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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Acho que foi em Belô


     Desde pequeno, acostumei-me com a falta de datas marcantes. O Natal era, para minha família, um embuste do tamanho da muralha da China. Para euzinho aqui, continua sendo. Até curto uma boa ceia natalina hoje em dia. Acho, no entanto, uma forçada de barra capitalista avalizada pela toda poderosa Igreja Católica. Isso porque qualquer piá que tenha estudado uma ou duas páginas sobre a história de Jesus Cristo sabe que o nazareno não nasceu em dezembro. A data transformou-se em comércio. Tem gente que acredita mesmo que o Natal é, de fato, o dia em que o salvador nasceu. Ilusão, ilusão, como te gostam os humanos. Dias que exigiam minha pueril atenção eram: Dia do índio, Dia da árvore e Dia da independência do Brasil. Aniversários na minha casa foram raríssimos. Lembro dos quinze anos de uma das minhas três irmãs. Ah, em Belo Horizonte comemoramos o de alguém. Mas não sei de quem foi. Uma fotografia – prova do crime – em preto e branco mostra minha mãe ladeada por sete filhos em torno de uma mesa. E eu estava lá. Não me lembro daquele dia. Eu devia ter uns quatro anos. É, aniversário nunca foi o forte dos Maurícios. Também, éramos dez. E fazer uma para cada, mais a do pai e a da mãe, seriam doze por ano. Mais de uma por mês. Sem chance.

     Pode até ser que o níver em Belô tenha sido meu; precisarei apurar a informação. Não recordo de um aniversário do Gile quando criança. Se houve, não deixou memória. E o que não nos remete ao passado não existiu. Ultimamente passei a comemorar meu natalício. Nada de festança. Sou avesso a multidão. Tenho também poucos amigos. Um punhadinho, para ser sincero. Colegas tenho um milhão - sou quase um Roberto Carlos. Conhecidos, novecentos e oitenta e quatro mil. Se faço uma festa e convido um amigo, um colega acha ruim e deixa de ser meu amigo. Um conhecido, ao saber do ocorrido, renega minha amizade. Só os parentes não deixam de ser meus parentes. Porque não tem como. O fato é que faço um churrasco e chamo não mais do que vinte bocas. Passou disso, para mim é muvuca. Outro dia me perguntei o porquê de ter passado a comemorar meu aniversário. O espelho me disse que é porque estou no segundo tempo da vida. E durante o segundo tempo, meu chapa, podemos ser substituídos a qualquer momento. Podemos sofrer uma contusão e ter que deixar o gramado. O treinador pode entender que estamos jogando mal e... fora. No jogo da vida, poucos chegam aos acréscimos. Eu já avisei ao técnico que só quero estar em campo enquanto puder correr, marcar, fazer gols. É isso, cada três de dezembro é um gol que faço. Nesse caso, já posso me considerar um artilheiro.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O convite


     Um convite. Umas poucas páginas tamanho 20x13cm acartonadas. Mensagens para boi dormir, fotografias e pieguices capazes de fazer um ursinho de pelúcia chorar. Quem preparou o material tinha um único interesse: convencer o leitor de que aquilo era mais importante do que a final do campeonato brasileiro de futebol, do que minha pelada na AABB de Floripa, do que alimentar minhas galinhas poedeiras. E não era. Nem de longe. Tratava-se de um chamamento para uma formatura de alunos do segundo grau. E vamos combinar: terminar o segundo grau não é nada mais do que uma obrigação para uma gurizada que tem no estudo a única atividade. Mesmo assim, muitos deles ficam em recuperação nas matérias mais difíceis. Ora, ora, simpatia, concluir o ensino médio não é razão de se fazer uma festa. Muito menos de se gastar dinheiro com convites tão arrojados. E o tal convite faz menção a uma cerimônia religiosa, a uma solenidade, a um jantar e a uma balada. Ah, o convite – isto precisa ser frisado -, dá direito a entrar na boate com duas garrafas de bebida alcoólica. Ora, ora, partindo-se do pressuposto que os formandos são menores de idade... “A manguaça é para os pais, ô imbecil”, gritará comigo um defensor do convite - um rapaz ou uma moça que não sabe a diferença entre um boi deitado e uma vaca.

