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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Prefeitura de Picuí defende-se de matéria publicada

     A prefeitura de Picuí/PB entrou em contato comigo para dar a versão dela sobre as críticas que fiz à cidade quando passei por lá no último dia dezesseis. Com a palavra, a defesa:

     "Bom, querido Gilead, li sua matéria sobre minha cidade "Picuí, terra da carne de sol", no entanto vou discordar. Veja só, Picuí amargou por muitos anos o descaso, realmente, mas o prefeito Rubens Germano, vem trabalhando e muito para mudar esta realidade. O montante de obras realizadas no município para melhorar a qualidade de vida da população foi intensa nesta gestão. Sabemos que falta cobrir algumas arestas, mas estamos caminhando. Dê uma olhadinha nos nossos indicadores sociais, afinal de contas estes, independentemente de qualquer coisa, ressaltam a eficácia de uma administração pública. Até porque de que adiantaria a cidade ter monumentos exuberantes e sua população viver miseravelmente, como acontece por este Brasil a fora? Ademais, me coloco a disposição pra qualquer dúvida. Só pra justificar e não parecer que estou mentindo, a pavimentação asfáltica só está assim devido o constante tráfego de caminhões e carretas, uma vez que o município, por ser divisa com o RN, tem um volume muito grande deste meio de transporte, mas sempre são feitos os reparos deste trechos. Quanto a entrada da cidade está cheia de buracos, também é por causa dos caminhões. Não sei se quando você passou na saída viu uma empresa fazendo "tapa buracos". E só pra lembrar Picuí está situada na Paraíba, 4º Estado mais pobre, ou seja, numa região que não recebe tantos investimentos quanto a que você reside. Ah! Nós temos lugares bonitos e bem estruturados tambem, Venham conhecer!"

Rosemary Farias - Assessora de Comunicação 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Galinhos, uma ilha no paraiso praiano do Rio Grande do Norte, abre o porto e espera tua visita


     "É bonito demais", exlamou o maranhense Wanderlei da Silva Melo quando o barco aproximou-se de Galinhos. Câmeras fotográficas dispararam olhares em direção a cidade-ilha. Protegidos pelo costado da embarcação, turistas procuravam o melhor ângulo para eternizarem aquela imagem. Com a colaboração da tecnologia, não ouvirão "isso parece história de pescador" quando contarem de suas andanças pelo Rio Grande do Norte.

Vista de Galinhos

     Para usufruir do mar de Galinhos, é preciso antes gostar de estrada. Saímos de Natal por volta da 7 horas e enfrentamos 160 quilômetros de reta. Não é bem uma reta, mas é quase. O asfalto lembra um tapete com algumas ondulações . Saindo da capital potiguar, segue-se placas para Ceará Mirim, João Câmara, Jandaíra, Macau e Guamaré. O acesso para Galinhos fica entre Jandaíra e Macau. Mais precisamente, quinze quilômetros depois de Jandaíra. Sabendo ler e estando sóbrio, não tem como errar. 

É assim quase todo tempo
Entrada fica no lado direito da BR
     Pratagil. Não confunda com o apelido da filha de Gilberto Gil. Pratagil é o ponto final para os veículos que tomaram o rumo de Galinhos. É um estacionamento mantido pela prefeitura da cidade e com vigilância 24h. É gratuito, embora o vigia Marcelo oriente os desavisados que "se o senhor quiser colaborar...". Colaboramos com R$ 5,00 para cada carro e ele não foi nem um pouco econômico no sorriso. 

Vigia faz cadastro de cada carro e seu motorista


Estacionamento municipal de pratagil
     Deixamos os carros e fomos direto para o píer. 28 barcos fazem o transporte de passageiros. O trajeto não demora 10 minutos. Quanto custa? " Dois reais por cabeça", respondeu um nativo. 
Caso o barco demore...
Quem espera é o transporte, não o cliente
Ao fundo, Galinhos
Chegamos
Hora de desembarcar
      "Galinhos é uma ilha ou uma península, Gilead?", pergunta o leitor mais curioso. "As duas coisas, mô filho". Na maré baixa, uma tira de areia emerge e liga galinhos ao continente. Com um veículo 4X4, ou de buggy, é possível vencer o desafio. Quando a maré começa a encher, Galinhos volta a ser ilha. Ilha ou península? Depende da hora. Por esse motivo a cidade quase não tem veículos, salvo um ou outro buggy desmiolado. Taxi aqui, camarada, é charrete. E logo que cheguei, tratei de conseguir a minha. Não foi difícil, tem sempre uma esperando a chegada dos turistas. Olívia foi encarregada de nos puxar pela estreitas ruas do vilarejo. Paralelepípedo, só em duas ruas principais. As demais, vielas assoalhadas por claras areias.Antiga vila de pescadores, ganhou o nome de Galinhos devido a presença de pequenos peixes galo.

Olívia, motor de um só cavalo
Até que era confortável
Quem vai à praça tem direito a música
     Cinco minutos depois, a cidade já não tinha mais o que esconder; ao menos no perímetro, digamos, mais urbano. Aí alugamos um barco para um passeio pelos arredores da ilha. Chorei um pouco e consegui por R$ 130,00. Economia de R$ 20,00 e um barco só nosso. Visitar Galinhos e não fazer o passeio é como ir ao Rio e não ver o Vasco jogar. Tudo bem, tudo bem, Flamengo, vai. 

