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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Um coice na cara

     Dizem que os bichos são brutos, não pensam e não têm inteligência. Como diz o ditado, “cada quá com seu sarapiquá”. Eu, do meu lado, acho-os sensíveis, imaginativos e espertos. Não esperto no sentido de enganador, como se diz do jogador de futebol que ludibria o árbitro. Não esperto no sentido do guri, ou da guria, que engana o pai e a mãe dizendo que vai dormir na casa da amiga (o) e cai na vadiagem. Não esperto no sentido do político que gasta na campanha muito mais do que a soma de todo o salário que ganhará durante o mandato, sabendo que a teta pública é como a ponta de um iceberg, ou seja, o salário declarado é quase que uma gorjeta. Não esperto no sentido do empresário que apesar de andar de iate, recebe restituição do imposto de renda. A esperteza dos bichos é muito mais nobre. Falemos dos bovídeos.



     Outro dia, Bibigul deu-me uma aula de cidadania. Trata-se de uma terneira com seis meses. Leva esse nome em consideração a uma personagem do livro O Livreiro de Cabul. A matrona comia desesperadamente. E a minha Bibigul não é diferente. Sabendo que sempre lhe dou alguma comida especial, toda vez que ela me vê caminhando pelo pasto, dispara em minha direção. Os olhos da quadrúpede chegam dois metros na frente do corpo. É de assustar quem não a conhece. Quem a conhece gosta. Como dizia Chico Buarque, “Amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita”. No entanto ela me lembra um coco-da-baía e um serrote embrulhados num jornal. Jipão detesta a coitada. Jipão é o nome de outra bezerra. Tem esse nome devido aos peitos exagerados que tem, apesar de ainda não ter feito o primeiro aniversário. O que tem a ver Jipão com mama grande? É uma história que contarei outro dia.


     Jipão e Bibigul têm os mesmos direitos no sítio. Jipão, entretanto, acha-se privilegiada. Deve ter a mentalidade daquele motorista que acredita que pode passar na frente de todos os carros que estão na fila do engarrafamento. Quando ela percebe a presença de Bibigul, corre para lhe dar cabeçada. Na hora que ganham ração, nem se fala. E foi numa dessas horas que Bibigul mostrou o que é ser cidadã. Ela estava comendo. Jipao veio babando para agredi-la. Bibigul esperou a aproximação e “pá”. Deu-lhe um coice no meio da cara. Jipão ficou desnorteada e saiu de banda. Bibigul, calmamente, exerceu o direito de comer. Entendi que entre eles a cidadania é conquistada, não vem de “mão beijada”. Pois, é.

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