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terça-feira, 12 de julho de 2011

Pobre Adalberto

     Ontem, um colega me perguntou se eu estava com medo de que a seleção brasileira não se classificasse para a segunda fase da Copa América.

- Medo, eu? - mostrei espanto. – O que é que eu tenho a ver com o time da CBF? - cutuquei.

- Ué, você não é brasileiro, não? Ou não gosta de futebol? – perguntou ao não entender minha colocação.

- Na verdade, tanto gosto de ver como de jogar bola. E torço sempre pelo time mais ofensivo, aquele que busca o gol. Quando a CBF joga, prefiro que ela ganhe, mas se isso não ocorre, a vida segue. Seleção brasileira é uma invenção para iludir o povo. Alguns políticos usaram, e outros ainda usam, o nome Seleção Brasileira para manipular eleitores. Como disse o presidente da entidade, Ricardo Teixeira, “que p&$#% as pessoas tem a ver com as contas da CBF? É uma entidade privada, não tem dinheiro público”.

- Ricardo Teixeira disse isso? Não ouvi falar nada disso – Adalberto, chamemos assim o meu amigo, pareceu não acreditar no que eu falara. – A seleção brasileira não é do Brasil? – arregalou os olhos.


- Piauí? O que é isso? – estranhou o nome.

- É uma revista, meu caro. E das boas – Adalberto, como a maioria dos brasileiros, informa-se assistindo telejornais. E se a notícia não brota nos televisivos, parece que não aconteceu. Para muitos, só é verdade o que sai no Jornal Nacional. A Record chegou a veicular reportagens sobre os escândalos envolvendo o dono da CBF. Como a Rede Globo ficou de boca fechada, o populacho ignorou as denúncias. Ricardo, sabendo da força da emissora dos Marinhos foi sarcástico: "Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito na Globo".

     Adalberto, que até então desconhecia ser a seleção brasileira uma marca usada pela CBF, ficou um tanto quanto decepcionado. Percebendo o baque iminente nas convicções futebolísticas do camarada, dei o tiro de misericórdia: - Não acredito na lisura do futebol, meu amigo. Gosto do espetáculo. Dane-se quem ganha ou quem perde. Quero ver balãozinho, embaixadinha e canetas. E golaços, claro. Detesto zagueiros que impedem o que seria um belo gol. Ainda que estejam usando a famosa amarelinha. Adorei os 3X2 da Itália sobre o Brasil em 82. À época, achando que futebol era coisa séria, fiquei triste. Tempos depois, menos ignorante quanto ao câncer da organização do esporte em que Pelé foi coroado, maravilhei-me com os três gols de Paolo Rossi.

     Ontem à noite, comecei torcendo contra a Argentina. Aos poucos virei a casaca e cheguei a vibrar com os gols argentinos. Vibrar, vibrar, não. Gostei, no entanto.  A Argentina venceu Costa Rica por 3X0. Amanhã, o Brasil – lembre-se que Brasil é uma marca, não uma nação – enfrenta o Equador. Caso perca, dança. Quero uma chuva de gols, lá ou cá. Já pensou, paisano, 7X0? E 9X4? Seria a glória. Imagine, quatro gols de placa brasileiros. Se os nove que o Equador marcar forem feios, não terão a menor graça. Gritarei pela sacada do apartamento onde passo as noites: “dá-lhe Brasil”.

Pobre Adalberto, um legítimo torcedor da seleção canarinho.





















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