Utilização do conteúdo

Autorizo o uso do material aqui produzido, desde que seja dado crédito ao autor e não tenha uso comercial

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Maconha, gay e aborto

Como é que vou resolver o problema do Brasil


Se em quem eu votei ontem, me mandou pra pauta que caiu?

Ora, não sei eleger nem síndico, que administra mixaria

Como escolher um presidente que acabe nossa agonia?



Olho os dois candidatos e penso com meus botões

Como fazer a escolha entre esses dois charlatões?

Uma é filha de um governo envolvido em mensalão

O outro é filho de quem vendeu até o sub-solo da nação.



Eita briga de foice no escuro, me acode, Deus do céu

Um tá tão velhinho, coitado, que pra mandá-lo à lona

Basta uma bolinha de papél.



Tenho pressa, Jesus Cristo, dá uma mãozinha, vai

A mulher fez tanta plástica, meteu botox na cara

Que se é coca ou se é fanta, acho que nem ela sabe mais.



Mas a eleição tá chegando e tenho que decidir

Fui ver o programa eleitoral, aprendi foi a mentir

Aonde é que vamos parar, se pra chefe da nação

Teremos que escolher baseado em religião.



De um lado o padre grita: "nessa eu não voto, não"."

Do outro o pastor esbraveja: "não vote nele, meu irmão.

Maconha, gay e aborto são o fiel da balança

Mas no fim da palhaçada, é mesmo o povo quem dança.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um repórter, um polvo e um burro

          O polvo morreu. Assisti, emocionado, a reportagem de hoje cedo na televisão. O repórter relembrava as previsões que o célebre molusco fazia antes de cada jogo da última copa do mundo. A música de fundo e o jogo de imagens quase levaram o profissional da notícia às lágrimas. Eu, confesso, quase chorei. De indignação, meu povo! Imagine só: ligar a TV pela manhã, para me inteirar de notícias importantes, e ter que agüentar um aprendiz de Nelson Rodrigues querendo me sensibilizar com a morte de um polvo. É muita futilidade para minha cabecinha de nordestino. Logo eu, que no fim de semana passado li Memórias de um Burro Brasileiro. A morte de Agapito, o burro brasileiro do livro, dá de 10 a zero no tal polvo. Sim, porque Agapito, assim como Jesus Cristo, São João Maria e Elvis Presley, morreu, mas ta vivinho da silva. Isso mesmo, o burro brasileiro, publicado em 1977, está atualizadíssimo.

          Burros e polvos à parte, como são fúteis as criaturas que habitam esse asteróide pequeno chamado Terra. Como são capazes de apequenarem-se cada dia mais, a ponto de fazer longas reportagens sobre um coitado de um molusco. O falecimento do Mister M da copa ocupou mais tempo do telejornal a que me refiro do que a morte do senador Romeu Tuma, ex diretor do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social – órgão repressivo da ditadura militar ). Nesse caso, e só nesse, até que o polvo mereceu a dianteira. A verdade – e a verdade é a verdade, como diz minha amiga Cristina, de apenas sete anos – é que nem um deles me deixa saudade. Nem o polvo, um fanfarrão criado para iludir, mais ainda, o povo, e nem o Tuma, que durante muito tempo oprimiu o povo.

          Quem sabe o povo, sem polvo e sem Tuma, prefira as memórias de um burro brasileiro. Sheid, meu cachorro, insiste em me dizer que está tendo contato diário com burros brasileiros. Será paranormal, meu pulguento? Sai de retro, Sheid, vai conversar com os assalariados que estão fazendo campanha política para eleger tiranos.
 - O que? Já conversas com esse povo todo dia, Sheid?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O palhço não pode chorar

          É, simpatia, Tiririca está na berlinda. Estão querendo impedir o palhaço de assumir uma cadeira na câmara dos deputados. Aí já seria uma palhaçada. Onde já se viu o cara receber mais de um milhão e trezentos mil votos e não poder atender o anseio de quem o elegeu? “Mas ele é analfabeto!”, exaltar-se-á um afoito. “É ridículo ter um palhaço como deputado federal”, berrará um corno. Sim, paisano, só tendo muita guampa no coco para vomitar tanta besteira. O humorista Francisco Everardo Oliveira Silva ganhou com méritos. Deu a cara à tapa, como diria o mais antigo. Botou o braço na seringa, como diria o profissional de saúde. Botou alguma coisa na reta, como diria o mais desaforado. Escrevi “alguma coisa” para não deixar vermelha uma pudica leitora. Mas se você é um leitor traquina, pode substituir o “alguma coisa” por aquela coisa que está pensando.

