Utilização do conteúdo

Autorizo o uso do material aqui produzido, desde que seja dado crédito ao autor e não tenha uso comercial

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Atenção, senhores passageiros

          Interessante como o ser humano lida com o tempo. Com a idade. Com as mudanças que são inevitáveis na graaaaaaaaande maioria das vezes. Com as sensações e, mais ainda, com as emoções. Coisas que pareciam banais assumem, no decorrer dos anos, valores grandes demais para corações que teimam em minguar, em se fazer pequeno. E diminuindo aperta o que guardou em seu interior. E apertando abraça. E abraçando ama efusivamente. Sinto isso quando volto ao Rio Grande do Norte. Quando regresso à minha gente. Quando retorno ao meu lugar. E hoje estou escrevendo, no avançado das horas, da casa dos meus pais – neste pedaço de Brasil chamado Nordeste.



          De coração te digo, paisano, jamais pensei que amasse tanto este torrão. Ultimamente, entretanto, venho sentido imensa alegria quando me aproximo daqui. Moro em Florianópolis, sul maravilha. E uma visita aos meus genitores, por mais rápida que seja, exige alguma horas de voo. Como muita gente, adora a janelinha do avião. De vez em quando uma espiadela. Vez por outra os monitores da aeronave mostram o mapa do Brasil e o trajeto feito. Nem precisa. Eu sinto quando está chegando ao meu Estado. Não me pergunte como. Essas coisas não se perguntam. Claro, o que não se explica é para ser vivido. É bobagem querer racionalizar.

          Outro dia em uma voo que partiu de São Paulo com destino a Natal, e com escala em Salvador, viajava uma criança com Síndrome de Down. Era uma menina com seus oito aninhos. Estava sem os pais. Uma comissária a acompanhava. Ela era falante por demais. Não parava quieta. Puxava assunto com todos os passageiros ao seu redor. Lá para as tantas o comandante avisou: “Atenção senhores passageiros, estamos nos aproximando de Salvador”. Foi como um arco-íris depois de um temporal, para a pequena. “Uhu, Salvador”, gritou a inocente sem se importar com mais nada. Saber que estava chegando à cidade dela foi se sentir como um exilado retornando à pátria que deixou um dia. O grito não foi ensaiado. Não foi planejado. Veio de dentro da alma. Não me peça, paisano, para explicar o que é isso.

          Tenho orgulho da minha gente, do meu lugar. E nossa terra é como nossos parentes. Só nós podemos falar mal deles. É ou não é? Sei que tem um monte de mazelas, mas se não és daqui, por favor, contenha as críticas. Adoro o lugar onde moro – Floripa. Tenho amigos desde Manaus até Porto Alegre. Mas nasci em Natal. Foi aqui que abri os olhos pela primeira vez. Essa relação transcende à razão. Natal do Forte dos Reis Magos. Natal da Praia de Ponta Negra. Natal de sol e calor o ano inteiro. Natal, meu lar. Minha querência. Que bom te reencontrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário