécie de limo no pescoço. A barba e o bigode ralos não viam uma gilete há pelo menos uma semana. O jeans e a camiseta, numa olhada rápida, pareciam acompanhá-lo nas últimas 72 horas. Só mesmo a chuva para fazer com que eu me aproximasse de um morador de rua como ele. 

     A chuvinha fina, daquela feita para molhar bobo, empurrou-me junto com a moto para o primeiro abrigo que vi. Foi quando ele me cumprimentou. Bem articulado, lamentou a chegada das imprevistas águas e o incômodo que causara a nós dois. Com o preconceito que é passado de geração a geração, pensei: “lá vem ele me pedir dinheiro”. Estávamos próximos a uma casa de massas – que eu não direi o nome porque não sou pago para isso – e vi que de lá saía um colega do Ronaldo. As características não deixavam espaço para dúvida, era morador de rua também.  Com um sorriso furado, inteiramente alheio a crise econômica da Europa, trazia uma caixa cheia de fatias de pizza. Estendendo o braço direito na direção do sem-casa, ofereceu numa mistura de idiomas:
       - Pega aqui, brother.
       - Valeu, irmão – e Ronaldo pegou dois pedaços.
       - Pega mais, brother – insistiu – porque tô indo embora.

     Ronaldo devorou os dois que tinha nas mãos fervilhantes de bactérias e atacou outros três. O da pizza esticou a caixa na minha direção.
- Vai um pedaço, brother?”.
- Não, não, obrigado 

     Mais uma amostra de dentes e despediu-se. A chuva acompanhada de cinzas do vulcão chileno continuava e Ronaldo contou um pouco acerca da vida na rua. Da vinda do Mato Grosso para Floripa, da mãe.
- Ela trabalha no tribunal, irmão; ganha bem. Mas é materialista.

     Monossilábico, eu levantava a bola para ele cortar.
- Eu não acredito em Jesus – afirmou. Pensou um pouco, coisa de 3 segundos e corrigiu:
- Até acredito; mas se ele vai voltar, por que não voltou ainda? A coisa tá feia, irmão. Ele tá esperando o que?

     Após uns dez minutos a chuva ameniza. Quando acelero a moto ele faz uma cara de quem está sinceramente preocupado com minha vida e alerta:
       - Ô, irmão, cuida com essa moto, hem. Vai devagar.


É, bendita chuva.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Isso, sim, é um belo texto

     Tem certos textos que merecem um bater de palmas. Não me refiro, evidentemente, àqueles vômitos recitados na televisão disfarçados de telejornalismo. Muito menos aos escritos encomendados que circulam pelos chamados grande jornais brasileiros. Como dizia o saudoso filósofo da favela, Bezerra da Silva, "é tudo grupo". Simpatia, o que é bom fica guardado. Não sai por aí desfilando em carro aberto, feito time de futebol quando ganha um campeonato. O bom, camarada, está sempre jogado fora da estrada. Falta-lhe combustível. Não porque lhe escasseie a grana para abastecer, não. São parcos os frentistas capazes de injetar gasosa no tanque do bom. "Ué, Gile, que mistura é essa de carro e texto?", vossa excelência pode estar me perguntando. É que às vezes me deparo com jazidas quase que inexploradas de qualidade textual. Você já ouviu falar no "letras da torre"? Não? O Jornal Nacional você conhece, não é? Faz favor, colega, dá uma lida neste texto e veja se, de fato, o que é bom não está guardado: http://letrasdatorre.blogspot.com/2011/10/1984-da-ficcao-de-george-orwell.htmlhttp://letrasdatorre.blogspot.com/2011/10/1984-da-ficcao-de-george-orwell.html 






segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A antinet nada

Pensem nas crianças 
Mudas no orkut
Pensem nas meninas 
Cegas facebook
Pensem nas mulheres 
Pages bagunçadas
Pensem nos emails 
Como autoestradas.