          O jornal Folha de São Paulo de hoje informa que Tiririca pode até ser punido, mas não será impedido de assumir o cargo que lhe foi confiado pelos eleitores do mais rico Estado do nosso Brasil varonil. Sei que você, meu chapa, em algum momento dessas eleições, brincou com a candidatura do palhaço cearense. Ouso, entretanto, te perguntar: e com os palhaços nos quais você votou, fez alguma piada? E os vários – e bota vários nisso – ladrões profissionais que mais uma vez foram eleitos, o que você fez para desacreditá-los perante a sociedade? Eu, sinceramente, tenho vergonha de criticar Tiririca. Pois não fiz uma corrente – daquelas chatíssimas que se fazem com Power Point e enchem de vírus nossos computadores – contra os marginais, cheradores de pó, traficantes, sonegadores, assassinos, mentirosos e demais desordeiros que concorreram, e foram eleitos, nessa eleição. Que moral eu tenho para entristecer Tiririca?

          Por último eu quero dizer que o responsável pelo circo verde e amarelo chama-se República. É por isso que Deodoro da Fonseca não queria a República no Brasil. Sim, porque o marechal intentava tão somente substituir o gabinete imperial, no fim do século XIX. Ele sabia que, à época nossa pátria não suportaria uma República. Em uma carta que escreveu ao sobrinho que cursava a escola militar no Rio Grande do Sul, em setembro de 1888, Deodoro afirmou: “ República no Brasil é desgraça completa – É a mesma coisa”. Para o marechal, um país carecia de gente educada e dada ao respeito, para fazer uma República funcionar corretamente. O leitor mais atento perguntará: “Mas não foi Deodoro quem proclamou a República?”. Nesse caso, veja como começou nossa República. Salve, Tiririca.

 
PS: A afirmação de Deodoro pode ser encontrada na página 37 do livro Soldados da Pátria - História do Exército Brasileiro 1889-1937 -, do autor Frank D. McCann, publicado em 2007 pela Companhia das Letras.São 700 páginas indispensáveis a quem tem interesse de saber a verdadeira história do Brasil.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

"Eu quero ser bandido"

          Antes de qualquer coisa, informo-lhe, paisano, que a história que vou contar é a mais pura verdade. Passou-se em uma cidade aqui perto de Florianópolis. Mudarei o nome dos personagens para evitar problemas para eles. Aconteceu com um casal que tem um filho de seis anos. Anos, não, aninhos, para ficar mais meigo. Se bem que, de meigo o guri não tem nada. Ou pelo menos não tinha. O sonho do menino era ser bandido. Isso mesmo, bandido, marginal, ladrão ou derivados. E os pais, coitados, preocupadíssimos com os anseios do pequeno. E vou te contar, o piá é o que costumamos chamar de pestinha. E olha que eu entendo dessas praguinhas. Sou capaz de identificar um garoto ruim no meio de uma plantação de alface. Quando lhe perguntavam o que ele queria ser quando crescesse, não pensava duas vezes: "Bandido". Agora vamos combinar, tem gente que não pode ver uma criança que já vai perguntando o que ela vai querer ser. Sinceramente, se eu voltasse a ser criança e um desgraçado de um adulto me fizesse a tal pergunta, eu seria malcriado e devolveria na lata: “ora, se você até hoje não sabe o que quer ser, eu que sou criança vou saber?!” Voltemos ao animalzinho catarinense.

          De tão preocupados os pais passaram a procurar uma forma de mudar a cabeça do, então, futuro delinqüente. Lembraram que tinham um amigo delegado. Estava feita a armação. Em dia combinado, levaram o admirador de Fernandinho Beira Mar à delegacia. Chegando lá, apresentaram o fulaninho ao homem da lei. Este foi duríssimo:

- Então é o senhor que quer ser bandido, não é? – e deu uma porretada com o cassetete na mesa. Falou aos berros. O inocente arregalou os olhinhos e apertou as mãos protetoras dos pais.

- Venha cá que vou mostrar ao senhor o que faço com os bandidos que eu prendo – e arrancou o anjinho da proteção paterna. Levou-lhe às celas lotadas. O calor era intenso, os presos suados e amontoados, como se fossem animais sem dono,não entendiam o que se passava. O cheiro de urina e fezes, próprio de delegacias convertidas em presídio, deixou nosso capetinha de testa franzida. E o delegado arrastava o cassetete pelas grades da detenção. Era um barulho amedrontador. De volta à sala, o homem deu o golpe de misericórdia:

- É isso que faço com bandidos. E fique sabendo, se o senhor virar bandido eu vou te caçar até achar. E não adiantará se esconder. Vou te pegar. Vou trazer você para minha delegacia. – Disse isso e despediu-se dos visitantes.

         À noite o pequeno não dormiu. Disseram-me os pais que ele não sossegou. A toda hora acordavam ouvindo barulho vindo do quarto do menor. Quando levantaram para tomar café, deram de cara com o convertido filho. Ainda com a carinha de preocupado o pupilo desarmou-se:

- Não quero mais ser bandido.- Fingido desentendimento os pais apoiaram a decisão do rapazola. E nunca mais, e já faz mais de seis meses, o menino falou em ser marginal. Tratamento de choque? Sim. Pode deixar traumas? Pode. Cá entre nós, melhor um traumatizado honesto e dentro da lei, do que um “maneiro” marginal.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O mato do tigre e o campo do gato

          O que comemoramos no dia 22 de outubro? Faço a pergunta porque somos instigados a decorar datas desde os primeiros anos de colégio. Quem descobriu a América? Em que dia? Qual a data que marca o início da primeira guerra mundial? E a da queda da bastilha? Chegavam a me obrigar a saber o dia em que Constantinopla foi tomada pelos turcos! Pode uma coisa dessas? O interessante é que a história do Brasil, a nossa história, ficava em segundo plano. Claro, em segundo, não, em quarto, quinto e sexto. Quer saber se tenho razão? Entre nos portais de história, nos sites de governos e procure saber o que aconteceu no dia 22 de outubro. Se você é catarinense, acesse o site do governo de Santa Catarina. Duvido, com tudo quanto é tipo de D, que você encontre o fato mais marcante na história catarinense ocorrido nessa data.

