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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Acho que foi em Belô


     Desde pequeno, acostumei-me com a falta de datas marcantes. O Natal era, para minha família, um embuste do tamanho da muralha da China. Para euzinho aqui, continua sendo. Até curto uma boa ceia natalina hoje em dia. Acho, no entanto, uma forçada de barra capitalista avalizada pela toda poderosa Igreja Católica. Isso porque qualquer piá que tenha estudado uma ou duas páginas sobre a história de Jesus Cristo sabe que o nazareno não nasceu em dezembro. A data transformou-se em comércio. Tem gente que acredita mesmo que o Natal é, de fato, o dia em que o salvador nasceu. Ilusão, ilusão, como te gostam os humanos. Dias que exigiam minha pueril atenção eram: Dia do índio, Dia da árvore e Dia da independência do Brasil. Aniversários na minha casa foram raríssimos. Lembro dos quinze anos de uma das minhas três irmãs. Ah, em Belo Horizonte comemoramos o de alguém. Mas não sei de quem foi. Uma fotografia – prova do crime – em preto e branco mostra minha mãe ladeada por sete filhos em torno de uma mesa. E eu estava lá. Não me lembro daquele dia. Eu devia ter uns quatro anos. É, aniversário nunca foi o forte dos Maurícios. Também, éramos dez. E fazer uma para cada, mais a do pai e a da mãe, seriam doze por ano. Mais de uma por mês. Sem chance.

     Pode até ser que o níver em Belô tenha sido meu; precisarei apurar a informação. Não recordo de um aniversário do Gile quando criança. Se houve, não deixou memória. E o que não nos remete ao passado não existiu. Ultimamente passei a comemorar meu natalício. Nada de festança. Sou avesso a multidão. Tenho também poucos amigos. Um punhadinho, para ser sincero. Colegas tenho um milhão - sou quase um Roberto Carlos. Conhecidos, novecentos e oitenta e quatro mil. Se faço uma festa e convido um amigo, um colega acha ruim e deixa de ser meu amigo. Um conhecido, ao saber do ocorrido, renega minha amizade. Só os parentes não deixam de ser meus parentes. Porque não tem como. O fato é que faço um churrasco e chamo não mais do que vinte bocas. Passou disso, para mim é muvuca. Outro dia me perguntei o porquê de ter passado a comemorar meu aniversário. O espelho me disse que é porque estou no segundo tempo da vida. E durante o segundo tempo, meu chapa, podemos ser substituídos a qualquer momento. Podemos sofrer uma contusão e ter que deixar o gramado. O treinador pode entender que estamos jogando mal e... fora. No jogo da vida, poucos chegam aos acréscimos. Eu já avisei ao técnico que só quero estar em campo enquanto puder correr, marcar, fazer gols. É isso, cada três de dezembro é um gol que faço. Nesse caso, já posso me considerar um artilheiro.

Um comentário:

  1. Muito boa a sua narrativa! Eu mesma lembro que o níver era meu, e o de Bh se não me falaha a memória da Preta, claro! Depois de Gaby só Preta tinha comemoração de niver..hehehe...Mas o enredo da crônica é belo e me traz belas recordações!

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