Expliquei-lhe que Gerineldo Marquez é o nome de um terneiro Jersey que tenho. Jersey é a raça do bonitão, para te poupar o esforço de pesquisar no Google. Jipão é a bezerrinha da mesma espécie. Ele, cá entre nós, achou estranho eu dar nome aos bois e tratá-los como se fossem gente. Fiquei, juro por tudo que tens respeito, chateado com o posicionamento do camarada. E disse-lhe que os bichos têm, sim, muito valor para este escriba que vos fala. De nada adiantou eu dizer que os nomes que coloco neles são, em geral, significativos – Gerineldo Marquez, por exemplo, é um personagem do livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez. Meu amigo disse que não se interessa por coisas sem importância, apenas por aquelas que têm a ver com o mundo dele. Não ficou claro para mim o que significa “o mundo dele” e tasquei-lhe uma pergunta:
- Sabias que o príncipe William vai casar?
- Claro, com Kate Maddleton – respondeu.
- Conheces William? – Alfinetei.
- Não. – disfarçou.
- E a futura esposa dele, é tua amiga? - Girei a faca na barriga do homem.
- Também não. – cambaleou.
Aí eu não perdi a oportunidade: “Vem cá, oh companheiro. Tu vens dizer que não se interessa com a história do meu bezerro porque ele não tem a ver com o teu mundo. E a família real britânica, tem?”. O indivíduo recolheu-se a insignificância de um latino portador de complexo do terceiro mundo e tratou de se despedir de mim. Aí eu me lembrei daquela música de Belchior: “Eu sou apenas um rapaz, latino-americano sem dinheiro no banco...”. Aonde já se viu, ignorar Gerineldo, que mora aqui perto, e saber detalhes de um “nobre” inglês!?
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