Mas não se esqueçam 
Da mãe internet
Internet deusa
Guia, escravocrata
A internet vírus
Babaca e molestada
Net gangrenada
A antinet micro
Sem vida, sem braço
Sem gente, sem nada.
 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

República Três Platôs não admite roubo

     Tinha comida para todas. O olho grande e a ganância, entretanto, não limitam-se por justas divisões. Bibigul, por ser maior do que Maria Rosa e Chica Pelega, ganhou o dobro do que recebeu cada uma das mini-vacas. Mesmo assim, aproveitando-se de um cohilo do interventor - eu mesmo -, avançou sobre o cocho das jerseys. Quem conhece um pouco de gado, sabe que jersey é um tipo pequeno e leiteiro. Original da Ilha Jersey, é ideal para terrenos acidentados, como é o caso na República Três Platôs. Perto do famoso sítio/república - ao menos neste blog ele tem status de celebridade -, no município catarinense de São Bonifácio, há uma bacia leiteira formada apenas por vacas dessa raça. Leves, estragam pouco o pasto dos morros. 
     Chica Pelega e Maria Rosa, que receberam os nomes em homenagem a duas guerreiras da Guerra do Contestado, são as mais novas moradoras do Três Platôs. Por terem menos de seis meses, são um pouco maior do que um espirro de gato. Bibigul, mestiça de jersey com holandesa, e robusta pela fartura da república onde mora, achou-se no direito de açambarcar a ração da piquituchas. Fiquei indignado. Ora, a danada  ainda não havia comido a metade do que tinha no prato. E resolveu imitar os humanos.  É, nós descendentes de Caim somos, via de regra, ambiciosos. Quanto mais temos, mais queremos ter. Por isso não acredito que uma forma de evitar a corrupção seja aumentar os salários dos servidores públicos. O salário carece ser melhorado, sim senhor, mas por outra causa. Temos que melhorar é o nosso caráter. 

     Não perdi tempo. Expulsei Bibigul do curral. Perdeu "preiboy". Desacorssoada, feito torcedor que vê o time dele escorregando para a segunda divisão, ficou assistindo as colegas se empanturrarem de soja e farelo. Quem sabe agora ela aprenda que o Três Platôs não é o Brasil. Sim, no Brasil o ladrão anda de carro importado, tem mansão e uma polpuda conta bancária. E ainda entra na vida pública para limpar os cofres oficiais. Não, Bibigul não deve ser comparada a esses senhores. Foi apenas uma ilustração.  

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Seleção Brasileira tem futebol decadente

     O futebol apresentado pelo time da CBF é parecido com o dono da entidade - Ricardo Teixeira. A equipe e o cartola são personificações da decadência. Eu, que gosto de assistir futebol, não consegui, sequer, ver o primeiro tempo inteiro do jogo contra o México. Por volta dos trinta e cinco minutos de partida, botei uma cama nas costas e só acordei no dia seguinte. Os canarinho perdiam por um a zero. Fui dormir tendo a certeza que o placar seria o menos importante naquele amistoso. Ora, o capitão dos brasileiros era o "baladeiro de Floripa", Ronaldinho Gaúcho. O apelido do boleiro foi dado por um jornal daqui, da capital catarinense. E vamos combinar: sendo ele um jogador decadente, e ao mesmo tempo o chefe da equipe, a tal seleção também é decadente. Gente, Ronaldinho apareceu, de fato, para o futebol em 1998. Após 141 partidas pelo Grêmio de Porto Alegre, cruzou o Atlântico rumo a França - foi para o Paris Saint-Germain. De lá, transferiu-se para o Barcelona da Espanha. E teve seu auge entre os anos 2004 e 2006. E deu. 
     
     Seu principal feito vestindo aFoi idolatrado ao fazer um gol sem querer na Inglaterra, na copa de 2002. Depois de amargar a reserva no fraquíssimo time do Milan, deu uma cartada de mestre. E afirmo que foi a maior jogada dele nos últimos 5 anos. Veio jogar no Flamengo. Ele sabia, assim como seus assessores, que só jogando pelo rubronegro carioca retornaria à Seleção. Pode anotar: caso estivesse no São Paulo, Vasco ou Grêmio, jamais voltaria a vestir a camisa que Pelé consagrou. A chamada "Grande Imprensa" logo tratou de encabeçar uma campanha que levaria o flamenguista a ser protagonista do time da CBF. Ronaldinho atingiu o ápice em meados da década passada, é fato. De lá para cá, entrou em declínio. Há quem diga que "ele foi campeão carioca neste ano pelo mengão". Isso merece a mesma importância que o título conquistado pelo centroavante Zé Cocão no último campeonato de veteranos da AABB. 

