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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ai que inveja!

          A inveja não é fácil. Não é fácil de não sentir, não é fácil de esconder e não é fácil de ser admitida. Só pra nós dois: como está o teu invejômetro? Vai dizer que não tem um! Pois então vou te dar um conselho: vá até a loja de R$ 1,99 mais próxima e compre o seu. É exatamente o que leu. Adquira depressa seu invejômetro. Não adianta controlar seu peso; não adianta controlar sua conta bancária; não adianta controlar seu parceiro. Aliás, não adianta controlar um monte de coisas e descuidar da inveja. Ela vai acabar contigo, na primeira oportunidade que tiver. Como disse Drummond: “e agora, José”?

          Carríssimo, como dizia um suíço que conheci na entrada do estádio Defensores Del Chaco (Paraguai), a inveja é um sentimento próprio dos humanos. Pra ser sincero, acho que os animais irracionais também são bem invejosos; invejosinhos pra dedéu. Eu costumo observá-los nos finais de semana que passo no campo. Depois que comecei a fazer isso perdi um pouco do encanto que sentia por eles. Já fiz várias experiências; inclusive com ovelhas que são o símbolo da ternura, paz e união. Até Jesus Cristo chamava seus seguidores mais fiéis de ovelhas. Não que eu queira contrariar o mestre, mas, ô quadrupedizinha invejosa. Contudo voltemos ao homem, que é de quem quero falar. E não me venha com aquela estória de que a inveja é uma coisa do além, que só os incompetentes possuem e que Satã é o pai da inveja. Esqueça essas bobagens. A inveja está mais perto de nós do que podemos imaginar. “Tá de brincadeira”, um amigo me interpelou.

          Não, não estou brincando. Você pode chamar como quiser, mas aquele sentimento que você teve quando o teu amigo conseguiu o emprego que era teu sonho... Hum, hum, hum... Aquele aperto no coração que te assaltou quando teu colega passou em primeiro lugar no vestibular e você ficou para segunda chamada... Sei não... Aqueles olhos grandões, acompanhado de uma boca aberta, que você desfilou quando teu vizinho chegou com um carro zero bala... Fala sério, Valério! Isso, pra mim, só tem um nome. Exatamente; inveja. A mais pura e destilada inveja envelhecida em barril de carvalho. Calma, calma. Teu irmão também já sentiu o mesmo; teu pai também; tua mulher, nem se fala; eu também. Não é fácil de não sentir. Ela jorra do nosso interior. É como um vômito que, por mais que queiramos, não conseguimos evitá-lo. Começa lá no recôndito do nosso coração e vem como um bólido procurando uma maneira de se manifestar aos nossos pares. E se olharmos o próximo atenciosamente vamos percebê-la saindo pelos  seus braços, pelos olhos esbugalhados e até por muxoxos “despretensiosos”. Quando Gabriel García Márquez ganhou o prêmio Nobel de literatura, com o livro Cem Anos de solidão, recebeu inúmeros telegramas de amigos. Teve um que ele disse ter sido o mais verdadeiro. Foi enviado por Gilberto Freyre e dizia: “Tô com uma inveja danada de você”.

Amanhã continuaremos esta conversa.

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