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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Farinha pouca, meu pirão primeiro

          Quero parabenizar dom Dimas Lara Barbosa. O cara merece. Permita-me, leitor, chamar dom Dimas de cara. Até porque ele é ninguém menos que o secretário-geral da Confederação dos Bispos do Brasil (CNBB). Perfumarias à parte, o religioso caneteou o abaixo-assinado dos bispos contra a restrição à exibição de símbolos religiosos, presente no 3º Programa de Direitos Humanos. Justificando a posição assumida o clérigo ponderou: “Há um secularismo danoso que quer apagar a religião da vida das pessoas”. Que legal a atitude do sacerdote. Evidente que um homem letrado e inteligente, como ele é, não acha que o termo religião limita-se ao catolicismo; ou acha? Não; teria que ser muito ignaro, e isso ele não é. Ou teria, também, que ser muito sectário; claro que o batinado também não é. Ou, em última instância, ser preconceituoso; duvido que ele seja.



          Se Barbosa não é ignorante, nem sectário e nem preconceituoso, ele está dando uma baita força para as demais religiões praticadas no país descoberto por Cabral. Já imaginou, paisano, o símbolo da Igreja Universal do Reino de Deus decorando as paredes do Senado da República? E um preto-velho na entrada do Palácio do Planalto?  E um boneco de Vudú na mesa presidencial do STF? Que maravilha, a religião, como nunca, estará presente na vida do povo brasileiro. Pelo menos em emblemas, como deseja dom Dimas. Sim, dileto, até hoje os únicos símbolos religiosos que vemos nos órgãos públicos são do panteão romano. Os bispos brasileiros não querem que os símbolos sejam retirados. Mas, me desculpe a ignorância, amado mestre: o Brasil não é um país laico? Pois então, pau que bate em Chico, bate em Francisco! Desde a mais tenra idade meu escutador de baião é alertado: “futebol, religião e gosto, não se discute”. Huuuuuuuum...

          Imagine você, leitor, comparecer a uma audiência vestindo a camisa do Vasco da Gama. O juiz responsável pela demanda é conselheiro do Flamengo. Duvido, com todos os cinqüenta dês do alfabeto, que ele não seja, de alguma forma, tocado pelo sentimento de torcedor. Não quero dizer, e estou bem longe disso, que o magistrado tomará sua decisão baseado em uma paixão por um time de futebol. Mas o que afirmo, de peito cheio, é: se você tivesse ido com uma camisa de botão qualquer, ele não teria feito a menor análise sobre tua preferência futebolística. “O futebol está no sangue dos brasileiros”, dizia meu escanchavô.  Vai dizer que não sabe o que é escanchavô? É o avô do avô, do avô do avô. A religião também; digo eu. Sendo esse vassalo que vos fala, um macumbeiro, e tendo uma demanda contra um pastor, prefiro que o juiz seja um pai-de-santo. Sendo essa besta que vos escreve, um pastor, e tendo uma demanda contra um catimbozeiro, prefiro que o juiz seja evangélico. Portanto as perguntas exigem respostas.

          Porque o STF pode ter um Cristo crucificado na parede? Porque a mesa do prefeito pode ter uma imagem de nossa senhora? Se o Brasil não tem uma religião oficial - embora haja sempre uma que se beneficia de polpudas ajudas governamentais -, não deveria restringir a exposição de símbolos de uma única privilegiada? Ou concede o direito a todas, ou retira o direito da oficiosa. E o abaixo-assinado dos bispos deve estar preocupado com a diversidade religiosa, claro. Caso contrário, vou dizer que Dom Dimas é ignorante, sectário e preconceituoso; mas ele não é. Não.

Um comentário:

  1. Gostei! Apenas símbolos da igreja católica... é o que pode no Brasil.

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