      Tenho, no entanto, que parabenizar o camarada responsável por colocar na cabeça dos burgueses que uma formatura de segundo grau é algo importante. Ele me lembra aquele bandeirante que manipulou nossos antepassados indígenas com um copo de cachaça. Tocou fogo no álcool e blefou que faria o mesmo com as águas dos rios. Os incautos nativos viram no espertalhão homem branco um ser poderosíssimo. E valorizaram tudo que ele fazia. E se ferraram. Se o leitor é um pouco desbocado, pode substituir o “se ferraram”, por um termo mais próximo do seu vocabulário. Convite personalizado, cerimônia, missa, jantar e boate, é tudo parte de uma lógica bem elaborada por modernos bandeirantes para iludir velhos índios. Eu, que ao longo dos anos venho me desiludindo com as patifarias dos bandeirantes, torci o beiço quando me deparei com o encarte.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Neymar, o cai-cai


     “Neymar é um cai-cai”, diz aquele cérebro de mosquito que pensa ser um ás no conhecimento do esporte bretão. “O cara não pode encostar nele que ele se joga”, completa uma minhoca travestida de humano que tem na televisão sua única fonte de conhecimento. “Tem é que levar porrada mesmo pra aprender o que é falta”, espuma um filhote de chipanzé que nunca, nunca, deveria ter perdido o rabo e descido das árvores. “Se eu fosse o árbitro, expulsaria esse magricela por simulação”, exclama o candidato a político, exímio em distorcer a verdade a ponto de acreditar nas próprias mentiras. Meus amigos, só mesmo quem não tem a menor intimidade com a gordinha empurrada mais de mil vezes por Pelé para as redes pode pensar assim. Somente quem nunca viu um craque com a perna quebrada por um descendente de gorila é capaz de culpar o ídolo santista pelas quedas no gramado. Só quem nunca levou uma bordoada de um marcador sedento de sangue pode ficar irritado com os pulinhos – digamos assim – do sucessor de Edson Arantes do Nascimento na equipe da baixada. Quando escuto essas asneiras – com todo respeito aos milhares de jegues que andam soltos pelas rodovias nordestinas – sinto ânsias de vômito. Neymar cai? Cai. Sem trocadilhos, por favor. Ele é acrobático quando sente os cravos da chuteira do monstro que vem assassiná-lo? Lógico que é. Ou achas, paisano, que a habilidade personificada deveria ficar paradinha esperando ser alvejado? Acreditas mesmo que o bom jogador tem que se comportar como uma ovelha levada ao matadouro? Acreditas na justiça, companheiro? Há justiça se uma das partes envolvida numa querela não pode se defender? Esse é o caroço da questão.

     Se não fosse a destreza em saltar, Neymar já estaria com pinos nos dois joelhos. Quando pula, o atleta defende-se de algozes que fazem da pancada sua arma. As armas de quem sabe jogar bola são os dribles e a capacidade de esquivar-se de minotauros fantasiados de boleiros. Saltar é preciso, meu chapa. Ao pular, a vítima deixa o corpo leve. E um corpo leve – como bem evidencia o tcheco Milan Kundera em “a insustentável leveza do ser” – é um corpo protegido. O ar é parceiro, padroeiro e cúmplice do craque na arte que consagrou Garrincha. Ao sentir que será alvejado, Neimar recorre ao ar como um soldado à casamata. Passada a fúria animalesca do inimigo, o santista arranca para o ataque e só para quando vê a rede adversária gritando “chuá”. E mais uma vez ele salta. O salto da vitória. Um abraço fraterno no ar. Um soco no ar. Um grito no ar. O torcedor se diviniza e grito gol. E o ar mais uma vez entra em cena para levar aquele som adiante. O mastodonte, incapaz de destruir o craque... queda-se. Acusa o golpe. Rosto taciturno, dentes cerrados, moral lá embaixo. Feito uma carreta com o motor batido, arrasta-se em campo. Não é notado. Nem os seus olham para ele. A beleza e a arte futebolística vencem a crueldade e a truculência do pseudo futebol força. Vai, Neymar, pula. Salta, sim, caso seja preciso. Vai, você leitor que gosta do bom futebol, e comemora um salto de um artista que está sendo caçado em campo. Esquece esse papo furado de cai-cai. Tens mais do que um neurônio, sei disso. Então não reproduza o discurso de quem não sabe jogar futebol. De quem só conhece a violência como maneira de vencer. Veja, note o ar como atacante. Ele está em campo a favor do espetáculo.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

