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sexta-feira, 9 de abril de 2010

É mole ou quer milho?

          Quem nunca ouviu a frase “o cliente é o rei, é ele quem manda”? É, simpatia, quem ouviu, ouviu, quem não ouviu não ouvirá mais. Tudo bem, vai que você ainda ouça. Mas será uma falácia. Espera aí - você pode estar dizendo -, antes já não era um papo para engabelar o cliente? Não, não era. Era moda. E a moda, você sabe, pega. E pegou. O foco era o cliente, o cara que estava pagando. Funcionários eram treinados para auxiliá-lo. Foi uma onda que se espalhou pelas empresas brasileiras. E como toda onda, vem e volta. O único lugar onde ela permaneceu foi no camelô. Pode ir conferir, se quer voltar à majestade. Nos demais estabelecimentos a coisa voltou ao normal. O cliente é tratado – com raras exceções – como se fosse um reles súdito. Sabes o porquê?

          Porque agora a onda é a ecologia. O papo é ser ecológico. Tudo que é bodega aderiu ao discurso verde. Não tem mais ninguém – por incrível que pareça – que cometa crime ambiental. E o cliente, como fica? “Dane-se”, responde a maioria. Óbvio que você não ouvirá isto, mas perceberá nitidamente. E não venha, por favor, dizer-me que mau atendimento é coisa das regiões empobrecidas da nossa pátria verde e amarela. Já faz dez anos que moro em Santa Catarina, posso falar de cadeira. E conheço o Brasil de Norte a Sul. O atendimento ao cliente, de um modo geral, é algo que beira o nojento. Passe para o próximo parágrafo e confira a experiência que tive.

          Fui a um supermercado de Florianópolis e parei o veículo em seu estacionamento. Estava chovendo muito. Como diziam certos locutores à moda antiga, chovia a cântaros. As vagas do lugar são descobertas. Mas tem umas que ficam bem na entrada da “mercearia disfarçada”; são destinadas aos deficientes físicos e aos idosos. Veio uma senhora dirigindo um possante Uno Mille e “pimba”, parou a máquina em uma delas – a única que ainda estava livre. Devia ter uns trinta anos,a bonitona. Desceu apressada e, mais rápida que Usain Bolt, entrou na loja. Em seguidinha chegou um casal septuagenário. O ancião estacionou em uma vaga descoberta e ambos tentaram driblar a chuva. Tarefa das mais difíceis. A senhora caminhava com extrema dificuldade. Fiquei indignado.

          Só presenciei tudo porque estava de saída. Voltei e procurei alguém que pudesse intervir naquele despudor. Sim, porque isso, pra mim, é um despudor. Conversei com um funcionário e ele me orientou a falar com uma moça que estava em um balcão e vestia uma roupa diferente das usadas pelos demais empregados. Fernanda era o nome da malvada. Perguntei se ela não poderia preservar as vagas de idosos e deficientes. Ela, mais grossa do que papel de embrulhar prego, respondeu sem sequer olhar para mim: “Isso é função da segurança”. Como eu já olhara, e não tinha visto segurança nenhum no local, insisti: “Mas não tem segurança no estacionamento, você não pode fazer nada?” Ela, do alto do cargo, deu-me as costas e foi fazer outra coisa. Olha, vivente, eu não estava pedindo favor para mim. Não, eu estava preocupado com idosos e deficientes que tomavam banho compulsório. Fiquei injuriado.

Não vou dizer o nome do supermercado porque corro o risco de receber um processo. Mas para quem conhecer Floripa, foi no Estreito. E prometi para mim mesmo: “Não entro mais naquela espelunca”. Se você quiser saber qual foi o mercado, pode me mandar um email que eu digo. Aquela pobre atendente, que podia ter um grama de educação, evidenciou-me a queda de um reino: o reino do cliente.

Um comentário:

  1. é verdade sim. cada vez mais o atendimento piora aqui em florianópolis. Uma vergonha muinto grande

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