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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Eita mesa maneira!

- Esta é maneira -, resmunguei.
- Então vais levar-, alegrou-se o vendedor.
- Não, é maneira -, argumentei.
- Ué, se é maneira, porque não levas? – admirou-se.
- Exatamente por isso. Se fosse pesada eu queria. Como é maneira, não me serve -, expliquei.
- E o que tem a ver maneira com pesada -, impacientou-se Betinho – era esse o nome dele.
- Maneira é antônimo de pesada -, justifiquei.
- Eu achava que maneira era uma coisa legal, entende, maneira -, surpreendeu-se o marceneiro. Em seguida perguntou: - Em que lugar do Brasil, maneira significa leve?
- No dicionário -, encerrei a conversa.

          Não dei as costas e fui embora. Betinho é um profissional que já fez vários trabalhos para mim. Continuei na marcenaria. Mas passamos a tratar de uma mesa que eu encomendara.

          Surpreende-me a capacidade de as pessoas mudarem o sentido de uma palavra. Essa não foi a primeira vez que tive dificuldade de ser entendido quando usei o vocábulo “maneira” como contrário a pesado. A justificativa é o sentido figurado que o termo adquiriu, como ocorreu, e ocorre, com tantos outros. Um belo dia alguém resolveu chamar o colega de “maneiro”. Juro por deus, não sei se era por falta de vocabulário ou pura folia. A moda pegou. Tornou-se gíria. Incorporou-se ao linguajar cotidiano. Nem um problema. Problema é quando cinco gírias substituem um dicionário. Tem certas palavras que mudaram totalmente de sentido. Umas até que ficaram bem. No tempo em que candeeiro dava choque, ladrão era uma pessoa mal-encarada, armado para matar e pobre. Não é mais assim. Se eu digo, por exemplo, que vi um ladrão, a maioria dos meus amigos me pergunta se entrevistei algum político. Pois é.

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