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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Isso é coisa de filho

          Não sei o que houve com Aguinaldo – chamemos assim o pobre homem. Fazia um pouco mais de um ano que eu não via o cidadão. Não, ele não estava preso. Proprietário de um restaurante às margens de uma rodovia que rasga Santa Catarina, o camarada está todos os dias no front. Ressalto que ele adora o que faz; pelo menos foi o que me assegurou quando o conheci há três anos. Por essas coisas que nem Freud explica, fiquei um ano sem almoçar no estabelecimento comercial do meu amigo. Na semana passada, por volta do meio dia, vindo para Florianópolis, decidi saborear uma costela com Aguinaldo. É que sempre que vou lá, ele faz-me companhia. Senta, pergunta pela vida, conta a dele, lamenta os maus resultados do Vasco da Gama e completa: “Nunca mais vou me candidatar”. De tanto ele afirmar isso, acho que ele sai para vereador nas próximas eleições. Da última vez foi diferente.

          Aguinaldo tem cinqüenta anos, aproximadamente 1,70m, cabelo ligeiramente grisalho, bigode no mesmo tom da cabeleira e uma farta conversa. Era, pelo menos, assim. “O que aconteceu com esse homem, meu Deus”, exclamei para mim mesmo. Em um ano ele envelheceu sete, no mínimo. Sabe aquele choque que você sente quando vai ao hospital visitar um amigo que acabou de passar por um tratamento e perdeu dez quilos? Aguinaldo parecia ter jogado cal na cabeça; branca, branca. O cansaço saltava-lhe a face. Até a fala, antes tão vibrante, limitou-se a um balbucio. Nem comentou sobre o escrete cruz-maltino, que neste ano conseguiu não voltar para a Série B. Eu, que nunca tinha perguntado sobre a família do comerciante, imaginei: “Isso é coisa de filho”. Sim, porque para destruir uma pessoa daquele jeito, só um desgraçado de um filho ingrato. Vamos combinar, os tipos de filhos que são fabricados hoje em dia é uma vergonha. E um mísero herdeiro, quando ensandecido, poderia, sim, ter causado tamanho estrago no catarinense em questão.

          Coitado do Aguinaldo. Pensei em sugerir que ele voltasse à política, mas hesitei. Era melhor não incentivar. Vai que ele resolve se alegrar a custa do erário? “Aparece, Gilead”, pediu enquanto eu acionava o motor da motocicleta. “Claro, meu amigo”, respondi tentando enxergar o Aguinaldo do ano passado. Será que é problema de saúde? Ou financeiro?! Não, ele até contratara um gerente para dividir a carga. Não sei o que houve com o Aguinaldo.

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