De D. Pedro I a Rodrigo Floriani

     Em 1882, quando D. Pedro gritou - supostamente, claro - "independência ou morte!", ele não estava montado em um cavalo digno de exposição. Pedro Américo até pintou um pomposo quadro mostrando o imperador a bordo de um exaltado alasão. Bobagem. Pedoca, como diria um nordestino mais íntimo do português filho de D. João, pilotava uma mula baia. Segundo o escritor Laurentino Gomes, "era esta a forma correta de subir a serra do Mar naquela época de caminhos íngremes, enlameados e esburacados".  Rodrigo Floriani tem 25 anos e é criador de mulas no município de Lages, na serra catarinense, e explica porque a mula era o animal ideal: "Ela tem os casco mais encastelados do que o cavalo, aguenta muito mais peso e vive 25 anos tranquilo". Encastelado é um casco mais pontudo, que não sofre tanto impacto quanto o do cavalo. O casco da mula, por isso, firma melhor. 
     Hoje em dia, pouca gente cria mula no Brasil. Na região serrana de Santa Catarina, esse número não passa de dois. Rodrigo é um deles. Ele cria e doma os animais para serem usados, principalmente, no lazer. "O preço de uma mula varia de R$ 2.000 a R$ 15.000", observa. 

Abaixo, fotos de uma tropa que está sendo adestrada:
Rodrigo pondo as mulas em forma

Serrano segurando a mula madrinha - aquela que guia a tropa

Depois da lida, o mate

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Rio de Janeiro não é tão lindo quanto se canta


O que o Rio de Janeiro está fazendo para combater o crime organizado - um velho problema - não tem nada de novo. Neste artigo de 2009, o professor universitário especialista em segurança pública Dolvim Dantas já apontava as medidas que a Cidade Maravilhosa deveria adotar para enfrentar o "poder paralelo" e preparar-se para sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Um “estado paralelo” ameaça um Estado de direito
  
    Por que o crime organizado coloca mais uma vez o Rio em xeque, após ferrenha disputa internacional do governo brasileiro para sediar a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016?

   Ouvindo diferentes opiniões de especialistas entrevistados pela mídia nacional nesses últimos dias, podemos citar alguns comentários coerentemente proferidos: décadas de descaso na segurança pública; despreparo e corrupção das polícias estaduais; equipamentos de combate obsoletos; fronteiras praticamente desguarnecidas; autoridades corrompidas; ação letal e ineficiente da polícia; burocracia na aquisição de produtos importados; e falta de prioridade em políticas de segurança pública.

   São esses os verdadeiros motivos que fazem um “estado paralelo” gerenciado pelo crime organizado ameaçar um Estado de direito?

    Esta resposta é complexa e necessita de um breve contexto histórico. A primeira facção criminosa conhecida no Brasil nasceu no Estado do Rio de Janeiro com o codinome de Falange Vermelha. Foi concebida na década de 70, mediante a convivência permitida entre presos políticos e criminosos de alta periculosidade confinados, àquela época, no presídio de segurança máxima da Ilha Grande.

    Na década de 80, remanescentes da Ilha Grande e outros criminosos encarcerados formaram a facção denominada Comando Vermelho. Este bando, orientado inicialmente por doutrinas insurgentes, era financiado pela venda ilegal de drogas nos presídios e arredores dos subúrbios do Rio. O negócio foi tão lucrativo e vantajoso que, em pouco tempo gerou confrontos e fracionamentos na entidade. A consequência advinda dessa ruptura foi, inicialmente, a criação do Terceiro Comando e, posteriormente a da facção Amigos dos Amigos, hoje, a principal rival do Comando Vermelho.

   Ainda nos anos 80, o crime organizado descobriu que, para expandir seus interesses, seria necessário infiltrar, aliciar e subornar os órgãos repressores. Tendo em vista os baixos salários pagos em algumas dessas instituições, isso não foi obstáculo nenhum. Dessa forma, começou a saga da infiltração perniciosa do crime nos “poderes constituídos”. No Rio de Janeiro, por exemplo, um governo irresponsável e conivente proibiu a Polícia de subir os morros da cidade para cumprir o dever constitucional da manutenção da lei e da ordem alegando, descaradamente, amparo nos preceitos dos direitos humanos. Será que este foi o verdadeiro motivo? Essa decisão, induzida possivelmente por “suborno” e “troca de favores”, foi, salvo melhor juízo, a “inseminação” da célula podre que gerou a “metástase” que colocou em “coma profundo” a segurança pública do Estado do Rio de Janeiro e contagiou inclusive, outros estados da federação.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

No princípio era a mula

     Lages, no planalto serrano de Santa Catarina, foi fundada em 1776 pelos paulistas. Há época, a região pertencia a São Paulo e não passava de um caminho de tropeiros que conduziam mulas das colônias do Prata para Sorocaba. Aproveitei o dia de sol que fez hoje por aqui e tirei alguns retratos do lugar e de algumas mulas. Uma homenagem às mulas, razão do desenvolvmento do planalto catarinense. 
 



