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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um idiota politicamente correto

          E não venha me pedir para ser politicamente correto. Detesto essa expressão. Acho que ela cultua a hipocrisia. E o faz descaradamente. Reconheço, juro por tudo que tens, um hipócrita de longe. Mas só quando ele conversa é que tenho certeza tratar-se de um. O camarada gosta de todo mundo, votou em todos os candidatos da última eleição presidencial e afirma que adoraria ter nascido no nordeste, embora seja gaúcho. Calma, calma, não “priemos cânicos”. Usei o gaúcho como poderia ter dito goiano, carioca ou paranaense. Eu precisava de um exemplo, paisano. Voltemos ao fingido. O mal-acabado ri até de piada sem graça; só para ser simpático. E é capaz de dar os parabéns a um rapaz de 22 anos que acaba de ser pai, embora esteja no seguro desemprego. Já vi um “agradável” iludindo uma senhora que acabara de sair do salão de beleza. Gente do céu, foi terrível. “Seu cabelo ficou divino”, exclamou. E eu, olhando para aquele penteado do tipo miojo, fui mais delicado: “Não quer tentar um estilo Ronaldinho?”
          Outro dia fui a uma reunião aonde o objetivo dos presentes – exceto de um deles - era “descer o sarrafo” no exceto de um deles. Entendeu o jogo de palavras, não é? Opa, já podes ler a Bíblia. Falo assim porque já ouvi trezenas de pessoas dizendo que não lêem o livro sagrado dos cristãos porque não o entendem. Já perguntei para alguns desses: “Quantos livros você lê por mês? Lê Saramago? Lê José Lins do Rêgo? Ou limita-se a passar os olhos em livros de auto-ajuda?” Fala sério, o cara só assiste televisão e vem dizer que a bíblia é difícil de ser entendida! O que ele não sabe é ler. E, diga-se de passagem, pouquíssimas pessoas que seguram uma bíblia sabem ler. Conheço uns três que a leram e entenderam o enredo. Conheço centenas que leram e viraram religiosos. E não preciso afirmar que ficaram intolerantes, preconceituosos e manipuláveis. Voltemos à reunião.

Na hora de malhar o exceto – chamemos assim a vítima – todo mundo era delicado com as palavras. “Não é nada pessoal”, salientavam. E eu com meus botões: “como não é pessoal? Se emito uma opinião, e sou uma pessoa, minha opinião é, e sempre será, pessoal”. O discurso politicamente correto fala mais alto. E todo mundo faz de conta que acredita. Ai de quem ousa contrariar um fingido desses. Lembra daquela história do rei que vestiu uma roupa invisível, contada por Hans Christian Andersen? Todo mundo achou a roupa maravilhosa. Foi preciso uma criança para revelar a farsa. No conto, todos riram da nudez real mostrada pela sinceridade infantil. Se a história fosse hoje, iriam chamar o menino de burro, idiota e grosso. Tudo em nome do politicamente correto.

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