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quinta-feira, 14 de julho de 2011

É o boi, é o boi, é o boi

     É corno, sim. E por ser corno tem o meu perdão. E peço gentilmente a vossa senhoria que faça o mesmo. Perdoe o pobre coitado, paisano. Entenda a dor de quem carrega duas pesadas guampas na cachola. Como exigir que ele seja racional? Como esperar que o danado tenha lampejos de lucidez? Não, isso seria como demandar honestidade por parte de quem administra o dinheiro alheio. E aproveito para perguntar: conheces, simpatia, um vivente, nesse torrão descoberto por Cabral, que lida com dinheiro de terceiros e não tira proveito? Diz-me o nome do tinhoso, suplico. Lógico, há empresas que tem todo um sistema de controle pronto para pegar o meliante com a boca no doce. Não me refiro a essas. O que eu duvido, com um d do tamanho do cristo redentor , é que um gestor da grana de outros não se locuplete com tal atividade. Saliento que o fato de não conhecer um não significa que o dito cujo seja irreal. Imploro, diz-me o nome dele. “Ah, Gilead, você está sendo pessimista demais”, dirá o leitor puro. Pessimista pode ser, ingênuo não.
 
     Voltemos ao galhudo. Ele não é mau. Claro que não. Ele sofre, é isso. Os indesejados adereços que a amada lhe presenteou tolhem o raciocínio. Ele só pensa em avançar. E avançando incomoda. Na tentativa de chegar, passa pela direita, pela esquerda e pelo meio – caso haja uma terceira pista. O corno é, antes de tudo, um costureiro. Enfia os chifres na traseira de quem está na frente. Amiúde, arregala os olhos. Grita. Xingam-lhe. Ofendem a mãe dele. A dor da traição não permite-lhe ouvir. Tal qual um touro enfurecido na arena, o torpor provocado pelas estocadas do toureiro – no caso, o sócio de cama – há muito dissiparam-lhe os bons modos ao volante. Acelera. Buzina. Pisca os faróis. Guardas de trânsito, patrulheiros de plantão, não multem esse sofredor. E como essa espécie se prolifera em nossas estradas! Você guarda uma distância segura para o carro da frente; é cuidadoso. Eis que surge o corno, entra na brecha. O trânsito está lento. De repente um bólido avança pelo acostamento, é o boi.
 
     Só um corno, meu chapa. Só quem espera flagrar a mulher em pleno ato de traição pode guiar um carro desse jeito. Se você, caríssimo leitor, costura no trânsito, é uma exceção, óbvio. Você não é corno, claro que não. Agora se conheces um, e sei que conheces, manda este texto para ele. Acrescenta, peço-te, a foto de um guzerá.

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