Taipas são comuns na região 



A origem de tudo




quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Árbitro de futebol faz propaganda nazista


     Os Pinochistas estão chegando. Os fascistas, os nazistas e os czaristas também. E acharam o melhor lugar do Brasil para se instalarem - os campos de futebol. Personalizados na figura do árbitro, alvoroçam os gramados do país desde o Rio Grande do Sul até Roraima e chegam rápidos e faceiros aos lares tupiniquins via televisão. Num gestual que lembra os falecidos déspotas, arregalam os olhos, berram nos ouvidos dos atletas e erguem o braço tendo à mão um Yellow Card. Coi-ta-do de quem ousar enfrentá-los. “Ah, mas os jogadores são mal educados e folgados”, dirá um telespectador de visão semelhante à de Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo que nasceu no Crato em 1878 e popularizou-se como poeta. Paisano, o comportamento dos apitadores não se limita aos estádios. Qualquer campinho de várzea tem o seu Pol Pot, aquele cacique cambojano anti-intelectual que tantos patrícios mandou para o andar de cima. E é esse o caroço da questão – o anti-intelectualismo. Ditador que se preze, odeia, odeia conhecimento ou qualquer outra coisa que lembre a simples arte de botar a cabeça para funcionar. Cospe veneno quando é questionado. Xinga a mãe, caso a louca invente de perguntar o que o levou a esse ou aquele dele.

      Os sopradores de apito, na graaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaande maioria, detestam futebol arte, futebol de qualidade, de talento. O jogador habilidoso leva bordoada durante toda uma partida, sai quinhentas vezes de campo para receber atendimento médico e a “otoridade” não está nem aí. Pancadaria faz os olhos de um árbitro nazi-fascista delirar de prazer. Agora se um boleiro, dos campinhos de peladas ao São Januário, tentar entender as imbecilidades de um soprador de apito... Braço estendido para o alto. Cartão para o questionador. Claro que tem jogadores mal educados. Tem, contudo, muita gente capaz de conversar meia hora com a rainha da Inglaterra sem cometer uma mísera gafe. Questionar, esse é o verbo maldito para um Czar do futebol. Perguntou, quis saber, punição nele. E como os apitadores não precisam se explicar após um show de lambanças, saem de cena como se fossem deuses.

      De segunda a domingo tem futebol brasileiro na TV. Os exemplos de autoritarismo invadem nossos lares. Até quando aceitaremos esses discípulos de Mussolini proibindo o diálogo? Que se dane o futebolzinho raquítico que jogamos e vemos os profissionais jogarem. O que me preocupa é a proliferação de atitudes arbitrárias. Isso se propaga pelo ar. Acostumamos-nos com esses mandões e daqui a pouco não questionaremos nem quando disserem que existe político honesto.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Carlos Lupi só tem de bobo a mão de mágico




     “Até que a morte os separe” é conversa de amor. E o amor, como já cantou o poeta, é coisa de amador. “Daqui não saio, daqui ninguém me tira” é papo de menino chorão, daquele que deita dentro de uma loja de brinquedos e chora até a mãe lhe dar o carrinho vermelho movido à pilha. Um homem, um cidadão que tem o coração calcinado por centenas e centenas de experiências, sabe a maneira correta de afirmar que não arreda o pé. Principalmente se ele está em cima de uma mina de ouro ou de diamante. O ministro do trabalho, Carlos Roberto Lupi (PDT), deu uma aula de sabedoria no quesito ficar. Não, ele não copiou Dom Pedro I e bradou às margens do Ipiranga “diga ao povo que fico”. Como uma espécie de He-Man do Planalto, sacou a mamadeira e desafiou o todo poderoso Bope: “daqui só saio abatido à bala; e tem que ser bala forte porque eu sou pesadão”. Lupi, meu filho, és um gênio. Pitágoras, Confúcio e Jesus Cristo deveriam voltar a esse mundo velho só para pedir tua bênção e escutar, pelo menos, 50 mil frases de efeito tuas. Saddan Hussein e Kadafi morreram porque não te conheceram, porque não ajoelharam-se aos teus pés e te pediram 0,0001% de tua sapiência. É assim que deve agir um sortudo como você, Lupi. Achou o tesouro, o tesouro é teu. É mete a faca em quem quiser roubar o que é teu. Ou melhor, pesadão com és, senta em cima dele. O Ministério do Trabalho é teu, gurizão, faz a farra.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Convite aos estudantes e simpatizantes