          Na manhã de 22 de outubro de 1912, no local chamado Banhado Grande, foi aceso o estopim daquela que seria a maior guerra envolvendo o exército brasileiro em nossas terras – a Guerra do Contestado. O Banhado Grande era um povoamento de posseiros onde hoje fica o município de Irani/SC. À época a região era disputada por Paraná e por Santa Catarina. Nunca houve, ressalte-se, um entrevero militar entre os dois Estados. De direito o local pertencia a Santa Catarina. O Paraná não aceitava a decisão da suprema corte e insistia em morder um pedaço do vizinho. Vamos aos fatos.

          José Maria, um curador de ervas e conselheiro espiritual, chegara ao Banhado. Tinha vindo de Taquaruçu. Era um líder religioso. Alguns o chamavam de monge. Devido a uma contenda entre coronéis catarinenses, teve que sair às pressas para os Campos de Palmas – toda a região em que ficava o Banhado Grande estava sob controle do Paraná, e no município de Palmas. Era, na verdade, um território livre. Tinha, entretanto, um dono, o coronel Juca Pimpão, de Palmas. Sem nunca ter colocado os pés por lá, tinha dado um jeito de escriturar tudo em seu nome. O governo do Paraná, protegendo o território e defendendo o interesse do coronel, resolve prender os “catarinenses” intrusos.

          Envia o coronel João Gualberto para o Banhado. A tropa militar era composta por 50 praças e sete oficiais. Confiavam cegamente na metralhadora que levavam. Quando José Maria soube que Gualberto estava chegando, propôs conversar, pois não tinha interesse político nem econômico, estava lá por ter sido expulso de Taquaruçu. Gualberto não deu trela, marchou com seu regimento para amarrar os “desordeiros” e levá-los a Curitiba. Quando o dia clareou deu-se o combate. Morreu Gualberto, Morreu José Maria. A força policial nem chegou a usar a metralhadora, pois essa engasgara. Foi aberto um processo em Palmas, para apurar o combate. É conhecido como o Processo do Irani. Tenho a cópia desse processo digitalizada. Foi feita pelo historiador Paulo Pinheiro Machado e repassada às minha mãos pelo Jornalista catarinense Celso Martins, autor de um magnífico livro sobre o tal combate.

          Ou seja, o Combate do Irani está na origem da Guerra do Contestado. E a data vem e vai, ano após anos, sem ser destacada. Porque será que tentam - e como tentam – esconder a história de luta dos brasileiros? Porque nossos heróis são esquecidos? Será que tem a ver com a formação dos grandes latifúndios? Será que tem a ver com a formação das grandes riquezas? Sugiro, amizade, que adquiras o livro do Celso, O mato do tigre e o campo do gato, e mergulhes no dia 22 de outubro de 1910. Essa, sim uma data que deveríamos ser obrigados a lembrar.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O internauta e o flamenguista

         O que têm em comum o militante político de internet e o flamenguista fanático do meu prédio? Primeiro: nenhum dos dois tem marido. Segundo: são felizes. Terceiro: são portadores de um solitário neurônio. Gente do céu, plena quarta feira, quase meia noite, ouço gritos alucinantes vindo de uma sacada no edifício onde moro. O sujeito berra como se tivesse ganhado na mega sena, ou como se acabara de encontrar  o homem  ideal. “Mengoo, mengo, mengo”. É um desespero total. Torço, e como torço, para o desgraçado do “mengo” não balançar as redes do adversário, seja lá quem esse for. O rapaz, e pela voz sei que se trata de uma pessoa jovem, não tem marido. Se tivesse já teria perdido o vício de bradar “mengo, mengo, mengo”. Torço para que ele encontre o homem de sua vida na próxima parada da diversidade de Florianópolis. O cara, entretanto é feliz. E a felicidade, nesse caso, é derivada da ignorância. Dane-se o mundo, São Pedro perca a chaves do céu, o importante é que o Flamengo faça gol. Pergunte ao gritador, caso você o conheça, quem proclamou a república e ele dirá, tenho certeza: Pedro Álvares Cabral. É fácil ser feliz quando se é desconhecedor da verdade que nos rodeia. Sabendo disso, fica claro concluir a solidão do neurônio que habita o cérebro do meu vizinho alarmado. Alguma coisa poderia ser pior do que ouvir tantos berros? O pior é que sim.


