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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Jorge Bornhausen e a vaca – Desdobramentos

Todo gaúcho é gay?

           Todo gaúcho é gay? Todo índio é sujo? Todo sem-terra é baderneiro? Todo estudante de Comunicação Social é maconheiro? Todo catarinense é preconceituoso? Todo brasiliense é corrupto? Todo carioca é malandro? Todo baiano é preguiçoso? Todo político é ladrão? Todo cabeleireiro é bicha? Todo paulista é antipático? Todo nordestino é preguiçoso? Todo...



           Como é que você se posiciona diante destas perguntas. Indago porque elas são colocadas diante de nós, todos os dias. Pare um pouco e pense na quantidade de adjetivos que usamos para qualificar, ou desqualificar alguém. Quando nossa cultura é míope e nosso vocabulário limitado, recorremos a generalizações. Claro, fica bem mais fácil dizer que todo gaúcho é gay – e assim justificar nossas grosserias – do que procurar saber o motivo que levou um parvo a sugerir tal “verdade”. E muitas pessoas que não nasceram no Rio Grande do Sul tem um certo interesse em manter essa crendice, por mais deplorável que seja. Claro, pois na hora de xingar um conterrâneo de Leonel Brizola a tarefa fica bem mais simples.

          Estou falando isso porque outro dia fiz uma crônica cujo título era: Jorge Bornhausen e a vaca. Olhe que não era uma matéria jornalística, embora eu tenha colocado verdades alardeadas pela mídia de norte a sul do Brasil. Alguns leitores, e desde já agradeço pela leitura, ficaram endiabrados com o texto e resolveram me agredir no espaço destinado aos comentários. Vale salientar que não faço moderação de comentário. Sou a favor da liberdade de expressão e acho que todos têm direito de dizer o que pensam. Até um boi que eu tenho costuma reclamar quando vou perto da cocheira e não coloco ração para ele. Encara-me e começa a mugir dizendo: como é que é, não vai me dar ração hoje? Até o Sheid retruca quando digo alguma que ele não concorda. Mas o sheid é um cão filósofo, está na prateleira de cima!

          O que eu acho de uma deselegância enorme é a pessoa se esconder no anonimato. Você pode, inclusive, substituir o termo “deselegância” por um palavrão qualquer. Eu não o faço porque acho deselegante. Ou um palavrão qualquer. Todavia, tudo isso é apenas perfumaria. Estou pouco ligando para quem pensa que eu sou isso, ou aquilo, sem saber quem, de fato, sou. O que me traz aqui é o tipo de comentário feito. Não contra minha pessoa, mas contra um povo. Sim, contra um povo. Alguns comentários, ácidos e abomináveis foram feitos contra os nordestinos. Não foram contra a pessoa do Gilead Maurício, e sim contra os moradores do Nordeste Brasileiro.

           Os cidadãos que escreveram, embora eu nem saiba se eles podem ser chamados de cidadãos, se colocaram como catarinenses xenófobos. Catarinenses preconceituosos. Sei que são pessoas incultas, analfabetas políticas – como chamou um leitor – e desqualificadas para viver em sociedade. Outra leitora disse sentir vergonha dos comentários feitos pelos nazistas de plantão. Mas o que eu percebi foi que o preconceito estava lá dentro daqueles indivíduos. Talvez eles, no dia-a-dia, façam o discurso politicamente correto e digam que não têm preconceito contra ninguém. Mas quando pisam no calo deles, ou no câncer como foi o caso, a primeira arma que sacam da alma é o preconceito.

           A revista Istoé, na edição de 18/11/2009, trouxe uma reportagem sobre Geysa Arruda, a moça que foi expulsa de uma universidade de São Paulo por, segundo a revista, usar um vestido curto. O que se falou, e muito, na revista foi acerca do preconceito e da intolerância. Mas eu pergunto: até que ponto não somos mestres na arte da intolerância e do preconceito? Se não sabemos respeitar um indivíduo pelo simples fato de usar roupas diferentes das nossas, como podemos avançar em questões mais delicadas como religião, opção sexual e local de nascimento? Outro dia agrediram um senhor, em Florianópolis, porque ele usava tradicionais roupas gaúchas. Bárbaro!? Pois aconteceu sob nossas barbas, ou sob nossos brincos.