     Aproveitando a onda do “xô polícia”, conclamo aqui a classe estudantil a mais um movimento democrático, educativo e panfletista. E espero que os alunos de seja lá o que for que ora lêem este post saibam ao menos o significado de conclamo. Teve um colega meu na faculdade de jornalismo que botou em um texto três ou quatro palavras diferentes de comida, bebida, sexo e droga. Metade da turma não entendeu o contexto, dez por cento sacou o texto e só ele mesmo ateve-se ao subtexto. Não é à toa que uma pesquisa divulgou que “os estudantes de Comunicação Social têm pior desempenho na escrita do que os universitários da área de exatas, como engenharia, por exemplo”. Um teste feito com acadêmicos de cursos diversos incluía um ditado com 30 palavras e admitia até seis vacilos. 65,5% dos alunos de Comunicação foram reprovados. É que as palavras eram quase que desconhecidas para a maioria deles. Vou citar cinco das tinhosas: desajeitado, autorizar, exceção, seiscentos e anexo. Então, para evitar desconfortos vernaculares, explico antecipadamente que “conclamo” vem do verbo conclamar - bradar ou clamar protestando contra ou reivindicando algo. Vamos à minha proposta.

     Ontem, no jogo do Vasco da Gama contra o Universitário do Peru, trocentos policiais militares entraram em campo para evitar uma briga generalizada entre os atletas. Numa cidade violenta como o Rio de Janeiro o lugar da polícia não é a rua? Clubes, jogadores e empresários não deveriam cuidar da segurança em seus estádios, já que são eles os que enchem o bolso com a dinheirama jorrada nos negócios e negociatas futebolísticas? Vamos lá, estudantes do Brasil, vamos pedir a expulsão da PM do campo. Onde já se viu isso? Enquanto a população é depenada, os policiais cuidam do interesse dos clubes de futebol. E será uma manifestação fácil de ser feitas pelos estudantes. Até os alunos de jornalismo poderão participar. Coloquem faixas com palavras de ordem e pronto. Mesmo erradas, todos vão entender. “Chô puliça” vale. Só não vale pedir para a cocaína entrar em campo. No gramado, no máximo o craque.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A luta dos estudantes

Nessas poucas décadas pelo mundo de Meu Deus, já vi estudantes lutando:

- por melhor qualidade de ensino;
- contra a ditadura;
- contra os altos preços de mensalidades da rede particular;
- por passe livre;
- pela saída de Fernando Colorido de Melo;

Mas agora vejo eles lutando pelo direito de fumar maconha e pela ausência de policiamento. Se não é o fim, é o esgoto que leva até lá.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Tamanduá presidindo o formigueiro

     Poucas vezes fui líder de classe nos meus tempos de colégio. Acho mesmo é que nunca fui. Exerci, algumas vezes, liderança sobre meus colegas, mas sempre me esquivava na hora da votação para escolha. No colégio mantido pela Força Aérea Brasileira, onde alicercei meus conhecimentos, o representante era mau visto pelos companheiros. Era uma espécie de dedo duro, pronto a assessorar o capitão ou o suboficial – diretor e vice, respectivamente. E eu não gostava de entrar na diretoria, nem para ser homenageado. Sábio como era à época, como todo bom adolecente, odiava quando o líder vomitava palavras em nome da direção da escola. “Babaca puxa-saco”, resmungava tão baixinho que apenas o ouvido esquerdo do meu colega mais próximo era capaz de escutar. Nunca fui chamado atenção e muito menos punido pelos militares que mantinham a ordem na instituição. Mesmo assim, não admitia a hipótese de ser candidato a líder. No fundo, no fundo, eu me dirigia direto aos milicos quando precisava conversar sobre algo importante. O líder era, para o Gile, um falso representante. Lembro que uma vez uns companheiros de sala estavam jogando pequenas bolas de papel na cabeça de quem estava na fila da frente. O professor até via o que estava ocorrendo, mas preferia ignorar. Levantei e fui claro: “se jogarem em mim eu vou chamar o capitão”. Pleft. Até hoje não sei quem fez o arremesso. O que sei é que todos emudeceram e ficaram da cor de algodão quando viram que eu me levantava e pedia autorização ao teacher para ir à diretoria.

