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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O tiê e o tico-tico

E aí, beleza?

          Se tem uma coisa que gosto de fazer é alimentar pássaros. Não, em gaiola não; em liberdade. Por isso fiz uma casa para eles, e nos finais de semana costumo colocar alimentos que atraem as mais diversas espécies. Tirivas, canarinhos, sabiás e saíras, só para citar alguns. Outro dia aconteceu um caso bem interessante, envolveu o galanteador tiê prêto e um vagabundo tico-tico.


          Ora, o tiê possui uma plumagem preto-azulada que lhe permite viver becado pela própria natureza. Não tem uma pintinha, sequer, de outra cor que profane sua toga tribunalística. E tem uma arma secreta, não tão secreeeeeeeeeeeeeeeeta, mas que ele costuma guardar para usá-la em ocasiões especiais. É uma faixa vertical vermelha na cabeça que lembra um moicano. O risco rubro fica escondido sob a negra burca. Quando o tiê corteja uma fêmea, a primeira coisa que ele faz é dar pequenos saltos e deixar a crista à mostra. A arma é símbolo de virilidade, força e beleza. Falando em força, o bonitão também costuma mostrar a cabeleira quando quer intimidar outros pássaros. E intimida, principalmente a concorrência.

          E o tico-tico? Esse, quase todo mundo conhece. Principalmente quem mora em Santa Catarina. É muito parecido com o pardal, os mais leigos acham que é um pardal de topete. Não se assusta quando eu chego perto, e só pára de comer quando a distância entre eu e ele fica menor do que dois metros. É um boa-praça. Foram os índios que deram-lhe esse nome,devido ao piado que ele emite, principalmente enquanto se alimenta.  Quando o tico-tico se aproxima de um banquete e percebe que há muitos convidados, pousa na grama e fica bicando o chão como se esivesse comendo alguma coisa. Na verdade, está esperando um lugar à mesa. Ao primeiro vacilo, sobe no tratadouro e só sai de lá quando está plenamente satisfeito.

          É aí que entra a parte interessante: o tiê-preto estava acompanhado da namorada num almoço romântico. Foi quando estacionou, ao lado do casal, um tico-tico. Bem desavergonhado, sem a menor cerimônia atrapalhou a bóia e a chavecada do galã. Pra que! O tiê não pensou duas vezes, estufou o peito, esticou o pescoço, fuzilou o intruso com um desprezível olhar e sacou a arma vermelha escondida no alto da cocuruta. E o tico-tico? Nem aí. Os quinze centímetros de pássaro, nanico e desafeiçoado deu uma espiadela na direção do tiê e, juro por tudo que é pena, fez um ar de deboche,  com jeito de quem não se sentiu nem um pouco ameaçado continuou a comer. E a piar, também.

          O tiê ficou meio sem saber como agir. Percebeu que não conseguiu intimidar o pequenino tico-tico. Ainda tentou umas escaramuças, sem sucesso. Só restava reconhecer a derrota. Recolheu a colorada faixa moicana e teve que aturar o invasor durante o tempo que este quis.

          Somos tico-ticos a sofrer pressão por parte dos tiês que passam por nossas vidas. Só precisamos entender que, ignorando-os e ficando concentrados em nossos objetivos,não seremos atingidos pela prepotência de quem não é, em nada, melhor que nós.

2 comentários:

  1. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência...Concentrar-se nos próprios objetivos, concordo. Ignorar os tiês que passam por nossas vidas...nem tanto. Ficar atento acho mais interessante...

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  2. É meu caro, essa capacidade de relevar as coisas e seguir objetivamente rumo ao alvo, que é o grande desafio... a intimidação que nos sobrevem meche com nosso ego, e talvez seja uma dosagem de humildade que precisamos adquirir na nossa vida, pq o que ameaça roubar nossos direitos, nos estressa profundamente, porque temos tendencia natural de ser reativos... Em resumo, precisamos aprender com a natureza rsrsr. Obrigada por compartilhar seus pensamentos através dos artigos. Valeu!
    Irinéa

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