     Sabe aonde vai parar uma seleção cujo dono é o acusadíssimo de corrupção Ricardo Teixeira, o motorista é o neófito Mano Menezes e o capitão é o decadente Baladeiro de Floripa? Opa, mas ganhou do México; e Ronaldinho fez um gol. Me engana que eu gosto. Espero, entretanto, que o Ganso volte. Ele, Neymar e uma penca de outros craques podem, quem sabe, dar a Teixeira, a Mano e a Ronaldinho o título de campeões mundiais.

     

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Feriado na Beira-Mar Norte é assim

Feriado, 8h30, na avenida mais charmosa de Floripa tem:

Beleza

 Mais beleza
 Raridade
 Protesto
 Esgoto aditivado
 
 E parceria
 Isto, sim, é parceria



terça-feira, 11 de outubro de 2011

Berti, agora, é mamãe

     Berti Albuquerque é mamãe. Nasceram os filhos da bicuda. Quem é Berti? Não, não é atriz de novela, cinema ou teatro. Tampouco foi flagrada, duas horas antes de engravidar, com um badalado jogador de bola. Vida de celebridades, meu chapa, não me diz respeito. E se não diz, não me interessa assistir  reportagens de três horas a respeito do suposto filho de um peladeiro com uma também suposta modelo. Esse tipo de matéria - que nem de longe deve ser considerada jornalística - não passa de intromissão na vida alheia. E no dia seguinte, o cidadão sem marido ou sem roupa para lavar não fala em outra coisa: "nasceu a filhinha de fulano; é a cara do pai". O outro responde: "já nasceu famosa; isso que é sorte". Vai te catar, né. Vai limpar um quintal, lavar uma louça ou passar umas camisas. Claro, há outras opções - ler um Hemingway, ver um documentário ou cuidar das próprias finanças. Isso não é notícia, meu filho, é engodo. O nascimento dos filhos de Berti, entretanto, é notícia.
Berti e seus pupilos
 - Quem danada é Berti, Gilead? - está se perguntando o leitor, ou a leitora, mais afoito, ou mais afoita. Berti Albuquerque, simpatia, é a carijó da foto acima que ganhei há poucos meses e mora junto com o galo Berlusconi na República Três Platôs. Batizei a penosa em homenagem a primeira chefe de Estado das Américas, Brites Albuquerque. Esposa de Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, assumiu o comando por lá quando ele foi a Portugal tomar satisfação com o rei. Sim, mudei um pouco o nome da mulher. Achei Brites muito fresco para uma galinha. Berti é muito mais parecido com uma poedeira. O fato é que Berti, depois de 21 dias de encarceramento coluntário em seu ninho, teve filhotes. Cinco. Isso é notícia, paisano. Me diz respeito. O aumento do meu patrimônio em cinco novas cabeças de aves é notíca, sim. 

     Teve época em que eu assistia tudo que era jornal para ficar bem informado. Ainda bem que parei, senão estaria, hoje, dando coice e relinchando. Imagine, camarada, o cara acordar e ligar a televisão em um telejornal. É desgraça na certa. Pense numa maneira de começar mal o dia. "Morreu", grita um; "Crise", alardeia outro; "Avaí na segundona", enche o saco um bastardo. Tô fora. E como é bom ter internet. Claro, você mesmo seleciona o que quer saber. Liberdade, liberdade, liberdade. Não preciso mais de um guia para asseverar o que terei de ficar sabendo. Berti Albuquerque está cuidando de cinco filhotes - um amarelinho do pescoço pelado, um cinzento e três alvinegros. Não, não é um corintiano, outro vascaíno e o terceiro abecedista. 
Berti durante o cárcere voluntário de 21 dias


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Senador quer chicote, cadeia e leis mais rígidas


