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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Florianópolis também tem Carandiru

          Foi no dia 2 de outubro de 1992. Não lembra? O massacre do Carandiru. Começou quando Barba e Coelho, dois detentos, resolveram brigar no pavilhão 9. Outros presos jogavam bola sob os olhares de companheiros que não tinham coisa melhor para fazer. Barba possuía muitos amigos, Coelho também. No dia 2, dois grupos se formaram democraticamente. Cada presidiário podia escolher entre Barba e Coelho. Em segundos a confusão se  generalizaria. Gritos, socos, facas, estiletes, punhais, colchões, fogo, sangue e morte. Faltava menos de duas horas para o lugar se transformar em Pandemônio, a capital imaginária do inferno. Faltava a Polícia Militar. Ela veio e trouxe na algibeira, 111 cadáveres.



          Foi no dia 31 de maio de 2010. Não sabe? Estudantes da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) protestavam, na frente do campus, contra o aumento da passagem de ônibus. Havia barbas, mas não Coelhos. Universitários irmanados pelo mesmo sentimento de impotência do poder público frente aos desmandos dos empresários. Tem gritos, de protesto. Mas não tem socos. Não tem facas, nem estiletes e muito menos punhais. Colchão, fogo, sangue e morte, também não. A força, entretanto, não marcara presença. Viria em seguida. E traria em seu embornal o mal que a força sempre traz.

          A tropa desce das viaturas disposta a descarregar seus recalques. Lembre-se, paisano, que tropa tem vários significados. Fique a vontade para escolher um. De coração te digo, todos cabem. Invadiram o prédio e começaram a morder e coicear o futuro da nação. Patas sujas de ódio e rancor pisavam jovens desarmados. Garras elétricas faziam retesar a musculatura dos acadêmicos. Chifres ensandecidos vergavam os rebeldes. O comandante da horda, tenente-coronel Renato Newton Ramlow, foi questionado sobre a invasão e vomitou: “Não preciso de "mandato", pois isto aqui é uma universidade do Estado, e a Polícia também”. Como diria aquela música: Xô, satanás.

          Ah, Gilead, comparar a ação dos policiais militares de Santa Catarina com os que provocaram o massacre do Carandiru é demais. Francamente, meu caro, minha cara, ou seja lá quem sejas, guarde as devidas proporções. Lá eles invadiram um presídio cheio de criminosos condenados pela justiça. Aqui os fardados ocuparam uma Universidade repleta de estudantes indefesos. A truculência da milícia catarinense, guardando as devidas proporções, lembro, foi igual ou maior que a da paulista. Acabou de vir a minha lembrança o cenário do Carandiru: rolava uma partida de futebol. Deixa pra lá, foi bobeira minha. O Brasil será campeão mundial.

Um comentário:

  1. Olhe que isso foi no sul-maravilha. E por que a imprensa não disse nada? É uma quadrilha só.

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