Salinas Diamante Branco -sal in natura

     O passeio descortina manguezais ricos em caranguejos, ostras e mariscos. O turista tem direito a mergulho em praias desertas - como a do capim - e um almoço na ilha de Galos. As dunas, vistas isoladamente, parecem o Saara. Nelas, a Rede Globo gravou cenas da novela Cama de Gato. "O senhor assistiu?", perguntou-me o proeiro do barco, Luciano Siqueira da Silva, 29 anos. "Se as novelas dependerem de minha aldiência, estão perdidas", respondi. "Eu trabalhei na produção. Levava o material da equipe. O Marcos Palmeira é gente boa; tratava todo mundo bem. Mas tinho outro ator que era muito besta; não falava com ninguém", contou o galinhense.

Que tal um mergulho?

Praia exclusiva

Tem alguém aí?
Ilha de Galos
Cabe ao proeiro Luciano amarrar o barco
Hora do almoço
Para quem prefere água doce...


Ainda no tempo de antigamente
     Depois de um almoço com vista para o mar, claro, encaramos o balanço do barco e voltamos a Galinhos. O mestre da embarcação, Francisco de Assis da Silva, 53 anos, era pescador de lagostas . Tem 40 anos de marinheiro. É pai de luciano e divergem quanto ao comando do barco: "na verdade, eu sou o mestre e ele é meu proeiro; porque eu tenho curso e ele não", esclarece Luciano. O proeiro é o encarregado do serviço mais braçal - amarra e desamarra o barco, joga e puxa a âncora, etc. Tronco, como Francisco é conhecido, afirma que a vida ficou melhor com o turismo: "ganho um pouco menos do que com a lagosta, mas é mais tranquilo. A pesca era muito arriscada; muita gente morria." Quando nos aproximamos de galinhos, uma embarcação diferente atraiu minha atenção: "é o barco que leva os alunos para fazer faculdade em Macau", explicou Luciano. 





Taxista de plantão

     17h. O sol já bocejava. Era o sinal que eu precisava para voltar. Outra vez, pegamos o barco e navegamos pelo rio Aratuá em direção a Pratagil. "Eu volto", prometi a mim mesmo.


Ao fundo, usina eólica em Guamaré
Pena que o sol se põe tão cedo por aqui


Mais sobre a cidade
População: 2.126 habitantes (IBGE 2010). Na ilha não tem, pelo que percebi - baseado no número de residências, por exemplo -, mais do que 1.000.
Segurança: 03 policiais. De acordo com alguns moradores, não têm o que fazer. A criminalidade é zero.
Área: 342,44km2
Emancipado em: 1963.

Outras fotos de apoio:

Wanderlei ao lada da esposa - admirado com o lugar
Tronco - mestre ou proeiro?



terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma espiadela no sertão do Rio Grande do Norte

     
     Segunda feira, 6h da madrugada. O sol já não era mais nenhuma novidade quando chegamos em Santa Cruz, cidade separada de Natal por 100 quilômetros de asfalto da BR-226. Que, para alegria dos motoristas, está parecendo uma mesa de bilhar. Tudo bem, tudo bem, nem tanto, mas não tem um buraquinho, sequer. Passáramos por Bom Jesus, Serra Caiada e Tangará. Dois ou três milhares de metros antes de descortinar Santa Cruz, já podíamos ver a imagem de Santa Rita de Cássia. O Auto de Santa Rita de Cássia é a maior imagem católica da Terra. Seus 56 metros inaugurados em 2010 fazem o Cristo Redentor, por exemplo, parecer um nanico. O fato é que o município entrou para a rota dos romeiros que abundam por estas pairagens devoradas pela seca. Como cantavam - nem sei se cantam mais, meu Deus! - o Ultraje a Rigor, "dinheiro". "Não seja incréu, Gilead; não desmereça a fé do povo", dirá o mais apegado às paixões da alma. Nesse caso, tenho que erguer os dois braços e capitular: realmente, se não fosse a fé do sertanejo a vida seria bem mais dura do que já é.

Maior monumento católico do mundo

     Uma hora depois, paramos para tomar café em Acari, cidade afamada como a mais limpa do Brasil. Não há sujeira alguma nas ruas. Parece que nem tem fumante lá, porque não vi uma bituquinha, ao menos, jogada na sarjeta. E vamos combinar, fumante que é fumante não está nem aí para o politicamente correto. Ele descarta o resto do vício na rua e quem quiser que ache ruim.



     Nosso giro pelo Sertão nos empurrava para Carnaúba dos Dantas, na divisa com a Paraíba. O calor já não permitia brincar de abrir a janela do carro. Urubú por aqui, meu chapa, voa com uma asa só; com a outra se abana. A paisagem calcinada, no entanto, enche os olhos de quem está sob a proteção de um ar-condicionado.

