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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Filho comete crime e tem mãe como cúmplice

          Ele quebrou as regras de convívio. Fez o que não era permitido. Desrespeitou as normas que zelam pela boa ordem - e digo boa ordem porque tem certas ordens que de boa não tem nada. Causou um transtorno danado no ambiente onde mora. E, o que é mais grave, induziu a mãe ao crime. Logo Tereza, a coisa mais querida e angélica do lugar. Caiu na pilha do filho e palmilhou – como diriam os mais antigos – a senda do crime. E quando falo em crime deixo claro que é dentro de um conceito formal da palavra. Ela violou, de maneira culpável, a lei penal. Tereza, agora, é criminosa. E por quê? Porque acompanhou o filho no caminho da perdição. Com a palavra a defesa.

          - Senhoras e senhores, a Tereza não pode ser considerada culpada. Ela seguiu o que seu coração de mãe mandava fazer. Mosab, o filho, errou, não tenho dúvida. Mas uma mãe que sabe o que é um filho, que o abrigou na barriga durante meses, não o deixa nem quando ele envereda pela estrada do engano. Sim, engano. Até porque Mosab não infringiu a lei por mero prazer em desestabilizar o sistema. Quero me concentrar, entretanto, na defesa de Tereza. E apelo para você, que é mãe. Apelo também para os pais, que sabem do que uma mãe é capaz para proteger seus filhos. Apelo, por último, para você que é filho. Pense em quantas vezes tua mãe mentiu para teu pai, a fim de evitar que você levasse uma bela surra – bela no sentido figurado do termo. Não permitam, pelo amor de deus, que uma injustiça seja feita. Tereza não agiu dentro da razão.  Nem poderia. Raciocinou como mãe. Se é que mãe raciocina quando protege a cria.

          - Tenho absoluta convicção que Tereza não pensou em nenhum momento que estava cometendo um crime. Na hora em que viu Mosab passando por entre os fios de arame farpado que separavam as duas propriedades, teve a consciência alterada. Uma voz gritou na sua cabeça: Corre, Tereza, não deixa teu filho sozinho nessa roubada. E ela foi. Ao vencer os arames deixou alguns punhados de sua lã nas farpas. Sofreu. Enquanto Mosab saltitava nas terras vizinhas, Tereza ia de cabeça baixa. Não estava ali por prazer. Estava ali pelo coração. Coração de mãe. Peço que as coisas continuem como estão. Que eles não sejam vendidos. Que não seja colocado fio elétrico na cerca. Basta mais uma fiada de arame farpado. As outras ovelhas não merecem levar choque por um ato descuidado de Mosab.

          Não teve jeito. O juiz leu a sentença sob os olhares atentos: - Tereza e Mosab estão absolvidos. Não serão vendidos para servirem de churrasco. A cerca elétrica, entretanto, será instalada para evitar novos incidentes. Se o filho tentar passar pela cerca, levará um violento choque. Se a mãe tentar acompanhá-lo, por ser maior, o choque haverá de ser proporcional. Esta corte tem consciência da dificuldade que mães como a Tereza tem de educar seus filhos. Por esse motivo as cercas precisam coibir atitudes tresloucadas dos juvenis. Dou por encerrado o julgamento.

Abaixo, foto de Tereza com Mosab. Ela está de boca aberta, e ele sonolento depois de tanta malinagem.



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