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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Merda! Pisei!




          Quem nunca pisou que atire a primeira merda, quero dizer, pedra. Não é fácil encontrar alguém que nunca pisou em cocô de cachorro, principalmente se o tal alguém costuma caminhar pelas ruas do Centro de Florianópolis, próximas à Beira-Mar Norte. Já tem até rua sendo, malvadamente, chamada de: “A Rua do Cocô”. Não, não é gracinha, não. A tal rua é a Duarte Schutel, localizada em uma área de classe média da capital catarinense.




          Pode passar lá em qualquer horário do dia e conferir. É preciso ser um Garrincha para driblar as pérolas deixadas pelas centenas de cães que desfilam diariamente sobre as calçadas da rua. Quem batizou a via de Rua do Cocô? Não se sabe bem ao certo, o que se sabe é que a fama está se espalhando. Mary Virgínea(foto), 32 anos, é auxiliar de serviços gerais da Companhia Melhoramentos da Capital (COMCAP) – que desenvolve serviços de limpeza pública em Florianópolis – e sabe na ponta da língua, ou da vassoura, qual o apelido dado a Duarte Schutel: “Rua do Cocô”, diz com dois centímetros de riso escapando pelos cantos dos lábios”.




          Mas a rua não está sozinha no fedido ranking. Ela tem seriíssimas adversárias que estão dispostas a tomar seu posto. É uma tarefa difícil, uma vez que a Rua do Cocô é rota de cães que buscam a Avenida Beira-Mar Norte para passear. Falando em Beira-Mar, um dos endereços mais valorizados da capital catarinense, e um ponto de encontro de esportistas anônimos da Cidade, a situação também não é nada boa. A bancária, Denise Ramos, 50 anos, costuma caminhar por lá e não titubeia: “É um nojo, acho que se a pessoa quer ter cachorro, e passear na via pública, tem que andar com uma sacolinha para apanhar as fezes dos animais. É nojento, mas tem que ser assim”.

          Agora imagine como ficam os zeladores dos prédios do lugar, tendo que manter as calçadas dos edifícios sempre limpas para agradar os exigentes condôminos. José Manuel Vicente, 43 anos, é auxiliar de serviços gerais em um condomínio da região e revela como os crimes acontecem: “O cachorro faz cocô, o dono olha para o lado, não vê ninguém e se manda. São safados pra caramba”. O caramba é por nossa conta, para não publicar o palavrão dito por Vicente.
          O que está acontecendo, de fato, é um crime. Espere um momento, você pode estar dizendo, o que tem a ver fezes de cachorro com crime? É que a Prefeitura Municipal de Florianópolis criou uma lei, em dezembro de 2001, que tornou crime a atitude imoral de alguns cachorros(veja artigo 14) . Afinal de contas aonde já se viu. Fazer as necessidades aos olhos de quem passa e, ainda por cima, não recolher! E tem, inclusive, punição para quem desobedece: multa de 5 a 500 UFIRs. Houve até uma campanha publicitária(foto), para conscientização da população canina, ou foi para os donos dos cães? O slogan era: “Não faça do seu amigo um fora da lei”. Sim, e ainda restam alguns outdoors espalhados pela cidade. Na Praça Esteves Júnior, bem próximo a Beira-Mar os transeuntes podem ver e se deleitar com os dizeres do cartaz. Ao explicar a lei o redator, ou seja lá quem foi que escreveu, colocou: “As fezes dos animais devem ser recolhidas”. Não funcionou.





Poder público é inoperante


          “Não funcionou e não vai funcionar” profetizou Maria da Graça Dutra, diretora da Coordenadoria do Bem-Estar Animal. O órgão foi criado em 2005 pelo atual prefeito de Florianópolis, Dário Berger, e visa solucionar problemas ligados a animais na capital. Para a coordenadora a solução do problema passa por uma mudança de mentalidade. “Eu morei 15 anos na Europa e lá as pessoas temem prejudicar o vizinho. Aqui o problema é falta de educação, de cidadania”, desabafa. “E tem mais: uma lei para pegar tem que ter fiscalização, eu nunca vi ninguém se multado por não recolher fezes de cachorro”, complementa Maria da Graça. Para ela o problema é da Vigilância Sanitária, que não faz a devida fiscalização. Fomos até a sede da Vigilância e o que ouvimos foi algo bem diferente. De acordo com um fiscal sanitário que não quis se identificar, “para não ser punido”, a fiscalização existiu até a criação da Coordenadoria. “Depois disso a coisa degringolou”. Ou seja, enquanto o poder público se debate em contendas de repartições e cargos, as ruas do centro ficam na merda. Literalmente na merda. De cachorro, óbvio, mas é merda.

