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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O candidato e o matuto

          Em época de eleições vale a pena lembrar certos “causos”. E este é dos bons. Um caipira estava com o filho em uma canoa. Estavam pescando cambimba, como diria dona Margarida, minha mãe. Segundo ela, cambimba é peixe pequeno. Miuçalha. O menino, com seus nove anos, era pura curiosidade. Como são quase todas as crianças dessa idade. E essa estória é do tempo em que os pais eram os consultores dos filhos. Digo isso porque hoje em dia tem senhores e senhoras que aos sete anos costumam se aconselhar na internet. Coisas da modernidade, Gilead, diria o Sheid, meu cachorro. E tem pai e mãe que acham suas crias verdadeiros Einstein. “Meu filho é muito esperto. Sabe tudo de internet. Não preciso me preocupar com ele. Não me dá o menor trabalho. Passa o fim de semana no computador”, disse-me uma mãe, certa vez, toda orgulhosa. O triste é que se você, caro leitor, pede para o pirralho fazer uma pesquisa na rede ele não sabe como proceder. Deixemos esses futuros candidatos a cargo público de lado. Voltemos para a lagoa onde pai e filho, do tempo em que Legião Urbana era rural, pescam sua refeição.

          Em determinado momento o pequeno olhou para o pai e perguntou:
- Ô pai...
- Fala, fio.
- O pai sabe por que a canoa frutua?

 
          O pai coça a cabeça, a barbicha e o bigode – um de cada vez, diga-se de passagem. Depois de uns muxoxos constata:
- O pai num sabe, fio.

          O menino espera alguns minutos e vem com outra:
- Ô pai...
- Fala, fio.
- O pai sabe por que os peixe num morre afogado?

          O capiau se vê em outro aperto. Novo coçar de cabeça, barbicha e bigode. Novas caretas. E uma resposta mais pensada:
- Ah, fio... É pruque... É pruque... O pai também num sabe, fio.

          Mal dá tempo para o velho pai tomar fôlego e o projeto de gente emenda:
- E o pai sabe pruque o sol num cai na cabeça da gente?

          Essa última desconcertou de vez o genitor. Depois de repetir o gestual, admitiu:
- Ah, fio. É pruque... Também num sei, fio.

          O pimpolho fica pensativo enquanto dá banho na minhoca. O pai, por outro lado, torce para não ouvir nova pergunta esquisita. O filho percebe a saia justa do pai e tenta contornar a situação:
- O pai ta chateado?
- Chateado com que, fio?
- Porque eu to fazendo pregunta, pai?
- Não, fio. Pregunte. Porque é preguntando que se aprende.

          Senhoras e senhores. Sei que é dever de todo cidadão exercer seu direito de votar. Sei que isso faz parte da consolidação da democracia. Mas quando olho os candidatos, quando vejo as respostas que eles dão às respostas mais elementares que lhes fazem...

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