         Todos os dias ao abrir minha caixa de email, deparo-me com algumas mensagens politiqueiras. “Serra é um filho da P. Dilma é uma P. Serra vai governar para a elite, Dilma vai legalizar a corrupção”. Simpatia, no primeiro turno das eleições, teve as disputas para governador, deputado e senador, e alguns colegas meus trabalharam como assessores de comunicação. Aí eu recebia os emails por uma questão de solidariedade aos jornalistas. Agora, no entanto, a coisa passou dos limites. Tem internauta que não tem marido. Tem um camarada – e não vou dizer o nome para não perder a amizade – que me manda no mínimo três emails por dia. Sinto até saudades do flamenguista doente. Definitivamente o meu amigo não tem marido. E sinto, juro por deus, que os boateiros da rede são felizes. Assim como o flamenguista, são frutos da mais pura e brasiliana ignorância. Eles não sabem a forma de governo do Brasil. Sei disso porque eles costumam falar dos candidatos como se estes fossem candidatos a rei, ou a primeiro ministro. “Serra vai acabar com a menstruação obrigatória, Dilma banirá os votos de pobreza de certas classes sacerdotais”. Que absurdo, paisano. Se você é daqueles que me envia email politiqueiro, pare, por favor. Deixe-me dormir em paz.Tem mensagens que é puro terrorismo. Chega a ser nausenate lê-las. Ora, ora, o sujeito gastar o tempo enviando lixo eletrônico para minha caixa. Vai caçar um marido, boca aberta. Tomara que já passe esse segundo turno. Melhor seria se o “mengo” fosse para a série C do brasileiro. Seria o céu. Se bem que para o céu eu não pretendo viajar agora.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Esperteza não tem idade

         O gurí chegou para o pai e perguntou:
- Pai, o senhor sabe fazer sua assinatura de olhos fechados?
- Claro -, respondeu, todo orgulhoso, o pai.
- Pois então, assine aqui meu boletim de olhos fechados.
          É, gente boa, antes de responder alguma coisa, precisamos, antes de mais nada, saber quem está fazendo a pergunta.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Avaí na segundona

 “O Avaí, meu caro, é como uma tartaruga de costas em cima de um poste. Ninguém sabe como chegou lá, mas todo mundo sabe que um dia vai cair.” Foi o que me respondeu um repórter colega que está no Oriente Médio. Isso porque recebi um email dele, contando como estava sendo a viagem pela chamada Terra Santa, e respondi informando que o Avaí – time de coração do moço – estava na zona de rebaixamento do campeonato brasileiro. Os avaianos doentes pode ser que não gostem da declaração, mas os adversários, com certeza, adorarão.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vai um carteiraço aí?

“Sabe com quem você tá falando?”

          Quem de nós nunca ouviu tal frase? Se não ouviu, conhece, de certeza, alguém que teve o desprazer de escutá-la. A pessoa que pergunta, geralmente, acha-se importante demais para ter que se sujeitar às regras e tratamentos dispensados aos comuns. É o conhecido carteiraço. E por mais antiquado que pareça, continua vivíssimo. Agora tem uma situação que me parece sensacional: o cara implora tua atenção, roga para ser ouvido e você não quer perder tempo com um cidadão que não tem a menor chance de latir um “sabe com quem você ta falando”. É que a gente se acostuma com os títulos, passa a respeitá-los e só dá trela para quem os carrega no peito ou na garganta.

          Certa vez, fim dos anos setenta e início dos oitenta do século passado, um amigo meu estava caminhando pelas quadras da Asa Sul, na minha saudosa Brasília. Digo minha porque além de ser a capital do país onde nasci e moro, abrigou-me por alguns anos. Chamo de saudosa porque só quem morou lá conhece as delícias da vida no planalto central. E mesmo com todos os dejetos humanos que os Estados da Federação para lá enviam, Brasília continua firme e forte, feito palanque no banhado. Voltemos ao meu amigo, voltemos à caminhada.

          Quando passou em determinada quadra, que confesso não lembrar qual, ouviu um tímido chamado. Um rapazola com seus dezesseis anos segurava um violão. E pediu que meu amigo escutasse as canções que fizera. Que as avaliasse. Estava aflito por uma aprovação, mesmo que fosse de um incógnito passante. Meu amigo, apesar de desconhecer o projeto de cantor, foi educado e ficou lá ouvindo algumas músicas. Depois o anônimo perguntou o que Marcelo – esse é o nome do meu amigo – achara das composições. O filho de catarinenses mostrou-se impressionado com a qualidade das canções. E foi embora.

