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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A televisão me deixou burro? Cuidado, senão te dou um coice

         Sei que aqui não é um confessionário, mas quero confessar uma coisa para você: criticar é muito fácil; e como criticamos! Eu mesmo sou extremamente crítico. Você também deve dar suas cutucadas em alguém, é ou não é? Tudo bem, não é nenhum pecado criticar. Mas quando a crítica é infundada, malvada ou fruto da ignorância, o buraco é mais embaixo. Falo isso devido aos constantes comentários que ouço a respeito da televisão. Gente do céu, precisamos entender o papel de cada pessoa, cada entidade e, inclusive, cada veículo de comunicação na sociedade. É esta a ferida que vou tocar.

          Estou cansado, falo sério, cansado de ver, principalmente pais, falando cobras e lagartos contra a televisão. Isso mesmo, geralmente a crítica é contra o veículo, não contra determinado programa. É como se a televisão fosse a responsável por todas as mazelas que nos cercam. É como responsabilizá-la pela atitude bárbara de um jovem que, ao bater no carro de um idoso, desce e esmurra a cara do ancião. Isso aconteceu no último final de semana em Florianópolis, Santa Catarina, ultimo reduto europeu nas terras tupiniquins. O que a TV tem a ver, permita-me o trocadilho, com a ação desse rapaz? “A televisão só mostra violência”, apregoa um. “Só é o que esses jovens aprendem, são uns mal-educados”, grita outro. Opa, gostei da segunda declaração. Vamos analisá-la? Melhor, vamos escrutinar as duas. Desculpe-me, paisano, se você não sabe o que é, escrutinar, aproveite a oportunidade e dê uma espiadinha básica no dicionário. Se sabe, desconsidere a última frase e passe para o próximo parágrafo. Por favor, conforme a educação que recebi no século passado.

          Quem é o responsável pela educação das crianças?

         Uma pergunta que não quer calar: de quem é a responsabilidade pela educação das crianças? Da escola, dos pais, da igreja ou da televisão? Se você respondeu, da escola, não está, de todo, errado. Se afirmou, da igreja, também não caiu no lodo dos equívocos. Se, por acaso, balbuciou, da televisão, dou-lhe um zero bem redondo. Entretanto, quem marcou a opção, dos pais, parabéns. Mas não venha com essa de que, “a televisão me deixou burro, muito burro demais”, conforme canta os Titãs. Concordo com um monte de babaquices ditas pelos roqueiros, mas não vou deixar passar essa. A TV não deixa, e nunca deixará, um ser humano burro. O que pode acontecer é que ele venha burro, para a frente da telinha, e permaneça quadrúpede, pelos séculos dos séculos. Agora, se o cidadão lê bons livros, tem uma sólida educação dada pelos pais e pratica alguma religião, pode sentar na frente do invento que desbancou o rádio. Sem medo, diga-se de passagem. Por certo, seu senso crítico apurado fará com que acerte no programa que vai assistir. Mas voltemos à responsabilidade pela educação dos pirralhos.

          Algumas décadas atrás, e não muitas, três ou quatro já são suficientes, o modelo de educação era bem diferente do atual. Não entro no mérito do melhor ou pior. Isso fica para sua análise, dileto. Os pais educavam os filhos em casa. Ensinavam-lhes boas maneiras, respeito ao próximo e à propriedade alheia. A escola, por sua vez, dava continuidade aos ensinos paternos. O professor era – eu disse, era- um modelo a ser seguido, e a instituição se preocupava em preparar a criança para se relacionar bem com seus pares. A igreja – independente de qual - exercia o papel de orientadora espiritual, ensinando-lhes valores morais e religiosos que criavam nos menores a firme ideia de que o homem não é pura matéria. E tinha também o circo, como tinha o futebol, como tinha a música. Mas esses, querido, eram puro entretenimento.

          As escolas tão preocupadas com o conteúdo das disciplinas
          Hoje em dia eu percebo que não estamos sabendo quem é o responsável pela educação da piazada. Se você não mora no sul do Brasil, substitua “piazada”, por meninada. Os pais, enfiados até o pescoço em trabalho que lhes permitam um bom dinheiro, não têm tempo de educar os filhos. Saem cedo de casa e voltam estafados no fim do dia. Sentar com as crianças depois de um dia de cão? Nem pensar. “Estou pagando uma escola caríssima, ela que tenha bons professores para educar meu filho”, garganteia. A escola, por sua vez, está preocupada em levar os alunos do maternal à faculdade, ter o maior número de estudantes aprovados no vestibular e oferecer ótimas instalações. Se um professor chama atenção de uma criança, esta pega o celular 3G e envia uma mensagem para o pai, ou para a mãe. Em seguida a coordenação é “intimada” a punir severamente o educador. Em suma, o papel do educador, na escola, está em franca fase de extinção. Professor não vai à sala de aula para educar aluno, ele vai para dar conteúdo de disciplina. Converse com qualquer professor que ele vai te dizer isso. Claro que não é o discurso politicamente correto, mas a prática mostra que é o verdadeiro. E a igreja?

          Bem, a igreja, ah coitada – como dizia Filó. Perdeu, ha muito, o poder de congregar crianças. Os valores espirituais estão sendo achincalhados pelo materialismo grassante. Todos nós, ou pelo menos grande parte, sabemos que não somos apenas carne e osso; temos um espírito, essa coisa que nos move. Estamos cientes que o corpo é apenas uma embalagem. Mas somo levados, o tempo inteiro, a cuidar da casca que envolve nosso homem interior. Cremes, há para tudo que é parte do corpo. Creme para as pálpebras, creme para os dedos e creme para os joelhos. Contudo eu lhe pergunto, amado mestre: qual a tua preocupação com o espírito? O que você faz por ele? Tudo bem, não precisa responder. No entanto, as crianças também têm espíritos. Pobres crianças. E o circo, o futebol e a música?

          Circo, futebol e música vêm todos via cabo. Estão coalhando as salas e quartos de nossas casas. São sinônimos de entretenimento; nada mais. Não compete à televisão educar o teu filho. O papel dela é entreter. Quem deve educar é você, bonitófiro. Não vamos passar a bola para outro. Se o Big-Brother é um lixo, ou um luxo, cabe ao telespectador discernir. Porém, para distinguir o alho do bugalho é preciso um lastro educacional. Um alicerce de valores morais, éticos e espirituais. E de uma coisa fique certo: não é papel da televisão dar esse suporte. E quando você pensar em criticar a telinha pense duas vezes. O sheid, meu cachorro, está perguntando quantos livros você folheia por mês. E não esqueça: o cara que produz o programa de televisão que você assiste, leu o livro que você não leu.

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