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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Vá à marcha, mas não me chame


Marcha pela direito de encher a pança de droga – para não ser desbocado e dizer encher outra coisa –: não me chame.

Marcha pelo direito de ter parceiro macho, fêmea ou jegue: por favor, me inclua fora dessa.

Marcha para ter direito a ser um religioso segregário: passo.

Marcha contra políticos que assaltam o povo na cara de pau – tô fora.

     Quem me conhece não vê novidade no meu posicionamento quanto aos três primeiros movimentos citados. E é fácil de deduzir, porque não sou usuário de porcaria nenhuma que venha a me tornar mais imbecilizado do que já estou. Quanto ao sexo, quando nasci, lá em Natal, sem direito a ultrassonografia, fotografia ou outra porcaria qualquer, o médico disse: é homem. Homem nada, era um piazinho do tamanho de um rato. Era macho. Macho fui, macho sou e macho serei. Agora se um amigo meu, de nome Ronaldão, resolveu virar Rosinha, problema dele. Continua meu amigo. 
     
     Seu Maurício e dona Margô ensinaram-me a respeitar. Quando encontro o ex-Ronaldo, não penso duas vezes antes de dizer “e aí mermão”. E a marcha pra Jesus, Gile, você é contra? Permita-me o chavão, mas não sou contra nem a favor, muito pelo contrário. Tenho, no entanto, sérias desconfianças que Jesus não tem nada a ver com o negócio. E se a marcha é feita por religiosos, para religiosos demonstrarem sua força e para os líderes das igrejas poderem depois negociar com políticos o apoio a essa ou aquela candidatura... pe-la-mor-de-Deus. Até aqui tudo bem, mas quando o assunto é corrupção tem uma bagualada de orelha em pé: “o quê, Gile? Não apóias a luta contra os corruptos?”. Vamos comer o boi aos bifes.

     Amigo, você acha que o cara que gasta uma bolada numa campanha mais suja do que chiqueiro de porco está brincando? Achas que o prefeito que rouba a merenda escolar de crianças está pensando em festinhas com palhaços coloridos? Acreditas que essa cambada de políticos que enriquecem à custa dos impostos de trabalhadores está a fim de cantigas de ninar? Mesmo assim, entendes que um punhado de gente com apito na boca ou nariz de palhaço pode sensibilizar o coração desses descendentes direto de Nero? Não, não vou a nenhuma manifestação contra a corrupção em que os manifestantes não estejam determinados a lutar. 
     
     Lutar no sentido mais original da palavra. A corrupção é um cancro que precisa ser extirpado, senão mata o Brasil. Enquanto os corruptos não defrontarem-se com uma multidão enraivecida, capaz de derramar o próprio sangue, eles continuarão matando idosos nas filas de hospitais. Continuarão permitindo que marginais iguais a eles roubem e tirem a vida de pais de família. Para enfrentar um leão, meu chapa, precisamos ao menos de uma boa faca. Por isso, não me convide para fazer parte de uma marcha contra a corrupção. Não creio em grandes mudanças sem derramamento de sangue; que o digam as últimas reviravoltas no chamado mundo árabe. Combater a corrupção com vassourinhas, faixas e gritos... Desculpe-me a sinceridade – ou pessimismo -, mas acho que é apenas pirotecnia.

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