          Anos depois Marcelo foi surpreendido com a presença daquele ex-anônimo, agora famosíssimo, empunhando uma guitarra e cantando a plenos pulmões em horário nobre da televisão. E Marcelo lembrou de imediato a música que ouvira anos antes em um banco qualquer de uma quadra residencial de Brasília: “Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você. Não é me dominando assim, que você vai me entender. Eu posso estar sozinho, mas eu sei muito bem aonde estou. Você pode até duvidar, acho que isso não é amor”. Renato Russo não tinha nome, consequentemente não podia ter obrigado Marcelo a ouvi-lo. Marcelo, por sua vez, teve a honra de assistir a um show particular daquele que se tornaria uma lenda da música brasileira. Estamos preparados para escutar quem não tem carteira para nos mostrar?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Um calção velho, uma manga e uma vida besta

          “Um velho calção de banho”, cantou o poeta. Nada muito complicado. Coisa baratíssima. Pode ser o suficiente para alegrar o bendito possuidor. Não é preciso um iate de luxo. Muito menos um jatinho. Uma roupa desbotada pode ser mais do que perfeita para deixar feliz quem a usa. A felicidade é um alvo no qual miramos diuturnamente. O interessante é que as caras “amarradas” se multiplicam ao nosso redor. Será que atiramos tão mal? Qualquer “todavia” é motivo de separação entre casais. Um simples e educativo “não” é mais do que suficiente para um terneiro mamão se achar no direito de não falar com a mãe. Ou com o pai, se o bovino for presente. Queremos mais, queremos mais, queremos mais. A lógica consumista invadiu lares, do mais pobre ao abastado. Um bebê chorão de dez anos não suporta o peso de viver sem uma internet velocíssima. E pensar que eu brincava de ser fazendeiro – e lá se vão algumas décadas, Jesus Cristo! – espetando palitos em pequenas mangas e transformando as frutas em nelores, zebus e charolêses. Os palitos eram os pés dos quadrúpedes. Ah, cheguei a abastecer os maiores frigoríficos da América latina. Enricava enquanto trajava um legítimo calção vagabundo, verde com umas listras brancas. Debaixo da árvore eu comprei uma motocicleta, um opala e um sítio com gado de verdade.

         O tempo vai passando e nossos sonhos vão se concretizando. Um e outro se perdem na estrada do destino. As velhas mangas agora são milhões de reais a serem perseguidos. E as conquistas não trazem sorrisos descomprometidos. Carregam a insônia, a preocupação e os remédios. E me pergunto se aquela “vida besta, meu Deus”, da qual falou Drummond, era mesmo besta. Pensando nisso, eu comprei um jogo de dardos. Sempre quis ter um. Não é um brinquedo caro. Não me pergunte o motivo de não tê-lo adquirido antes. Talvez os bens mais caros tragam mais status. Mesmo sem perceber, somos engolidos pelo capitalismo de fachada. A verdade é que passamos o fim de semana espetando o piso de madeira, a parede e, às vezes, o alvo. Verdade é que depois de algumas horas já dominávamos a arte de lançar as pequenas setas de aço. E fiquei pensando no velho calção de banho, nas mangas e na vida besta.

Diversão barata para o fim de semana


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Cobertura da TV, uma lástima

          Um palhaço fazendo graça no semáforo. Um dublê de filmes de ação. Um Cléber Bam-Bam, musculoso e com dificuldade em conjugar verbos, repetindo: “Faz parte”. Um trapezista de circo. Um domador de leões. Um lutador de luta livre em ação. Um mineiro chileno mostrado ao vivo para o mundo todo via televisão e internet. O que eles têm em comum? Todos são parte do espetáculo. Exceto o mineiro chileno. Ele é o próprio espetáculo. Não é preciso de mais nada, além dele, para que se faça o show. Com uma pequena diferença: todos os outros ganham para assumir os papéis. O sul-americano em destaque, não. Pobre está, pobre ficará. Para ser sincero, acho que ficara em maior penúria depois da festa. Dentro de poucos dias as câmeras mudarão de lugar. Repórteres buscarão novos atrativos. E o mineiro, coitado, terá que arcar com as conseqüências dos 68 dias debaixo da terra.

          Hoje cedo, liguei a televisão e vi o sensacionalismo que se fazia com o resgate dos mineiros que estavam 700 metros abaixo da superfície. Não se falou em outra coisa durante todo o jornal. Notícia barata, audiência garantida. Na superfície. Todos queriam mostrar o resgate. Não; todos queriam ser vistos mostrando o resgate. Milhares de equipes de televisão de todo o mundo estão lucrando com o caso dos mineiros. Políticos aproveitam para buscar promoção. E quando o assunto for esquecido? Os operários dos subterrâneos terão condições psicológicas para enfrentar o trabalho outra vez? Ouvi um dizer que nunca mais entraria em uma mina. Vai fazer o que da vida? Morrer de fome? Pedir esmolas? Roubar? Virar assaltante de banco, odiado pela sociedade que hoje o aplaude? O que será do amanhã desses chilenos?

