Ontem fui a um almoço de aniversário. Aqui mesmo, em Florianópolis. Não vou divulgar o nome do festeiro porque prometi que não o faria. Curioso, como sou, e sem ter muito o que fazer, fui dar umas espiadas nos presentes que o gurizão ganhara. E entre suspiros falsos de “ah, que coisa linda”, ou “quanto bom gosto”, deparei-me – juro por tudo que tu tens de sagrado! – com um despertador. Confesso que fui obrigado a parar. Parar e refletir. Sim, meu espírito se inquietou com o mimo. Não era um despertador qualquer, diga-se de passagem. Tocava diversas músicas. Marcava a temperatura, umidade relativa do ar e o escambau. Tinha, entretanto, uma função que me incomodou: despertar. Meu Deus do céu, pensei com meus cadarços, para que o desgraçado desse despertador vai servir? Gente, o anfitrião estava comemorando 80 primaveras. Agora, seja sincero, qual a utilidade da geringonça? O moço mora na praia, na parte ínsula da capital catarinense. Trabalhou dos 13 aos 60 anos. Há 20 está aposentado.
Dos 30 aos 60, morou em Brasília. Trabalhava diuturnamente em uma conhecida instituição bancária. Diuturnamente, sim. É que funcionário de banco dorme banco, acorda banco e come banco. Sei que há exceções, mas não era o caso desse piá de quem estou comentando. Na capital federal, cercada de cerrado, acordava todos os dias ao som de um velho despertador. Despertador esse que, por questões óbvias, já se escafedeu. Ao se aposentar, o homem, natural de Campos Novos, no Meio-Oeste do Estado natal do tenista Gustavo Kuerten, lembrou do ilhéu onde fora criado. Combinou com a esposa e comprou um terreno na Praia da Daniela, um balneário de Floripa. A senhora, dada às artes, fez o desenho da casa. Meses depois o ninho estava feito. “aposentadoria, aí vou eu”, realizou-se o ancião.
Sem hora para acordar, sem hora para almoçar e sem hora para “p” nenhuma. Deixei o p ao seu gosto, leitor. Caso conheças o camarada de quem falo, podes substituir a consoante por aquilo que pensastes. Tenho certeza que ele adoraria. Se fores mais casto, troques o “p” por “porcaria”. A verdade é que o tio da Isa – e é verdade, ele tem uma sobrinha que atende por Isa – não quer nem saber de horário. As poucas vezes que assume compromisso é quando vai à igreja atrasado. Aí vem um desnaturado e oferece-lhe um despertador como presente de aniversário?! Não interessa se a maquininha tem mil e uma funções. A missão principal da megera é despertar. É marcar horário e dizer: “acorda, preguiçoso, você tem obrigações a cumprir”. Vamos combinar, é desumano falar assim com o esposo da Verinha. E fiquei horas pensando na utilidade daquele despertador. E aproveito para esclarecer uma coisa, paisano: no meu aniversário de 80 anos, por favor, não me dê um despertador. Você corre o risco de ser tocado para fora da minha casa com presente e tudo. Ah, tem mais: nem pense em levar um pijama - outra lástima.
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