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segunda-feira, 1 de março de 2010

Caminhada à beira-mar

          Depois de vários finais de semana longe de Floripa, resolvemos ficar este na ilha. Pra ser sincero, ficamos devido ao aniversário do Lui. Ok, você não sabe quem é o Lui – e o filho de um casal amigo nosso. Mas o guri rende uma boa crônica! No entanto esta não é para ele. A verdade é que, estando em Florianópolis num sábado pela manhã, não me furto a uma caminhada pela beira-mar. Descemos do prédio e nos vemos frente à bela paisagem da orla marítima, um ingrediente a mais para o exercício aliado ao prazer. Não podemos deixar de fazer o alongamento preliminar – aquele puxa e repuxa das pernas e braços que todo fazedor de esportes conhece. Aí começo a perceber que uma despretensiosa marcha pode ser riquíssima em descoberta e constatações sobre o ser humano.

          Enquanto estamos nos alongando, eu e minha esposa, percebo um casal que também esta fazendo o mesmo. Pra ser honesto, quem se exercita é a mulher. O homem, que devia ter uns quarenta anos, achava-se escorado em uma barra de ferro. O cidadão devia ter 1,75 metros e pesar mais de cem – pasme – quilos. Como diz o ditado: “gordo feito filho de ladrão solto”. Enquanto a senhora se exercitava ele a observava com uma vontade danada de botar um colchão nas costas. Ela, acredito, tinha a idade próxima a dele, mas aparentava ter, pelo menos, quinze anos a menos. Ah, o filho estava com eles.  Escutei quando o menino – com cerca de cinco anos – disse: “pai, me pendura ali”, e apontou para uma haste de ferro de dois metros e meio de altura. “Não dá, meu filho; é muito alto”, respondeu o camarada que mal tinha força para carregar o peso da pança. Ui, tratei de sair de perto. Seguimos.

          Fui olhando os diversos tipos de pessoas que se exercitavam. Passou por nós uma mulher que, coitada, não sei como não se desequilibrava e caia pra frente. É que o óculos que ela usava podia muito bem servir de pára-brisa em um Fiat Uno. “PelamordeDeus”, pensei. Teve outra que enquanto caminhava deu um espirro; foi o suficiente para largar a mão do marido e ser impulsionada pra frente, quase se estabanando no chão. Meditei: eu com um espirro potente desses seria campeão mundial dos cem metros rasos; não teria Usain Bolt que me segurasse. A mulher não tinha um nariz, tinha uma verdadeira turbina! Passou por nós uma outra que deve, juro por Deus, ter engolido uma alavanca. Ela andava sem mexer nada alem das pernas. Daqui a pouco ouvimos uma freada brusca: olhamos para uma das pistas e vimos um rapaz pilotando uma nervosíssima CG 125. Falei na hora pra minha mulher: “esse cara, de certo, é milionário. Acredito até que ele é sócio de alguma empresa fabricante de pneus. Ele anda de CG por hobby”. Seguimos.

Paramos em um dos dois quiosques da área de lazer e tomamos água de coco. Eu, nordestino, acostumado com o sabor da fruta tropical, reneguei a que me venderam – horrível o gosto. E o preço nem se fala.  “O pequeno produtor vende um coco a R$ 0,15 centavos”, reclamei à minha mulher, “daí pra frente só quem lucra são os atravessadores”. Entretanto ponderei e lembrei-me do custo de transportar o produto, os impostos, outra vez os impostos, mais impostos e a facada do comerciante. Lei do cão. Continuamos a caminhada. Foi quando passamos ao lado de três senhores sexagenários. Ouvi, acredite paisano, quando um deles se encheu de orgulho: “O Sávio jogou muita bola. Desse jeito ele vai acabar voltando para o flamengo e pro Real Madrid”. Ele estava se referindo ao jogador do Avaí, que fizera dois gols na vitória da equipe catarinense sobre o Ypiranga do Rio Grande do Sul, pela copa do Brasil. Nesse momento pensei: “é, o sol já está muito quente; ta na hora de voltar pra casa”.

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