     Reditário Cassol é o nome do cidadão. Cidadão, não, senador. Político, no Brasil, assim como jogador de futebol, está em outra casta – a mais elevada. Reditário – pasme, mas é nome de gente – botou a boca no microfone do senado para dar porrada em presidiários. Com um discurso capaz de enganar crianças de três a quatro anos, o lindão rugiu: “Senadores, precisamos modificar um pouco a lei aqui no nosso Brasil, que venha favorecer sim as famílias honestas, que pagam imposto para manter o Brasil de pé e não criar facilidade para pilantra, vagabundo, sem vergonha, que devia estar atrás da grade de noite e de dia trabalhar, e quando não trabalhasse de acordo, o chicote, que nem antigamente, voltar". Pra ser sincero, acho até que o cérebro de piolho está certo quando reclama que pilantra, vagabundo e sem vergonha deveria estar vendo o sol nascer quadrado. Pois foi isso que pensaram os franceses em 1790. Revoltados com o sistema de governo, quase mil pessoas invadiram a prisão da Bastilha, esfaquearam até a morte o governador (Bernard-René de Launay) e chutaram a tirania real para escanteio. A queda da Bastilha significou que o poder estava mudando de mãos. Passava daqueles que discutiam mudanças para aqueles que faziam alguma coisa para alcançá-las. É, Reditário, dá ideia, dá.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O jornalista, o diploma e a inocência


     Foi numa palestra na Faculdade Estácio de Sá, aqui mesmo, em Santa Catarina. Quem estava com o microfone era Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) à época. Entusiasmado, o ex-funcionário da Gazeta Mercantil defendia com unhas e dentes a obrigatoriedade do diploma universitário para o desempenho da profissão de jornalista. Sem ao menos pedir permissão para interrompê-lo, uma moça tirou a bunda da cadeira e anamariabregou: “jornalista é vocação; sou totalmente contra a obrigatoriedade do diploma”. Um colega da estudante, bem mais educado do que um pernilongo no crepúsculo, tentou se mostrar bem informado: “nos países desenvolvido o diploma não é obrigatório”.    Murillo, acostumado aos acalorados debates sindicais e com os escutadores de novela calejados de ouvir bobagens, não fugiu da briga – que pelo tom de voz dos acadêmicos a coisa virara uma briga de foice em um elevador sem energia – e replicou à altura as intromissões. O auditório virou um cabaré de cego dentro de um balaio de gato. Paulo Scarduelli, então coordenador do curso de jornalismo da instituição, entrou no debate e quase apanhou. A discípula de Sabrina Sato só não estapeou meu amigo porque as patas dela não eram tão longas. Lá se vão dois anos que esse fato se passou e ainda ouço discussões sobre a necessidade de jornalista ter diploma para exercer a profissão.  

     No meio dessa pornografia toda, lamento a inocência de alguns jornalistas. Chamo de pornografia porque não pretendo agredir os ouvidos do leitor, pois a não obrigatoriedade do diploma jornalístico é de interesse de donos de jornais, de revistas, de rádios, de televisão e de qualquer outro veículo de comunicação a serviço dos senhores feudais que dominam esse baixo meretrício chamado Brasil. Daqui a pouco volto à inocência de alguns jornalistas. Só para lembrar, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou a obrigatoriedade do diploma no dia 17 de junho de 2009. O diploma foi para a segundona depois de goleado por oito votos a um. Os gols dos patrões da comunicação foram marcados pelos ministros Gilmar Mendes – titular absoluto do time dos caciques brasileiros -, Cármem Lúcia Antunes Rocha, Ellen Gracie, Ricardo Lewandowski, Eros Graus, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso e Celso de Melo. O raquítico gol dos jornalistas foi assinalado pelo ministro Marco Aurélio. A obrigatoriedade do diploma, que perdurava desde 1969, foi destronada em poucos minutos para a satisfação dos seguidores de Assis Chateaubriand. STF, 69 e donos da mídia – é ou não é sacanagem pura?

