Definitivamente, este mundo não tem mais jeito. Estou em uma clínica, na sala de espera. Localizada no Centro de Florianópolis, tem uma sala de espera digna de... digna de uma crônica. As atendentes, em número de três, aparentam tranqüilidade. Para ouvi-las é preciso estar pelo menos um metro próximo das moças. O granito do piso está apto para receber um colchão e servir de cama. As paredes brancas não têm uma manchinha, sequer. E olha que procurei por uma. E tem uma prateleira que me chamou a atenção. Nela eu pude encontrar jornais do dia e revistas. Diferente da maioria das clínicas que conheço, essa tem revistas atuais. Nada de ler o que ninguém mais quer. Nada de folhear páginas e descobrir, no meu caso com tristeza, que o Flamengo foi campeão brasileiro. Os semanários são os últimos lançados no mercado.
Não consigo conter o ímpeto e avanço sobre as revistas. Ui, tinha uma Veja na minha frente. Desvio-me das presas afiadas do panfleto e agarro-me a uma que achei mais interessante. Dou uma espiada nas matérias e resolvo pegar outra. É quando percebo que ninguém – isso mesmo, ninguém – visitou a prateleira enquanto eu estava lendo. A sala tinha dezoito cadeiras para clientes. A metade estava ocupada. Foi quando escutei uma voz irritante vindo da parede acima das revistas. Uma televisão exibia oi programa de Ana Maria Braga. E os oito presentes estavam vidrados na global. Tinha um senhor – com seus sessenta e poucos anos – que chegou a deslocar o tronco para a frente, na tentativa de chegar mais perto da tela. Ele parecia beber um vinho do Porto. Outra senhora, ao meu lado, tinha uma expressão fisionômica que lembrava um torcedor que viu o time golear o adversário.
E tinha também um camarada que sentava com as costas na cadeira. Estava quase embriagado com o programa televisivo. E os jornais, pobres jornais, choravam. E tem gente querendo tomar o mandato de Tiririca alegando que o palhaço não sabe ler!
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