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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Cobertura da TV, uma lástima

          Um palhaço fazendo graça no semáforo. Um dublê de filmes de ação. Um Cléber Bam-Bam, musculoso e com dificuldade em conjugar verbos, repetindo: “Faz parte”. Um trapezista de circo. Um domador de leões. Um lutador de luta livre em ação. Um mineiro chileno mostrado ao vivo para o mundo todo via televisão e internet. O que eles têm em comum? Todos são parte do espetáculo. Exceto o mineiro chileno. Ele é o próprio espetáculo. Não é preciso de mais nada, além dele, para que se faça o show. Com uma pequena diferença: todos os outros ganham para assumir os papéis. O sul-americano em destaque, não. Pobre está, pobre ficará. Para ser sincero, acho que ficara em maior penúria depois da festa. Dentro de poucos dias as câmeras mudarão de lugar. Repórteres buscarão novos atrativos. E o mineiro, coitado, terá que arcar com as conseqüências dos 68 dias debaixo da terra.

          Hoje cedo, liguei a televisão e vi o sensacionalismo que se fazia com o resgate dos mineiros que estavam 700 metros abaixo da superfície. Não se falou em outra coisa durante todo o jornal. Notícia barata, audiência garantida. Na superfície. Todos queriam mostrar o resgate. Não; todos queriam ser vistos mostrando o resgate. Milhares de equipes de televisão de todo o mundo estão lucrando com o caso dos mineiros. Políticos aproveitam para buscar promoção. E quando o assunto for esquecido? Os operários dos subterrâneos terão condições psicológicas para enfrentar o trabalho outra vez? Ouvi um dizer que nunca mais entraria em uma mina. Vai fazer o que da vida? Morrer de fome? Pedir esmolas? Roubar? Virar assaltante de banco, odiado pela sociedade que hoje o aplaude? O que será do amanhã desses chilenos?

          Será que as emissoras de televisão vão criar um fundo onde depositarão parte dos seus lucros com o episódio, para depois premiar os participantes do maior “big brother” de todos os tempos? As reportagens que vi, todas, diga-se de passagem, ficaram na superfície do problema. Nenhuma desceu os 700 metros da questão. Ora, ora, um político prometer apoio psicológico às vítimas é um simples abrir de boca e emissões de palavrórios vazios. Uma lástima a cobertura da TV.

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