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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

"Eu quero ser bandido"

          Antes de qualquer coisa, informo-lhe, paisano, que a história que vou contar é a mais pura verdade. Passou-se em uma cidade aqui perto de Florianópolis. Mudarei o nome dos personagens para evitar problemas para eles. Aconteceu com um casal que tem um filho de seis anos. Anos, não, aninhos, para ficar mais meigo. Se bem que, de meigo o guri não tem nada. Ou pelo menos não tinha. O sonho do menino era ser bandido. Isso mesmo, bandido, marginal, ladrão ou derivados. E os pais, coitados, preocupadíssimos com os anseios do pequeno. E vou te contar, o piá é o que costumamos chamar de pestinha. E olha que eu entendo dessas praguinhas. Sou capaz de identificar um garoto ruim no meio de uma plantação de alface. Quando lhe perguntavam o que ele queria ser quando crescesse, não pensava duas vezes: "Bandido". Agora vamos combinar, tem gente que não pode ver uma criança que já vai perguntando o que ela vai querer ser. Sinceramente, se eu voltasse a ser criança e um desgraçado de um adulto me fizesse a tal pergunta, eu seria malcriado e devolveria na lata: “ora, se você até hoje não sabe o que quer ser, eu que sou criança vou saber?!” Voltemos ao animalzinho catarinense.

          De tão preocupados os pais passaram a procurar uma forma de mudar a cabeça do, então, futuro delinqüente. Lembraram que tinham um amigo delegado. Estava feita a armação. Em dia combinado, levaram o admirador de Fernandinho Beira Mar à delegacia. Chegando lá, apresentaram o fulaninho ao homem da lei. Este foi duríssimo:

- Então é o senhor que quer ser bandido, não é? – e deu uma porretada com o cassetete na mesa. Falou aos berros. O inocente arregalou os olhinhos e apertou as mãos protetoras dos pais.

- Venha cá que vou mostrar ao senhor o que faço com os bandidos que eu prendo – e arrancou o anjinho da proteção paterna. Levou-lhe às celas lotadas. O calor era intenso, os presos suados e amontoados, como se fossem animais sem dono,não entendiam o que se passava. O cheiro de urina e fezes, próprio de delegacias convertidas em presídio, deixou nosso capetinha de testa franzida. E o delegado arrastava o cassetete pelas grades da detenção. Era um barulho amedrontador. De volta à sala, o homem deu o golpe de misericórdia:

- É isso que faço com bandidos. E fique sabendo, se o senhor virar bandido eu vou te caçar até achar. E não adiantará se esconder. Vou te pegar. Vou trazer você para minha delegacia. – Disse isso e despediu-se dos visitantes.

         À noite o pequeno não dormiu. Disseram-me os pais que ele não sossegou. A toda hora acordavam ouvindo barulho vindo do quarto do menor. Quando levantaram para tomar café, deram de cara com o convertido filho. Ainda com a carinha de preocupado o pupilo desarmou-se:

- Não quero mais ser bandido.- Fingido desentendimento os pais apoiaram a decisão do rapazola. E nunca mais, e já faz mais de seis meses, o menino falou em ser marginal. Tratamento de choque? Sim. Pode deixar traumas? Pode. Cá entre nós, melhor um traumatizado honesto e dentro da lei, do que um “maneiro” marginal.

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