          Voltando às ruas percebemos que grande parte dos cachorros está civilizada. Sim, civilizada. Não são todos delinqüentes. Muitos andam acompanhados por donos que carregam na mão, ou no bolso, uma sacolinha plástica para recolher o cocô dos caninos. É o caso do administrador de empresas Eduardo Figurelli(foto), 50 anos, que possui dois cachorros, um Chau-Chau, de nome Buffy, e o outro um Yorkshire que atende pelo nome de Pappy. Figurelli diz que anda sempre com um saquinho e que, às vezes, chama atenção das pessoas que não recolhem os dejetos dos cães. Adelaide Link, 54 anos, é assistente social e possui um cão da raça Poodle chamado Pipoca. Ela avisa que leva o animal três vezes ao dia para passear e fazer as necessidades. “Eu já tenho o hábito, só saio de casa com ele se for com o saquinho”, orgulha-se mostrando o pequeno embrulho preso à corrente do animal. Ainda conforme a assistente social existe algo bem pior que as fezes dos cachorros: “os freqüentadores do El Divino – uma conhecida boate de Florianópolis – fazem xixi nas calçadas dos prédios próximos. Isso sim é um problema sério", minimiza.



          Já que voltamos às ruas, agora é a vez de retornar aos zeladores. Até porque as cacas, como carinhosamente algumas donas de cachorros chamam as fezes, continuam incomodando. O que tem de calçada suja! Os pedestres pisam e saem pintando o passeio com o solado dos calçados. Um nojo! É aí que entram em ação, eles: o balde com água e o vassourão, sem esquecer o detergente. Mãos à obra pessoal, antes que mais gente pise. E quando vassoura, balde e detergente não é suficiente? Aí vem a tropa de choque: Mangueira na mão e muita água. Opa, muita água? Sim, bastante. Mas, e o problema da falta de água em Florianópolis? No verão a Companhia Catarinense de Águas e saneamento (CASAN) chega a multar quem for pego lavando calçada. Percebeu o problema? E agora, o que fazer? Dentre as várias pessoas entrevistadas uma apresentou a solução: Luiz Carlos Juttel(foto), 52 anos, zelador de um prédio na Rua do Cocô, quer dizer, Duarte Schutel. “Eu acho que quem quer andar com cachorro tinha que andar com uma sacolinha e uma garrafa com uma mistura de água e detergente. Quando o cachorro fizesse cocô ele apanharia, quando fizesse xixi, ele jogaria água. Ficaria tudo na boa”.




          Lembra da funcionária da COMCAP, citada no início da matéria? Sabe o que ela achou da idéia? “Achei ótima”, festejou. Já o médico Valmor das Tantas (ele pediu para não divulgar o sobrenome) achou ridícula. Ele tem um cão que o acompanha em seus passeios matinais sem a guia. “A urina é pouca; não precisa ficar neurótico. Com as fezes eu concordo; com a urina... aí não”.

          Ouve um tempo em que o cigarro era aceito em todo e qualquer ambiente. Quem não fumava era obrigado a conviver com a fumaça alheia. Hoje a situação vem mudando, as leis estão aparecendo e ensinando que o vizinho precisa ser respeitado. Será que vamos esperar leis rígidas, que punem os infratores, para aprendermos a respeitar os outros em seus direitos básicos como o de ir e vir? Enquanto isso sigamos de olhos bem abertos e narinas bem fechadas. Nossos passeios serão bem melhores e nossos pés bem mais limpos, principalmente quando caminharmos em certas ruas do Centro. Achou que iríamos falar na Rua do cocô, não é?

5 comentários:

  1. Acredito que ter cachorro e "nojo" de juntar as fezes não é a questão. O problema é a falta de cidadania, a falta de respeito ao próximo, é não saber viver em sociedade. Se apenas o "nojo" fosse problema seria fácil resolver...pagariamos alguém para fazer esse serviço. Se temos cidadaos que são pagos para limpar as "sujeiras" deixadas pelos HUMANOS" tão "nojentas"(se não mais) quanto as as fezes caninas. Ser HUMANO joga lixo no chão, faz dos rios seus esgotos, urina na rua mesmo tendo banheiro por perto. Aliás, uma boa idéia para um novo artigo...já pensaram se cada vez que o ser HUMANO suja o meio ambiente ele apanhasse e pagasse uma multa?
    Ter nojo de fezes é simplificar o problema.

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  2. Vou trabalhar em cima da idéia que você me deu. Valeu.

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  3. e quando o coco é feito no meio da rua. tambem é crime, e os viralatas como ficam nessa?

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  4. É UMA TOTAl DESCOMPOSTURA TER UM CACHORRO DENTRO DE CASA E ABRIR O PORTÃO PARA ESTE CAGAR NA RUA. Não existe educação ,ética nem moral para uma pessoa dessas ter algum bicho de estimação .Não tem nem o mínimo de respeito ao bem estar dos seus vizinhos,e si mesma.É preciso punir esse tipo de comportamento QUE VEM SE ACENTUANDO na capital de Fpolis-sc(capital do mercosul).

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  5. Reafirmo meu comentário anterior diante de de alguém que se acha no direito de mensurar e rotular educação, ética e moral. Paro por aqui pois respeito o ser humano e meus dois cachorros. Não vale a pena...

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