          Será que as emissoras de televisão vão criar um fundo onde depositarão parte dos seus lucros com o episódio, para depois premiar os participantes do maior “big brother” de todos os tempos? As reportagens que vi, todas, diga-se de passagem, ficaram na superfície do problema. Nenhuma desceu os 700 metros da questão. Ora, ora, um político prometer apoio psicológico às vítimas é um simples abrir de boca e emissões de palavrórios vazios. Uma lástima a cobertura da TV.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Herdeiros das mesmas sacanagens

          Que fique claro: sou brasileiro. Como você, catarinense, pernambucano ou carioca que está lendo este conteúdo. Digo isso porque tem gente - e como tem, meu Deus! – que entende ser o Estado onde vive, um país. Ora, ora, tupinambá, como brasileiros que somos, podemos, e até devemos, criticar qualquer unidade da federação. Claro, se o senhor ou a senhora não gosta de exercer o criticismo, é uma opção que precisa ser respeitada. Eu, particularmente, habituei-me a não crer em algo que não resiste a uma enxurrada de críticas. Por crítica entenda-se uma apreciação minuciosa, sistemática e aprofundada de alguma coisa. E quando critico algum catarinense, não o faço por mera satisfação em denegrir a imagem do meu patrício. Moro e pago meus impostos – que são muitos, diga-se de passagem – em Santa Catarina. Tenho direito constitucional de escrever sobre quem bem entender. Desde que seja verdade. Ontem um leitor questionou-me por não fazer críticas aos políticos nordestinos. Chega inclusive a citar Édson Lobão, Renan Calheiros e Sarney. Mama mia.

          Como diziam os mais velhos do que eu: dileto leitor, não me tome por insensato. A referida trupe já está por demais condenada ao limbo. Nem merece minha espetada. Vou dar tiro em pomba morta? Só não sei por que algumas oligarquias do sul do país ainda sobrevivem. Aliás, sei. É pelo mesmo motivo que ainda resistem as do nordeste: a ignorância dos eleitores. Muitos políticos nordestinos encheram o bolso explorando a pobreza. Faziam questão de mostrar as mazelas da região, assim conseguiam amealhar fortunas, teoricamente para salvar a população. Avarentos. Sulistas, por outro lado, enricaram escondendo a miséria. E isso não é falácia, basta estudar a colonização catarinense, por exemplo. A coisa vem desde o início da república, quando a tônica era europeizar o Brasil incivilizado. A Guerra do Contestado nada mais foi do que uma demonstração de força da elite de Santa Catarina. Eliminaram os pobres que viviam na região disputada por paranaenses e barrigas-verdes. O caboclo do sul sempre foi discriminado. A pobreza foi, e continua sendo, jogada debaixo do tapete.

          Mazelas, prezados, há em todos os Estados brasileiros. Pobres e miseráveis, também. Não podemos é ser manobrados por gente inescrupulosa, insensível à súplica do irmão. Precisamos conhecer nossa história , não omiti-la por questões mesquinhas. Já parou para pensar, simpatia, na exposição midiática da Guerra de Canudos? E porque não se fez o mesmo com a Guerra do Contestado? Vou te falar o que ouvi de dois escritores, um catarinense e outro paranaense: “Fui ameaçado de morte, caso publicasse alguma coisa sobre o que foi feito com as terras do Contestado”, revelou-me o catarinense. E isso há pouco tempo. Porque se ele fosse a fundo na questão da origem da riqueza de algumas famílias tidas por nobres, revelaria que de nobre eles não tem nada. O paranaense foi expulso do cartório de Palmas, quando começou a pesquisar a formação de latifúndios em seu Estado. Quem o expulsou? Os donos do Estado.

          Aí vem um ignorante da historiografia brasileira querer me criticar por “falar mal” de um catarinense? Poupe-me, coronel. Em nossas veias corr sangue indígena. E penso que devería-mos nos orgulhar de tal origem. Somos frutos dos mesmos adultérios, filhos da mesma prostituição e herdeiros das mesmas sacanagens. Aproveito e sugiro uma leitura para o feriadão: Casa grande e senzala, de Gilberto Freyre. 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Aprendendo a falar pornofonês

          Ontem me perguntaram se eu havia jogado na mega sena. Hoje cedo me perguntaram, outra pessoa, diga-se de passagem, se eu era o ganhador da bolada de mais de cem milhões de reais. Convictamente informei que não tinha jogado porque não queria ter ganhado a montanha de dinheiro. O cidadão achou que eu estava brincando e tive que lhe explicar que muito dinheiro de uma vez só não me faria bem, pelo contrário, traría-me sérios problemas. O rapaz até concordou comigo, depois de alguns questionamentos. Quando disse-lhe que, porém, sentia inveja de Vargas Llosa, ele ficou sem entender. Primeiro o camarada não tinha nem ideia de quem era Llosa. Segundo não entendia como um anônimo podia causar tal sentimento em alguém. Expliquei ao cego que Vargas Llosa é um escritor peruano ganhador do prêmio Nobel de literatura de 2010. Contei que o resultado do prêmio saiu hoje às oito horas da manhã – horário de Brasília. Ele pareceu atordoado com minha suposta inveja.