          Em rápida pesquisa pela internet encontrei impropérios contra nordestino, contra homossexuais, contra gaúchos, contra índios, contra tudo e contra todos. Estamos nos aquartelando em tribos cada vez mais intolerantes. O que você está fazendo para combater o preconceito? Contando piada sobre gaúchos? Sobre negros? Sobre nordestino? Faça isso e plante, ou adube, a intolerância que há dentro de cada pessoa.

5 comentários:

  1. Oi Gilead
    Li os comentários que fizeram, e é simplesmente ridículo quando a pessoa, por falta de argumento cabível, esconde-se por detrás do anonimato para derramar suas lamúrias. Já que eles fazem questão de defender a pessoa do político por ti informado, por que não tiram as máscaras e conversam de igual para igual, sem ofensas, sem preconceito?
    Morei mais de treze anos de minha vida em São Luis, Maranhão. Sou carioca, apesar dos pesares, mas amo aquela terra nordestina de paixão. E tantas outras que pude ter o prazer de visitar, como Sobral no Ceará e Teresina no Piauí.
    Quando morei no Espírito Santo, nos idos de 1998, perguntavam-se se lá (no MA) era tudo sertão. Eu, em minha mente ainda infantil, já entendia que, além de preconceito, as pessoas assim o faziam pelo estereótipo que estamos cansados de ver nas mídias, rotulando todo nordestino como pobre, feio e sem educação.
    O que é fato, porém, é que há muito desenvolvimento pelas bandas de lá. Voltando ao exemplo de São Luis, a ilha há muito emancipada já possui aproximadamente 1 milhão de habitantes (somando os distritos do Maiobão e São José de Ribamar). Há uma gama de serviços e atividades, como shoppings, teatros, escolas, faculdades... Em suma, no quesito desenvolvimento, São Luis é superior a Florianópolis, tanto geografica quanto economicamente, além de outros pontos.
    Quer dizer, esses indivíduos sem conhecimento nenhum, que não se prestam ao menos a pesquisar sobre os locais antes de falarem impropérios contra os nordestinos, malham a ignorância tanto de conteúdo quanto de arrogância para poder tentar defender um indivíduo que, como você mesmo disse, vem sendo mencionado na mídia de forma nada acolhedora.
    Mas é assim mesmo. Infelizmente a ignorância continuará existino, não só para aqueles que não possuem estudo, mas principalmente para um incontável número de indivíduos que preferem viver à sombra do preconceito.
    Abraços e continue escrevendo. Gosto de ler teus textos.
    Samira

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  2. Obrigado pelo incentivo e pelo testemunho.
    Gilead Maurício.

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  3. Nossa sociedade caminha cada dia rumo ao "privatismo". A cada geração nos reprimimos mais e mais, e já não basta ser recatado - o outro tem que ser também, se não eu choro (xingo) - sabe é mais ou menos isso que aconteceu com a Geysa e aqui no seu blogue. Não toleramos a liberdade alheia, somos dotados de um egoísmo que já vem de berço, e que se reproduz mais rápido que sei lá o que.
    Mas a generalização, principalmente etnica, essa sim é a prova suprema da mediocricidade de um ser humano. chega ser até difícil argumentar contra. Depois dizem que as aulas de antropologia não servem para nada, servem para desmistificarmos exatamente isto!!!

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  4. É Fábio, como você diz: "fica até difícil de argumentar".
    Abraço.

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  5. Só gostaria de expressar meu repúdio a esses "catarinenses" que se manisfestaram na postagem original.

    Sou catarinense e entendo que a generalização é própria do ignorante, quer seja ele de SC, RS, AM, Paraguay ou Áustria...

    E aqui há muitos!

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