     Ora, ora, simpatia, você acredita que o STF desancaria o diploma se não fosse para atender o patronato?  Vale rememorar que os senhores becados acolheram o recurso ajuizado pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal. De nada adiantou a Federação Nacional dos Jornalistas espernear.  Em vão o advogado da Fenaj, João Fontes, argumentou que “a exigência do diploma não impede ninguém de escrever em jornal; não é exigido diploma para escrever em jornal, mas para exercer em período integral a profissão de jornalistas”. Parece que o diploma fora derrotado antes mesmo de começada a partida. O camarada que acredita na lisura do placar, e que ganhou quem merecia, não tem na cabeça fósforo para acender uma vela do tamanho de um alfinete.

     “Então você acha que é um diploma quem faz um jornalista, Gilead”, um incauto pode estar me perguntado. Não, respondo. Assim como não é um diploma quem faz um advogado, um engenheiro civil ou um médico. Mas que, no mínimo serve de filtro, ah, isso serve. Em um país movido mais a imagem que a livros, a faculdade serve de guia para o aprofundamento de leituras, de debates e de métodos apropriados para o desempenho da profissão. Agora, se as faculdades não estão desempenhando bem suas funções é outra história. Ou o STF resolveu dissolver a Câmara e o Senado por estarem desviados de seus verdadeiros objetivos? Ou o mesmo STF decidiu acabar com as polícias civil e militar por terem estas permitido a entrada de delinquentes em seus quadros? Eliminar a obrigatoriedade de diploma universitário é, no mínimo, uma ode contra a educação. “Mas tem um monte de jornalistas formados que não sabem PN (praticamente nada)”, dirá um apóstolo do analfabetismo. Pois então, imagine o nível de quem nem sequer frequentou uma faculdade. O diploma, paisano, é uma porta de entrada, não de saída. E, lógico, o direito a ele deve ser facultado a todo aquele que deseja seguir pela senda da reportagem.

     Voltemos à inocência dos jornalistas. Meus amigos, a luta da Fenaj é, sim, uma luta classista. E é assim que as coisas funcionam na democracia. Para isso os sindicatos são criados, para defender o direito de seus associados. Os patrões sabem que uma categoria unida, com um diploma universitário na bagagem e bem representada é um entrave a mais para a patifaria que cerca os grupos midiáticos. Sem contar com o salário mais alto que um formado terá direito. Do jeito que está, o veículo oferece salários baixíssimos, manipula descaradamente os chamados jornalistas e ainda posa de porta-voz da informação. E o mesmo jornalista, coitado, que apregoa ser contra o diploma é quem reclama dos salários miseráveis da categoria, da jornada cansativa e da falta de liberdade ao escrever. Inocência, inocência, como te gostam alguns colegas meus.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Confissão de um assassino


     Traí e matei meu amigo. É uma confissão forte, mas é preciso que seja feita. Confessando, alivio o peso da culpa que faz este nordestino ficar mais por baixo do que torcedor do Avaí. Trair quem se gosta, em si já é um assassinato; tirar a vida, no entanto, é o último estágio que leva um filho de Adão a ser semelhante ao protozoário. Domingo, sete da manhã. Cai uma garoa no Três Platôs. Dois homens chegam em frente à porteira e chamam: “Julliard?”. Desço até lá e abro o cadeado que impede o acesso deles ao sítio. Munidos de cordas, vêm buscar Pirata, Gerineldo e Mel. Os três estão pesados demais e tornaram-se inadequados para o solo cheio de altos e baixos da propriedade. Estranhando a presença, os animais ficam a distância. Olham desconfiados. Pirata está com três anos. Comprei-o quando tinha seis meses. Era osso e couro. Ah, e dois projetos de chifres. Semimorto, de vida só possuía os carrapatos que cobriam-lhe como se fosse uma manta. Uma olhada mais examinadora revelava por completo o estado do boizinho – bernes refestelavam-se em sua carne. Dias foram preciso para que ele permitisse minha aproximação. Já desverminado, livre dos carrapatos e dos esfomeados bernes, aos poucos viu em mim um amigo. Dei-lhe casa confortável, comida de primeira e a companhia de outros bovinos – entre eles a Mel e o Gerineldo.

     Sempre que eu chegava ao sítio, ele me saudava com um berro; independente da hora. Não satisfeito, saía em desabalada carreira na minha direção. Nunca, nunca teve um ato de agressividade para comigo. O que ele não imaginava – e nem eu premeditara, juro – é que ao ficar bonito e grande seria incompatível com o lar onde morava. E nos doze graus da manhã acinzentada de domingo chamei-o pela última vez: “Pirata, ô Pirata, vem cá, vem”. E ele veio. “Se o meu dono me chamou é porque não corro perigo”, tenho certeza que imaginou. Como um político que recebe votos de cidadãos e depois os esfaqueia em troca de punhados de dinheiro sujos, passei a corda nas guampas de Pirata. Mel e Gerineldo tiveram o mesmo tratamento. Eles insistiram em ficar. Era como se estivessem dizendo: “nosso lar é aqui, não queremos ir embora, muito menos com estes homens que não são íntimos nossos”. Fechei-me dentro de mim e fechei a porteira para nunca mais vê-los.

     E quando eles sumiram na curva da estrada senti como se estivesse perdendo partes de mim. Mel, bonita e de boa linhagem, será usada como reprodutora, imaginei. Gerineldo, touro, na certa terá vida longa. Pirata, entretanto, por ser boi será abatido, concluí. E chorei por dentro, talvez com vergonha de me derramar em lágrimas por causa de uns quadrúpedes. Mas eu sabia que eles eram mais do que animais. Pirata era um amigo. Conversava comigo. Quem o conheceu sabe que não minto. Hoje, porém, tive a notícia: “matei o Pirata”, disse o comerciante que o comprou no domingo chuvoso. Foi como um tiro à queima-roupa. E senti a dor de ter traído e matado um amigo. Sinto-me igual ao administrador público que não investe em saúde e deixa que os seus eleitores morram à míngua em corredores imundos de hospitais desaparelhados. Assim como o prefeito, o governador e o presidente matam o munícipe, matei Pirata.

domingo, 2 de outubro de 2011

A frase mais forte da língua portuguesa


      “Pense n’eu”. Essa frase é, de longe, a mais bonita, a mais romântica, a mais verdadeira, a mais triste, a mais pura e a mais ingênua que já ouvi nessas minhas quatro décadas por este mundo “véio” desmantelado. E ela é a mais em qualquer outra série de mais que alguém pense em criar. Dita por uma menina de 15 anos do interior da Paraíba que acabara de achar seu príncipe encantado e viu-se obrigada a vê-lo partindo para o futuro incerto do Sul, é ingênua. É, também, pura; puríssima. Os olhos talvez nunca mais se cruzem. Mesmo assim, crente que o futuro os reunirá, ela faz um último pedido: “pense n’eu”.

     Dita por uma mulher do sertão cearense que arrasta duas crianças pelas mãos e outra na barriga é triste. O marido dentro do ônibus prometeu-lhe enviar um dinheirinho de São Paulo e voltar; sem saber quando nem como cumprir a promessa, ouve uma súplica disfarçada de ordem: “pense néu, viu?”. Nunca mais ele esquecerá os lábios finos da sertaneja amada se mexendo entre as lágrimas que explodem no rosto. São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, nem uma metrópole apagará aquele “pense n’eu”. Apegou-se-lhe à alma.

     “Don’t forget me” pronunciada nas telas de cinema por Katharine Hepburn é um chuvisco de emoção. “Onde você estiver não se esqueça de mim” cantada por Roberto Carlos, por mais manteiga que tenha a voz rei, não passa de um faz de conta. Sinto muito por aqueles que desconhecem os recantos do Brasil, que não habituaram-se aos sotaques, aos desvios da norma culta no falar. E pense, amizade, em duas coisinhas que não se misturam: emoção e norma culta. Soa esquisito quando tentamos uni-las.  “Não te esqueças de mim” é incapaz de ficar na memória de um homem. Basta um boteco e... adeus, querida. Pense n’eu, não. Pense n’eu é como uma tatuagem. Experimente escutar a música de Luiz Gonzaga e veja se não tenho razão: pense n'eu.