          É verdade, simpatia, Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, 74 anos, é apenas o sexto escritor latino americano a ganhar o cobiçado prêmio. Quem me dera ser apenas um rapaz latino americano com um Nobel de literatura no bolso. Juro por Deus, não trocaria nunca por uma mega sena. Até porque o Nobel traz, em seu bojo de benefícios diretos, mais de um milhão de dólares como prêmio. Dinheiro a parte, deve ser inexplicável a sensação de ganhar o prêmio concedido pela academia sueca. O Brasil não tem nenhum vencedor. O Chile tem dois. O ex-presidente José Sarney está tentando. Ana Maria Braga também. Escritores, os tais. Depois que Tiririca foi eleito deputado federal, acho que estamos em acelerada marcha ré. Depois que o STF cassou a obrigatoriedade do diploma em jornalismo para o exercício da profissão, conviveremos ainda mais com mutiladores do idioma que consagrou Camões.

Como canta Flávio José,

Um país que perdeu a identidade


Sepultou o idioma português


Aprendeu a falar pornofonês


Aderindo à global vulgaridade.

É, camarada, fica difícil fazer um Nobel.

O pior cego é o que não quer ler.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Para com isso, rapaz

         O cidadão compra um terreno, contrata um escritório de arquitetura e constrói uma casa de alto padrão. Outro indivíduo, menos endinheirado, adquire uma casa de dois dormitórios financiada em 456 anos. O que as duas residências terão em comum? Até Ana Maria Braga é capaz de acertar a resposta: um lugar para guardar tralhas. E sempre temos coisas sem valor para esconder das visitas. Quando um amigo, ou amiga, combina de aparecer, nos preocupamos logo em limpar a sala, ocultar hábitos cotidianos e simular organização. Lógico, tem gente que faz isso normalmente. Outros, entretanto, precisam de um empurrãozinho. E não adianta o visitador implorar, não vamos mostrar a bagunça. Essas coisas não devem ser compartilhadas, a não ser com os de casa. O interessante é que agimos assim também com nossos valores abstratos. Costumamos expor comportamentos tidos como saudáveis, camuflamos, digamos assim, sentimentos menos toleráveis – cólera, avareza e inveja, por exemplo.

          Quando criança – e lá se vão décadas, meu Deus! – sempre que este incircunciso cometia algum ato falho em família, dona Margarida advertia: “Costume de casa vai à praça”. É a mais pura verdade. Nossos hábitos particulares são levados à coletividade. Nossas, praças, ruas e avenidas são tsunamis de ações individuais que quando somadas causam horror. O que acontece é que acostumamos nosso olhar. Não nos impressionamos quando vemos mendigos dormindo sob marquises de lojas. Fazemos ouvido de mercador quando ouvimos pessoas vendendo pessoas em pequenos panfletos nas vias mais movimentadas. Ignoramos os andrajos humanos que se deterioram pelas sarjetas suplicando uma dose a mais. Não “estamos nem aí” se o miserável não tem banheiro público para fazer suas necessidades básicas de asseio. Ficamos indignados, porém, se um mequetrefe se atreve a retratar essa realidade.

          O jornal“Folha de São Paulo traz hoje uma matéria cujo título é: "Google Street View" gera polêmica com imagens constrangedoras pelo país. Depois relata quais são as tais imagens: “Um homem de olho nos cartazes de um cinema pornô, uma prostituta e um travesti com os seios ao léu, um bêbado caído na sarjeta, um rapaz coçando o sexo, alguém passando mal numa poça de vômito e um pedestre defecando na calçada”. Ora, ora, simpatia, deveríamos ficar revoltados com nosso modo de vida. Injuriados com os homens que elegemos para nos governar. Não, aceitamos passivamente nossas mazelas. E depois achamos ruim quando alguém, por motivos os mais diversos, abre nosso quartinho de tralhas e descobre nossas mazelas. Voltando a minha infância, recordo um locutor que sempre dizia: “Se você não quer que os fatos sejam divulgados, não deixe que os mesmos aconteçam”. Deu.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Seria o voto uma troca?

          “Uma pessoa, no interior do Pará, não tem esclarecimento nenhum sobre ficha suja. Se o candidato chega e oferece umas telhas, o coitado vende o voto”. Essa frase veio de um eleitor de Florianópolis. Confesso que fiquei pensativo e remoendo as palavras do sulista. Lembrei de uns cartazes que vi na serra catarinense. Dizia mais ou menos assim: “Sou serrano, voto em Colombo”. Para quem não é de Santa Catarina, e não está por dentro da eleição daqui, Colombo é o candidato eleito para governar o Estado natal do tenista Guga. Ora, a propaganda deixa claro que um serrano teria por obrigação votar em outro serrano. E por quê? Porque Colombo governaria, teoricamente, com os olhos voltados para a região onde nasceu. E o que é isso, se não uma troca?

          Estava ouvindo um programa de rádio, ontem a tarde, quando o jornalista perguntou se Lages – cidade onde nasceu o político em questão – seria beneficiada com a eleição de Colombo. A resposta, tida como normal, foi positiva. O jornalista entendeu que é natural o candidato cuidar da cidade de onde veio. E se é assim, o voto é uma relação de troca. Na capital deste Estado, Ângela Amim, foi a candidata mais votada para o governo. Por quê? Pelo mesmo motivo.

