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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Cem noites de solidão

          Gerineldo, Arcádio e Aureliano; bando de chupins! Calma, calma, não estou me referindo aos personagens do segundo livro hispânico mais lido no mundo. Você, leitor, sabe a qual obra literária me refiro, não? Isso mesmo, Cem Anos de Solidão, do jornalista colombiano Gabriel García Márquez. Pois bem, os personagens que citei não são, nem de longe, os honoráveis habitantes de Macondo, a fictícia aldeia do Nobel de literatura. Quem são eles, então?



         Gerineldo, Arcádio e Aureliano; bando de chupins! É isso mesmo, um bando de chupins; ou melhor, um trio. Tudo bem, eu explico. Essa trindade é freqüentadora de um espaço que criei para alimentar pássaros. Não ficou claro, vamos chegar lá. Apareceu, no pedaço, uma tica-tica alimentando três filhotes de chupins. Cada monstrengo dava, no mínimo, duas ticas-ticas. Mal a coitada pousava na plataforma  - onde eu coloco comida - e era seguida pelo vôo descoordenado dos inocentes. Eu diria que eles estavam mais para indecentes. Vou dizer o porquê.

          Opa, quase que esqueço: resolvi batizar os visitantes com os nomes dos personagens de García Márquez. É uma técnica que uso para lembrar os livros que leio. Obvio, quando um colega, ao me visitar, pergunta quem era Gerineldo, por exemplo, eu me vejo forçado a puxar pela memória e relembrar o clássico sul-americano. Dessa forma eu diminuirei os riscos de cometer erros como o que incorreu o jornalista Ricardo Noblat, ao escrever o livro A Arte de Fazer Um Jornal Diário. É que na página 79 do manual para jornalistas, ele inventa de fazer uma citação sobre um personagem de Cem Anos de Solidão. Parece que na hora H o professor Noblat esqueceu o que tinha lido e acabou fazendo uma lambança com os personagens. E aí? Você deve estar me perguntando. Prossigamos.

          Gerineldo, Arcádio e Aureliano mal se aproximavam da minúscula ave que os chocou e tratavam logo de abrir o bico. Tiiiii, tiiiii, tiiiii. O ritual era para pressionar a “mãe” a fim de serem alimentados. A desgraçada não tinha sossego ao ter que suprir três imensas barrigas. Claro, imensas, levando em conta o mundo das aves. Não vou me detalhar sobre os tamanhos reais das duas espécies porque já fiz isso em outra crônica intitulada o tié e o tico-tico; basta dar uma olhada. A verdade é que os sacanas não paravam de sugar a pobre mãe. Por outro lado ela merecia; bastava decolar da plataforma que eles deixariam de pedir. Sei como é, ela não tinha a inteligência de um humano, por isso era submetida aos abusos dos monstrenguinhos. Será?

          Outro dia eu estava assistindo uma reportagem sobre o planeta atlântida; com letra minúscula mesmo. O que tinha de pirralhos participando do evento era uma brincadeira. Quantos daqueles trabalham? Quantos se sustentam? Quantos compram a própria comida? Quantos pagam a conta do celular? Quantos pagaram o ingresso para entrar no local dos shows? Quantos trabalham para adquirir as roupas de grife que usam? Quantos ralam em dois períodos para garantir o dinheiro da maconha que deixará a festa um barato? Quantos se submetem a chefes inconvenientes para receber, ao final do mês, uma grana para comprar o LSD que precisam para garantir uma festa do caralh...? Quantos labutam de sol a sol para ganhar a bufunfa que lhes proporcionará cocaína suficiente para as noitadas? Eu nem vou falar no carro, de luxo, que alguns ostentam. Nem vou falar no dinheiro para entrar em motéis luxuosos - que ficam lotados de menininhas "super maduras". Nem vou falar em outra série de coisas que você, leitor, está cansado de saber que está por trás de uma noitada. Quem financia essa esbórnia?

          E eu chamo meus amiguinhos - Gerineldo, Arcádio e Aureliano – de chupins! Coitados, se eles soubessem como agem os humanos, seriam capazes de devorar a tica-tica. E fariam isso pena por pena. Degustariam a infeliz aos poucos, ou aos muitos, como a juventude moderna. Tudo bem, tudo bem, não são todos, concordo. Então eu conclamo você, que é candidato a Gerineldo, ou que tem um Arcádio em casa, a provar que estou errado. Por enquanto, eu olho para os teus filhos, para tuas filhas, para você, e fico pensando só pra mim: Gerineldo, Arcádio, Aureliano.

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