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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Um homemde coração mau

- Não, você não tem um coração bom; você tem um coração mau.
- Como mau, se eu deixei pra lá?
- Exatamente por isso. Se o seu coração fosse bom você não teria deixado, pra lá.
- Como assim?

O diálogo acima foi parte de uma conversa que tive com um cidadão no final de 2009; bem no finalzinho. No apagar das luzes, como diria o locutor de outrora. E vou explicar pra você, leitor, o que aconteceu. De coração, paisano, não pretendo que concordes comigo. O intuito, hoje, é levantar uma discussão. Faça um comentário, ao final, não permita que eu fique enjaulado na minha própria ignorância, caso percebas que estou equivocado. Agora, vamos ao que interessa.



Conheço um rapaz que sobrevive prestando serviços aos moradores da praia da Daniela, aqui em Florianópolis. Vamos chamá-lo de Arlindo. Não sei qual o motivo do nome; foi o que me veio à mente. Vez por outra aparece algo maior para fazer e Arlindo aproveita para garantir um salário mais razoável, digamos assim. A esposa é diarista. A vida deles não é das mais fáceis, financeiramente falando. Com muito sacrifício conseguiu comprar um carrinho. Um carrinho mesmo. Um fusquinha.

Quando conversei com Arlindo o possante dele estava com a bateria pela bola sete. A mulher disse que morria de vergonha de ficar empurrando o danado pelo meio da rua. Preferia andar a pé do que passando vexame. Perguntei por que ele não comprava uma bateria nova. Foi quando me disse que não podia devido ao concerto a ser feito; bem mais importante, segundo ele. E tratou de contar o que aconteceu: um guri, sem habilitação, tirou o carro do pai da garagem e bateu no fusquinha. Perguntei se ele chamou a polícia para resolver a questão, mas ele disse que não fez isso porque iria prejudicar o menino. “Eu tenho um coração bom; por isso deixei pra lá”, argumentou. Não contei até um, disparei: “Não, você não tem um coração bom; você tem um coração mau. Muito mau”. Ele ficou sem entender e eu expus meu modo de ver o caso.

Ora, o pai do garoto, que bateu no fusquinha, tem um carro novo. Um Peugeot, conforme o próprio Arlindo me contou. Possui uma condição econômica razoável. “Então ele tem obrigação moral de pagar o teu prejuízo, Arlindo”, vociferei. Ora, caríssimo, o dono do Peugeot precisaria ser responsabilizado; arcado com as conseqüências da atitude desastrada do filho. Que ele educou, vale salientar. Na hora que Arlindo “deixa pra lá”, está assumindo o erro alheio. Agora ele não tem dinheiro para comprar uma bateria nova. Primeiro precisa consertar o estrago. E a mulher, coitada, tem que ficar empurrando o fusquete de um lado para o outro. Aí o camarada vem dizer que tem um bom coração!? Comigo não, jacaré. Sentimental, pode ser, mas isso não tem nada a ver com um coração bom. Pelo contrário; um cara que prejudica a esposa em benefício de um irresponsável, será sempre, para mim, um homem de coração mau. De coração muito mau.

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