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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O prazer da adoção e a dor da rejeição


       Não tinham pai nem mãe. Sendo irmãos, e por viverem juntos o tempo inteiro, os cinco foram batizados de “Robôs Efêmeros”. Katcha Flávia e Waldick, que não tinham filhos, os adotaram. Quem via a família ficava certo de que estava diante da mais perfeita harmonia entre pais e filhos. O tempo, esse danadinho insensível, fez os Robôs crescerem e tomarem porte de adultos. Não o eram, de fato, mas pareciam ser. Waldick, sabe-se lá por qual motivo, principiou uma repugnância pelos Efêmeros. Não aceitava mais a presença deles por perto. Era o início do fim de uma família perfeita.

       Os Robôs Efêmeros insistiam em permanecer ao lado dos pais. Os irmãos não sabiam que um relacionamento familiar, quando começa a esmorecer, fatalmente trinca e parte-se. Salvo uma baita operação de cede aqui, cede acolá, o que é cada dia mais raro. Impaciente com a gurizada e ansioso por uma vida mais tranquila com sua amada Katcha, Waldick expulsou os filhos do lar. Relutando em ir embora, o quinteto foi agredido pelo pai e teve que buscar novas paragens. Desceram o barranco onde ficava o açude e margearam um córrego que deslizava, puxado pela força da gravidade, em direção ao fim do mundo. Sair do açude onde viveram desde a adoção era perder a segurança da família e largar-se em direção ao estranho. O açude de águas barrentas não comportava mais tantos marrecos, deve ter pensado Waldick.

       Enquanto equilibravam-se morro abaixo, os cinco marrequinhos olhavam, vez em quando, para cima, na tentativa, talvez, de um pedido de desculpas por parte do casal. Necas. Cruzaram uma larga estrada, capaz de passar por ela um caminhão, e chegaram a uma ribanceira. Lá embaixo, um riozinho de águas diáfanas serpenteava entre as pedras, vindo do alto da montanha. “Uau, isso aqui é o paraíso”, imaginaram. Mergulhavam, divertiam-se na captura de pequenos peixes e batiam as asas num frenesi jamais experimentado por eles. Ao ver a cachoeira, não perderam tempo e banharam-se como até então jamais haviam feito. Nunca imaginaram que a expulsão do lar os conduziria a tão fantástica experiência.

Um comentário:

  1. Muito bom, Gile. Estou contente por ver o teu retorno às letras aqui no Blog.
    É a vida, né? Às vezes deixamos de descobrir um mundo melhor, por acomodação e inércia. O que, hoje, pode nos parecer uma desgraça, é, na verdade, o empurrãozinho que faltava.

    Abraço, companheiro.

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