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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Santa Catarina dança na chuva


     Começou a chover aqui em Santa Catarina na segunda à noite. E não parou mais. E as histórias se repetem. Queda de barreiras em Águas Mornas, alagamento em Blumenau... E por aí vai. Os jornais aproveitam para vender notícias. É o tipo de matéria fácil de produzir. O repórter liga para a central de meteorologia e verifica a situação climática. Depois de uma consulta à internet e outra ligação, dá uma passada em um local da cidade invadido pela água. Conversa com um, conversa com outro e pronto. Dois neurônios serão o suficiente para formatar o material. E depois?

     Depois é esperar a chuvarada dar uma trégua e contar que o filho de uma famosa nasceu. Ou que o jogador de futebol Beltrano está “pegando” fulana. Ou ainda, que a câmara está votando projetos importantes – como a mudança do nome de uma rua desconhecida para o de um político que morreu no ano passado. O tempo bom funciona como um narcótico para a população. 

- Finalmente o tempo melhorou, hem, seu Bartolomeu?
- Finalmente, dona Maristela. Eu já não aguentava mais tanta água.
- Boa noite, seu Bartolomeu; preciso chegar a tempo de ver a novela. Quem será que matou Epaminondas? – É que tem sempre alguém matando alguém nas novelas.
- Até amanhã, dona Maristela. E vamos torcer para fazer sol, não é?

     Saia, paisano, pelas cidades e veja o descaso do poder público com o meio ambiente. Na última semana, passando pelo interior de Águas Mornas vi um trator escavando o morro. Parei e fiquei olhando. Em questão de minutos a vegetação estava revolvida. O riacho de águas cristalinas recebeu algumas toneladas de terra vermelha e um tubo – daqueles usado em esgotos. A beleza rural disse adeus e se foi, expulsa pelas garras da máquina. O poder público, preocupado em justificar seus gastos e produzir outros tantos, não deu as caras. Tem mais? Tem.

     O loteamento Frei Damião, em Palhoça, é o maior bolsão de miséria do Estado. A prefeitura, ocupadíssima com projetos que trarão dinheiro para o município, não faz nada. Em Floripa a situação não é diferente. Você olha para os morros que ontem foram cobertos por mata e só vê concreto. E todo mundo entretido. Dança dos famosos, gol de Ronaldinho Gaúcho e reality show – isso é o que importa.

     E depois vem reclamar da chuva? Depois querem encher meus ouvidos e olhos de desgraça? Falemos sério. Falemos de uma galinha minha que começou a pôr.  

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