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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Tudo é permitido, desde que escondido

          Retornei a Floripa ontem no fim do dia. Depois de um feriado regado a livros, gado e alguns parentes. E resolvi dar uma caminhada no calçadão da Beira-mar Norte. O vento frio, o céu acinzentado e o vai-e-vem das pessoas indicavam que o inverno, teimoso, está prestes a ser expulso. Falta, certamente, uma primavera mais ousada que lhe diga: “Cai fora, animal”. Mesmo assim, caminhei. Foram cinco quilômetros de passadas largar capazes de ativar as glândulas sudoríparas. E não consigo fazer o passeio sem prestar atenção ao meu redor. Olho para o mar, analiso o movimento da maré e resmungo a cada esgoto que vejo esbofetear o pedaço de Atlântico. Apuro a audição para saber o tipo de diálogo que os passantes trocam. “Não acredito, amiga, que ele foi capaz de fazer isso”, lamenta uma moçoila. “Só tem um jeito: cortar a internet”, sentencia um pai incapaz de educar o filho. “Você é a razão da minha vida”, mente um guri nos ouvidos da namoradinha que aparenta ter seus 14 anos. Um motoqueiro joga a arma que dirige contra um motorista lerdo que não aprendeu que lugar de tartaruga é na faixa da direita. E tem mais isso, mais aquilo e outras cositas.

         Em uma curva, próximo a um tradicional quiosque, vários carros estão estacionado. Um modelo 1000 está com o porta-malas aberto. Ao contrário dos demais, a frente está de costas para o mar. Razoes obvias: dentro da mala tem um casal com as pernas penduradas para fora apreciando a paisagem líquida à frente. Ele tem, calculei, 60 aninhos. Ela, certamente, a mesma idade, embora aparentasse bem mais. Se bem que, por estarem posicionados contrários aos demais motoristas, ela até que podia ser, de fato, mais velha do que ele. E, se era, justificava-se a postura opositora. Em uma sociedade em que tudo é permitido, desde que escondido, e tudo é proibido, desde que seja feito no escuro, o pensar contrariamente é, quase sempre, desprezado. O fato é que os brotos fumavam seus cigarrinhos sem se importar com os atletas de plantão. Não que eu seja a favor do fumo; sou, sim, favorabilíssimo a confrontação de idéias. Venhamos e convenhamos, simpatia, sem essas rusgas seríamos semelhantes a cardumes de tainhas. Falando em peixe, que fome!

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