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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Seria o voto uma troca?

          “Uma pessoa, no interior do Pará, não tem esclarecimento nenhum sobre ficha suja. Se o candidato chega e oferece umas telhas, o coitado vende o voto”. Essa frase veio de um eleitor de Florianópolis. Confesso que fiquei pensativo e remoendo as palavras do sulista. Lembrei de uns cartazes que vi na serra catarinense. Dizia mais ou menos assim: “Sou serrano, voto em Colombo”. Para quem não é de Santa Catarina, e não está por dentro da eleição daqui, Colombo é o candidato eleito para governar o Estado natal do tenista Guga. Ora, a propaganda deixa claro que um serrano teria por obrigação votar em outro serrano. E por quê? Porque Colombo governaria, teoricamente, com os olhos voltados para a região onde nasceu. E o que é isso, se não uma troca?

          Estava ouvindo um programa de rádio, ontem a tarde, quando o jornalista perguntou se Lages – cidade onde nasceu o político em questão – seria beneficiada com a eleição de Colombo. A resposta, tida como normal, foi positiva. O jornalista entendeu que é natural o candidato cuidar da cidade de onde veio. E se é assim, o voto é uma relação de troca. Na capital deste Estado, Ângela Amim, foi a candidata mais votada para o governo. Por quê? Pelo mesmo motivo.

          Marina Silva arrastou quase vinte milhões de votos na corrida presidencial. Por quê? Por ser religiosa e carregar a bandeira anti-aborto - pelo menos para mim, esse foi o motivo da enxurrada de votos. E o que é isso? Uma relação de troca. Fui perguntado várias vezes, nos últimos trinta dias, em quem iria votar. E ouvi trezenas de amigos meus, jornalistas assessores, pedindo-me o voto. O argumento era um só: “Com esse cara, nós só temos a ganhar”. O cara foi por minha conta. Outra vez pergunto: não fica caracterizada a troca?

          Gente boa, o eleitor paraense citado no primeiro parágrafo, sou eu. É você. Somos nós. Ele talvez seja um pouco mais imediatista. Não seria porque as necessidades dele precisam de soluções urgentes? Cada um de nós votou, e vota, pensando no próprio umbigo. Tanto é verdade que os candidatos fazem promessas às classes específicas. E, para ser sincero, não vejo ilegalidade nem ilegitimidade nesse jogo de interesses. O tão falado processo democrático funciona assim. O que não podemos é sermos míopes e só perceber a troca de voto entre pessoas pobres. Até porque, vamos combinar, nossa elite cheira mal.  E como diz o deitado: "Farinha pouca, meu pirão primeiro".

2 comentários:

  1. Quando um deputado federal quanha 90 mil/mês, no total de benefícios, fica fácil ele comprar votos para a próxima eleição.

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