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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Uma vergonha que precisa ser lembrada

          Estava este escrevedor conversando, há poucas horas, com um dos cunhados dele. Não vou dizer o nome do sortudo porque não pedi autorização. Se bem que, por ser cunhado, eu nem deveria precisar de protocolos, mas enfim. O camarada me lembrou de uma história que aconteceu em uma época que morei aqui, em Natal. Eu era ponta esquerda de um time de futebol, ele era o centroavante. O time era bom. Lembro que tinha um meio campista chamado Nilsinho, muito meu amigo. Pense em um craque de bola. Claro que, por ser ele meu chegado, estou exagerando um poquito. Mas eu era fã do magro. Tinha o Cléber no ataque. Jogava muito o menino. Cidinho era um ala que, caso tivesse se dedicado um pouco mais ao esporte bretão, teria usado a camisa amarela do Brasil. E Amarildo? Pelo nome você já pode imaginar a categoria. São águas passadas, e águas passadas não movem moinho. Vamos à história.

          Tínhamos um jogo marcado contra uma equipe da cidade vizinha. Eu não sabia nada sobre o time. Muito menos de como jogava cada atleta. Fomos para o local da partida, a sede campestre da Petrobrás. Entramos em campo, todos bem uniformizados, chuteiras de última geração e um ar de predador esperando a vítima. Fizemos o aquecimento, fomos para o gramado e nada dos adversários. De repente apareceram uma dez bicicletas. Em cada uma, vinham dois rapazes. Era o time. Nossa decepção foi quase do tamanho de Ronaldo Fenômeno. Um pouco menor, digamos. Rolou, entretanto, em nós, uma frustração. Enquanto os ciclistas guardavam os veículos não poluentes debaixo de umas frondosas árvores, ficamos conversando. Preste atenção no que falávamos.

- Bicho, os caras vieram pedalando. Tão mortos -, falou um de nós que não quero dedurar.
- Nem vai ter graça -, completei.
- São uns coitados -, riu outro.

          Nossas presas vieram para o campo. Ficaram, lembro bem, meio sem graça por invadirem um ambiente tão elitizado. Parecia que precisavam pedir desculpas por terem ousado nos enfrentar. Nossa soberba disfarçada podia ser percebida há léguas. A bola rolou e não deu outra. Um a zero. Dois a zero. Três a zero. Quatro a zero. Cinco a zero. Seis a zero. Para eles. Minha equipe não viu, como se diz no meio futebolístico, a cor da bola. Os caras corriam feito um míssil guiado. A certa altura eles perceberam que estavam nos humilhando demais e diminuíram o ritmo. Acho que fizemos um golzinho. Porque os coitados deixaram. Teve um momento que percebi, em meus companheiros, uma vergonha. Vergonha que não permitia que reclamássemos. Apanhamos feito ovelha levada ao matadouro. Fomos embora calados. Ninguém teve coragem de confessar, mas cada um de nós sabia do crime que cometera. E tinha consciência, também, que levara uma lição. Ainda bem que meu cunhado me lembrou disso. E estou registrando para nunca esquecer.

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