Serra Rajada
Telha e tijolo, isso dá
Onde os fracos não têm vez
Dá pra ver a casinha? Morar aqui é não exigir muito da vida
     Carnaúba é outro polo de turismo religioso. O Monte do Galo, com as 14 estações da chamada Via Sacra, é destino certo de milhares de romeiros que correm em busca de dádivas celestiais. Ao pé do santuário, anualmente é feita a celebração da Paixão de Cristo. Os atores, vale o destaque, são todos do lugar. No alto do monte, os moradores juram que tem um galo de 5 toneladas. Mesmo sendo igual goiano, que "gosta de pegar pra saber se o trem é bom", preferi acreditar à subir a sauna.

Monte do galo
No alto, um galo de 5 toneladas
     Ao pegar a estrada para Picuí/PB, ainda em Carnaúba, uma construção no lado esquerdo da rodagem chamou nossa atenção. Era um castelo. Um castelo, sim senhor. E o edifício foi usado como cenário do filme O homem que desafiou o diabo.



     Ao entrarmos no Estado vizinho, uma surpresa que nenhum motorista gosta: restos mortais do que um dia foi asfalto misturavam-se com areia. Peeeeeeeeeeeeeeense numa buraqueira. Num pedaço de Brasil dominado pelo sentimento de religiosidade, aí sim precisei exercitar minha fé: fé para fazer o possante terminar bem a viagem. A solução é ter agilidade no braço, boa visão para escolher a passagem menos ruim e exagerar na fé. Porque a fé, "cumpade", a fé não costuma falhar. Picuí. Meeeeeeeeeeeeeeeeeeu Deus. Ah um prefeito naquele lugar. 

Picuí/PB
Tem mais moto do que gente; já capacete...
Bem vindo a Picuí - Entrada da cidade
     Buraco para um lado, Gile para o outro, Buraco para cá, Gile para lá, era preciso encontrar a entrada para Nova Floresta. Parei numa das raras casas que margeiam a trilha - e sou capaz de xingar quem chamar aquilo de estrada - e um morador, rapaz de seus 30 anos, saiu para me atender:
- Bom dia, amigo.
- Bom dia- respondeu o paraibano.
- O senhor sabe informar onde fica a entrada para Nova Floresta?
- Huuuuum, huuuuuuum, o sinhô sobe, quando descer... aí sobe de novo, aí...
- Na segunda descida, é isso? - interpelei.
- É, é... - e olhou para dentro de casa como quem pede ajuda.

     Outro moço, que parecia irmão, acudiu confirmando o que dissera o primeiro. Mais cinco minutos e encontrei o acesso. Dez quilômetros de estrada de terra nos conduziram à casa de Antônio e Francisca, na localidade de Pedra D'água, já no município de Nova Floresta.  O sertão perdera um pouco da carranca. Podíamos ver cajueiros, coqueiros e outras árvores odiadas pelo solo sertanejo. A sisterna atrás da residência, no entanto, indicava que a seca era o inimigo a ser batido. A simplicidade, o carinho e o riso nos serviram um almoço com muita carne, arroz de forno, feijão, salada e suco. Fiquei apenas no arroz de forno e na água de coco. Seu Antônio mostrou-me como faz para alimentar o gado naquele pago tão carente de verde. Uma carroça de burro - veículo comum na região - cheia de palma estava encostada próximo ao galinheiro. "Eu passo tudo na forrageira e dou pro gado; é assim que dô cumida a eles. Planto também um tiquinho de capim elefante pra misturar". 

Sr. Antônio
Sisterna é bem de primeira necessidade
     Antes de partir, soube que na casa contígua morava um ex-combatente. André Ernesto, 90 anos, é conhecido na comunidade pelas tiradas mal-humoradas que costumava responder a interlocutores incautos. "Uma vez", riu dona Francisca, "ele subiu em cima da casa e um vizinho perguntou se ele estava arrumando o telhado, ele disse 'não, estou cavando uma cacimba'". Lúcido, o velho militar apenas sorria quando invocavam suas memórias. 

André Ernesto
O quadro na parede da casa é o orgulho do ex-combatente
     Mais oito quilômetros de estrada de terra. Melhor, bem melhor do que o asfalto paraibano que -"não"- encontrei, e cheguei à sede do município de Nova Floresta. Sem precisar passar a terceira marcha, atravessei o povoado em dois minutos. Um pórtico em construção e um placa ondicavam que estávamos retornando ao Rio Grande do Norte, agora pela cidade de Jaçanã. Um passo pra cá, Paraíba, um passo pra lá, Rio Grande do Norte. Outra vez o asfalto sorriu para nós. Já era noite, apesar de o relógio marcar apenas 18h, quando chegamos em Natal. Foram 500 quilômetros de estrada boa(RN), estrada ruim(PB) e estrada horrorosa(PB). 500 quilômetros de sertão, de força para viver em terras tão malvadas, de obstinação para vicejar onde os fracos não têm vez.




É claro que o que conto aqui são apenas impressões superficiais de um viajante. Ficaria muito feliz, contudo, se a assessoria de imprensa da prefeitura de Picuí entrasse em contato comigo e informasse que o prefeito acordou e vai fazer alguma coisa pelo município que comanda