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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O ateu, a religiosa e o menino

          Ele tinha não mais que seis aninhos. Foi levado à poltrona pelas mãos cuidadosas de uma aeromoça. Desde o momento em que se sentou não largou uma pequena lousa de 15x10cm. A caneta quase não obedecia aos movimentos que tentavam desenhar alguns animais. Trinta minutos após a decolagem o avião começou a balançar. Uma forte turbulência insistia em fazer valer a lei da gravidade. Portas bagagens começaram a se abrir. O serviço de bordo, que recém tinha se iniciado, foi suspenso. O pavor tomou conta da aeronave. A iminência de queda fez até um ateu confesso implorar ajuda divina. Só um passageiro parecia tranqüilo. Parecia, não. Ele estava completamente relaxado. Apagara e redesenhara um cavalo várias vezes. Agora, com o sacolejo, a tarefa era quase impossível. Ele, entretanto, insistia.

          Só então uma senhora, que já implorara a proteção de 17 santos, oito anjos e uma virgem, e continuava na mesma, notou a calma sentado ao seu lado. Não perdeu tempo, a religiosa, e perguntou: “Menino, você não está com medo que o avião caia?”. O guri olhou apenas com a ponta direita do olho direito e respondeu: “Não; o avião não vai cair”. Sem entender tanta convicção, quando o momento era de uma quase certeza contrária, a amedrontada não se conteve: “Como é que você sabe que não vai cair?”. Nova olhada com a ponta direita do olho direito: “É que meu pai é o piloto”.

          Em quem depositamos nossa confiança?, pergunto. Domingo tem eleição. As crises mundiais não dão trégua. Ontem os equatorianos viveram horas de pânico, com o presidente feito refém. Outro dia Honduras vivenciou um golpe de estado. Os panelaços argentinos não arrefecem. No Brasil, a corrupção deixa as pessoas sem um atendimento hospitalar digno, as escolas aos frangalhos e a segurança pública depauperada. Sem falar nas tão faladas, e pouco entendidas, crises financeiras. A quem daremos o controle da nação? Dia desses perguntaram a diferença entre o político e o ladrão, e a resposta foi: “O político a gente escolhe, o ladrão escolhe a gente”. Tente, paisano, mas tente mesmo, achar alguém digno de conduzir nossa aeronave – Estado ou nação. Não se deixe escolher; escolha.Não esqueça que em breve poderás ser pretenso ateu, a religiosa ou a criança.

Um comentário:

  1. Bela analogia Lilo, a fé das crianças é a mais poderosa, não é a toa que Jesus disse que para entrarmos no reino dos céus teriamos que ser como elas. E mesmo que o avião caísse, morrendo ou não o menino ainda confiaria no pai... já nossos políticos não confiam nem em si mesmos.

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