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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Criticar, péssimo investimento

     O chefe chega para o funcionário e diz em tom contrito: “seja sincero, o que você acha da minha administração?”. Se o indagado não tem experiência, ou não se preocupa em ser demitido, deve mostrar as falhas do perguntador. Se, entretanto, conhece alguma coisa da vida, e não quer ficar desempregado, urge que olhe no grão dos olhos do cacique e minta. Minta com força. Rasgue elogios. Ou, se for mais experto, conte apenas o que vê de bom no administrador. Mas nunca, nunquinha critique um ser humano. Nós, e nós significa eu, você, seu vizinho, seu patrão, o prefeito, o presidente da República e o diabo a quatro. Odiamos críticas. Por mais inocentes que elas pareçam. Até mesmo as chamadas “críticas construtivas” são como ferroadas de abelhas no ouvido de quem as ouve. Certamente você, leitor, já ouviu falar em Tristão de Ataíde. Pois veja como ele reagiu quando Rubem Braga – um dos maiores cronistas brasileiros – escreveu uma crônica no Diário da Noite criticando a Igreja Católica.

     Alceu Amoroso Lima – o Tristão – era a maior estrela do grupo de intelectuais católicos dos anos 1930. Era membro do Centro Dom Vital, uma organização direitista “cristã” criada em 1922. O Centro mantinha uma coluna no jornal supervisionada por Tristão. A tal coluna, conforme ressaltaria o escritor Fernando Morais em Chatô o Rei do Brasil, “tentava passar a impressão de ser um espaço de reflexão politicamente de centro, embora fosse uma das mais reacionárias seções da imprensa de então”. E ela existia graças a um acordo entre Chateaubriand, o dono do periódico, e o clero católico. Quando Tristão leu a crônica enviou uma mensagem ao empresário: ou o “desatinado Rubem Braga” era demitido ou ele retiraria a coluna do Centro Dom Vital. Sobrou para quem? Rubem Braga dançou. Alceu Amoroso Lima, “mermão”, que coisa feia, hem?! Coisa feia, sim, mas que fazemos amiúde.  

     Outro dia um amigo meu, que não vou revelar o nome, choramingou nos meus escutadores de forró que o síndico do prédio em que ele morava era um horror. Que era ditador, que não tinha humildade, que reagia muito mal às críticas que ele fazia. Passado um tempo ele assumiu a vaga deixada pelo ditador. Em outra conversa comigo, orgulhou-se de ter dito “umas poucas e boas” para um condômino que veio se “meter a besta” com ele. “Ora, o cara veio querer que eu explicasse tudo que estava fazendo no prédio, e se achou importante o suficiente para me dar sugestões e criticar minha administração. Imagine se eu iria aceitar”, garganteou. Eu só não disse que ele era um babaca para não perder a amizade. É, paisano, fico com uma certeza que se agiganta a cada dia: só criticar quando tiver preparado para uma rebordosa.

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