          Marina Silva arrastou quase vinte milhões de votos na corrida presidencial. Por quê? Por ser religiosa e carregar a bandeira anti-aborto - pelo menos para mim, esse foi o motivo da enxurrada de votos. E o que é isso? Uma relação de troca. Fui perguntado várias vezes, nos últimos trinta dias, em quem iria votar. E ouvi trezenas de amigos meus, jornalistas assessores, pedindo-me o voto. O argumento era um só: “Com esse cara, nós só temos a ganhar”. O cara foi por minha conta. Outra vez pergunto: não fica caracterizada a troca?

          Gente boa, o eleitor paraense citado no primeiro parágrafo, sou eu. É você. Somos nós. Ele talvez seja um pouco mais imediatista. Não seria porque as necessidades dele precisam de soluções urgentes? Cada um de nós votou, e vota, pensando no próprio umbigo. Tanto é verdade que os candidatos fazem promessas às classes específicas. E, para ser sincero, não vejo ilegalidade nem ilegitimidade nesse jogo de interesses. O tão falado processo democrático funciona assim. O que não podemos é sermos míopes e só perceber a troca de voto entre pessoas pobres. Até porque, vamos combinar, nossa elite cheira mal.  E como diz o deitado: "Farinha pouca, meu pirão primeiro".

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Moradores do Centro de Florianópolis reclamam dos carros estacionados em locais proibidos. Ontem acompanhei um senhor que ligou três vezes para a Polícia Militar solicitando ordem na rua. Uma viatura esteve no lugar e "não viu irregularidade nenhuma", de acordo com o agente André - plantonista que atendeu o cidadão. Outra viatura alegou que os carros estavam em locais proibidos, entretanto "não atrapalhavam o trânsito". E aí, o que achas do argumento do militar?
Mesmo com a reclamação dos moradores, que dizem ter dificuldades para entrar e sair de suas garagens, a polícia - com p minúsculo, nesse caso - fez vista grossa.

Ôpa, em cima da calçada, policial? Nada de errado? 


Ah, entendi porque o fardado não encontrou irregularidade... Repare onde ele para a motocicleta! No meio da rua! Perdoa-lhe, pai, ele não sabe o que faz.

domingo, 3 de outubro de 2010

Santinho ou sujinho?

Em Florianópolis os candidatos mostraram que não conseguem respeitar o espaço público. Imagine, paisano, como eles pretendem agir depois de eleitos. Isto é só uma amostra.



Na saída da seção eleitoral, o eleitor pisou nos santinhos dos candidatos. Tomara que tenha pisado no candidato santinho quando votou. Venhamos e convenhamos, santinho, não, sujinho.

E você, votou no santinho, no sujinho ou foi lá só para sujar os pés?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O ateu, a religiosa e o menino

          Ele tinha não mais que seis aninhos. Foi levado à poltrona pelas mãos cuidadosas de uma aeromoça. Desde o momento em que se sentou não largou uma pequena lousa de 15x10cm. A caneta quase não obedecia aos movimentos que tentavam desenhar alguns animais. Trinta minutos após a decolagem o avião começou a balançar. Uma forte turbulência insistia em fazer valer a lei da gravidade. Portas bagagens começaram a se abrir. O serviço de bordo, que recém tinha se iniciado, foi suspenso. O pavor tomou conta da aeronave. A iminência de queda fez até um ateu confesso implorar ajuda divina. Só um passageiro parecia tranqüilo. Parecia, não. Ele estava completamente relaxado. Apagara e redesenhara um cavalo várias vezes. Agora, com o sacolejo, a tarefa era quase impossível. Ele, entretanto, insistia.

          Só então uma senhora, que já implorara a proteção de 17 santos, oito anjos e uma virgem, e continuava na mesma, notou a calma sentado ao seu lado. Não perdeu tempo, a religiosa, e perguntou: “Menino, você não está com medo que o avião caia?”. O guri olhou apenas com a ponta direita do olho direito e respondeu: “Não; o avião não vai cair”. Sem entender tanta convicção, quando o momento era de uma quase certeza contrária, a amedrontada não se conteve: “Como é que você sabe que não vai cair?”. Nova olhada com a ponta direita do olho direito: “É que meu pai é o piloto”.

          Em quem depositamos nossa confiança?, pergunto. Domingo tem eleição. As crises mundiais não dão trégua. Ontem os equatorianos viveram horas de pânico, com o presidente feito refém. Outro dia Honduras vivenciou um golpe de estado. Os panelaços argentinos não arrefecem. No Brasil, a corrupção deixa as pessoas sem um atendimento hospitalar digno, as escolas aos frangalhos e a segurança pública depauperada. Sem falar nas tão faladas, e pouco entendidas, crises financeiras. A quem daremos o controle da nação? Dia desses perguntaram a diferença entre o político e o ladrão, e a resposta foi: “O político a gente escolhe, o ladrão escolhe a gente”. Tente, paisano, mas tente mesmo, achar alguém digno de conduzir nossa aeronave – Estado ou nação. Não se deixe escolher; escolha.Não esqueça que em breve poderás ser pretenso ateu, a religiosa ou a criança.