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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O laptop venceu a barroca

          Fiquei alguns dias sem escrever porque meu laptop deu tiuti. Adoro escrever e confesso que já estava com os dedos coçando. Você estranhou alguma palavra da minha primeira frase? Não? Laptop, sabe o que é? Tiuti, também? Entao, se eu disser que deletei alguns contatos da minha lista de emails, você entenderá perfeitamente a que estou me referindo? Quando criança, minha brincadeira preferida era jogar barroca. O que, não sabes o que é barroca? Ha,ha, ha. Simpatia, barroca é um jogo em que se utilizam bilocas. Oh my god. Vai dizer que não conhece uma biloca?! Tudo bem, tudo bem, deves ser da era do vídeogame. Para jogar barroca, e ganhar, era preciso ter algumas expressões na ponta da língua: “preso esbigo”, “licença três pancada”, “num dô bebeuça”, “num dô buchuda”. Isso só para citar algumas. Preso e licença eras as palavras chaves. Quem queria tolher a açao do adversário, gritava: preso isso, preso aquilo. Quem precisava agir com liberdade bradava antes do companheiro: licença isso, licença aquilo. Entendeu? Vou desenhar.


          Biloca é o equivalente a bola de gude. Barroca nada mais é do que três buracos em linha reta na terra onde teríamos que conseguir colocar as bilocas. Eram buracos em fila indiana. A distancia entre um buraco e outro era igual. Quando os competidores eram bons, essa distância não podia ser menor do que cinco metros. Jogávamos em dois, três ou até mais colegas. E não me lembro, por mais que me esforce, de ter visto alguma vez um garoto agredir o outro com uma bilocada. Venhamos e convenhamos as bilocas eram verdadeiras balas na mão de um celerado. A brincadeira era lúdica. Pura diversão. Terapia no sentido mais puro da palavra. Recordo bem o dia em que quebrei a perna e fiquei meses sem poder jogar barroca. Era muito triste olhar as bilocas guardadas dentro de uma velha meia e não poder brincar com elas. Sim, eu guardava minhas bilocas dentro de uma meia. Bastava passar a mão na meia e sentir a presença de cada uma delas. Os adversários se colocavam ao lado de um dos buracos da extremidade e, cada um `a sua vez, lançavam suas bilocas na última barroca. Quem acertasse dentro da barroca, ou mais perto dela, começava o jogo.

          Gente do céu, o tempo passa e as coisas perdem o sentido. No lugar delas surgem novas coisas. E de coisa nova em coisa nova vamos esquecendo de brincar. Vamos deixando de lado as diversões pueris que tanto bem fazem aos futuros homens. Não que eu tenha nada contra o computador, mas a cada dia que passa ele distancia mais as pessoas. Crianças preferem a internet aos parquinhos. Duzentos amigos no orkut e nem um para abraçar, para rir, para reclamar da mãe. Bolas de gudes, biloca ou coisas do gênero, só para matar o inimigo que está na tela do pc. Como disse o poeta: “Ah, quanta saudade do meu tempo de criança. Eu tinha tudo e não sabia que eu tinha a esperança, e o que restou foram todas estas conclusões”. Biloca, biloca, que saudade.

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