Ele vinha a passos apressados no calçadão da Felipe Schmidt, Centro de Florianópolis. Não devia ter mais que dezoito anos. Os cabelos, tenho certeza, não conversavam com um pente havia dias. A pele do rosto quase não cobria o zigomático. A sola do pé já devia estar acostumada ao contato direto com o chão. Será que pesava 50 quilos? Talvez, osso pesa pra caramba. As roupas, ah, as roupas, pareciam ter saído de dentro de uma garrafa. Garrafa suja, diga-se de passagem. Os olhos, entretanto, corriam da esquerda para a direita procurando o que talvez só o rapazola soubesse. Afundados na cavidade ocular, arrastavam a cabeça toda vez que se mexiam. E a cabeleira negra ondulava. Ao vê-lo, ainda de longe, aquela correria do olhar chamou minha atenção. O que buscava?
O cérebro, de certo, ainda trabalhava, apesar de seu possuidor parecer mais um autômato. Teria pai o tal guri? E mãe? Certamente, não. Alguém projetou irresponsavelmente, alguém pariu. O que não significa que são pais. Claro, é uma questão de achismo. Eu acho de um jeito, outra pessoa pensa diferente e uma outra concorda. Como aqui eu escrevo o que eu acho, pois a crônica é minha, aquele piá não tem pai e muito menos mãe. Se tivesse um pai, leitor e leitora, não estaria naquela situação. E não me tenha por ignorante, muito menos por intolerante. Nem me xingue de insensível, por favor. E se você me perguntar se os pais são os culpados pela decadência de um ser que um dia foi anjo, não penso duas vezes antes de responder: sim, os pais são os culpados. E digo sem pensar porque já pensei bastante.
Lógico, se os pais do moço que vi na rua morreram quando ele ainda não tinha os primeiros dentes, isento-os de culpa. Se estão vivos, simpatia, deveriam ser responsabilizados. E talvez até estejam arcando com um alto preço pela miséria do filho. Talvez tenham passado as últimas noites sem dormir. Talvez tenham gasto os recursos que tinham na busca de tratamento para o rebento. Não vou dizer “bem feito” porque talvez eles sejam a continuação de uma geração desgraçada. Desgraçada por um discurso que permite aos filhos fazerem o que bem entendem, como se os menores tivessem condições financeiras e psicológicas de arcar com as conseqüências. Desgraçadas com a falta de limites, com a falta de autoridade paterna. Desgraçados pais, desgraçados filhos e desgraçadas ruas.
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