      Voltei escoltado pelo oficial. Depois de um sabão, os suspeitos tiveram que acompanhar o fardado à sala dele. Ninguém questionou minha atitude, nem mesmo os punidos. Na faculdade de Administração e na de Jornalismo, o representante era uma espécie de menino de recado do coordenador. “Tô fora”, bradava o adulto Gile. Na agremiação religiosa que frequentei desde quando ainda não andava, sempre achei os líderes meio boçais. E me recusava a subir na hierarquia para não ser confundido com um deles. “Não são legítimos representantes do povo e muito menos de Deus”, ponderava o nordestino que aprendia a desconfiar da representatividade. Hoje, na quarta década por esta terra pampa que escolhi para dormir de boca aberta, cuspo na cabeça de quem vem com esse papo de que está falando como representante de um grupo, classe, ou seja lá o que for. Onde já se viu, meu Jesuizinho Cristinho, uma beldade qualquer ter a cara de pau de se achar procurador de um grupo heterogêneo? Um síndico, que é a menor representação administrativa da cidade, não representa os condôminos de um prédio, para se ter uma ideia. Uma meia dúzia de três ou quatro é que colocam o danadinho lá. Legal ele é, legítimo não. 

     Menos de cem alunos da USP (Universidade de São Paulo) decidiram manter a ocupação da reitoria da universidade. E deu um escarcéu danado para tirar eles do recinto. Levando em conta que a USP tem aproximadamente 82 mil alunos, e que alguns desses fizeram manifestação contrária aos desocupados ocupantes, a invasão não era legítima e nem legal. E uma coisa fica clara: se as formigas bobearem, o tamanduá será eleito presidente do formigueiro.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Avaí, meu Avaí

     E o Avaí, hem? Despediu-se, de fato, da Série A. Derrotado pelo poderoso Ceará em Florianópolis, o time de Guga agora só escapa da degola se Jesus Cristo, ele mesmo, entrar em campo nos últimos jogos. E mesmo assim, rezar para que não apareça por lá um Judas.

Eles só querem ter direito


     Eles estão certos. Liberdade, liberdade, liberdade. Direito de ir e vir, de fazer o que bem quer da vida. Fazer o que bem entende, onde der na cabeça e à hora que achar conveniente. Gente do céu, por que negar essa prerrogativa a estudantes? Não foi isso o que fizeram, ou tentaram fazer, com os acadêmicos da USP (Universidade de São Paulo)? Os meninos foram proibidos de fumar maconha. A polícia deteve os rapazes pelo simples fato de eles estarem portando droga. Isso não pode mais acontecer. Se os tais alunos são maiores de idade, pagam suas contas com o dinheiro que recebem de horas e horas de trabalho e não precisam de ninguém para custear nada para eles, acho que não deveriam ser presos. Um trabalhador que pega no batente às oito horas da manhã e só larga as dezoito, depois dessa canseira vai para a USP acabar a noite nas cadeiras de uma faculdade tem o direito de acabar o dia no mundo da lua.

     Mas se a turma da fumaça não trabalha e ainda recebe ajuda dos pais e do país, que coloquem a viola no saco e fiquem pianinho. A faculdade é pública e deve ser regida pela legislação pública. Essa molecada deveria sair às ruas para protestar contra uma educação de baixa qualidade, isso sim. Aí vem estrebuchar para ter o direito a fumar maconha sem ser importunada? Vai caçar um marido, vai, ô fumacento. Vai fazer faxina nas muitas horas vagas que te sobram. Não, preferem invadir a reitoria e dormir até as 11h. A Folha de São Paulo denunciou que a turma da fumaça dorme até próximo do meio dia. Será que ficaram a noite toda trabalhando? Ah, faça-me o favor. E olhe que é arriscado vermos alguns desses viciados assumindo cargos públicos futuramente. Ou seja, a lama que está o Brasil vai continuar por muito tempo. Enquanto a sociedade continuar fabricando pessoas que só querem ter direito, o lodaçal vai continuar.