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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Danem-se, miseráveis

     As construções precárias, algumas de pau-a-pique e chão batido, parece terem sido projetadas pelo mesmo arquiteto que fez os hediondos círculos retratados pelo florentino Dante Alighieri em sua Divina Comédia. Um pedaço de inferno no Nordeste de um Brasil tão rico. Raríssimas são, quase que num contra senso, as casas em que o céu não esteja representado. Em uma delas, duas, noutra, três. Às vezes, cinco anjos de olhos cintilantes e barrigas crescidas por abrigar tantos vermes, brincam sem saber que o futuro é perdição. O que pedem da vida? Quase nada. Uma bola de plástico, quando muito, para dar vazão às puerilidades, ou uma boneca sem braços. Talvez, presentes de um protetor que ceifa-lhes o sopro divino aos poucos – o prefeito. Sim, senhoras e senhores, o prefeito e seus vereadores são os demônios que eliminam quaisquer possibilidades de tais crianças ascenderem socialmente. Roubam-lhes o direito a saúde. Ao invés de sanear o município, e evitar assim a presença de pestes, fazem arremedos de pavimentos que, superfaturados, tornar-se-ão em belas casas de praias, apartamentos luxuosos e carros importados. Oferecem salários de miséria aos professores e atraem, para a nobre função, profissionais desencorajados e também vencidos pela desgraça. A merenda escolar, que para alguns anjinhos é a principal refeição do dia, chega em forma de comida de cachorro. Cachorro de pobre, diga-se de passagem. Por quê? Porque políticos inescrupulosos precisam de filé-mignon na mesa de suas mansões. "Danem-se, miseráveis, o que nos interessa são apenas os votos dos teus pais", gritam pelas ruas quando fazem comícios. Depois, correm para o céu do litoral. Gula, avareza e luxúria lhes esperam – só para citar alguns pecados. Ah, fotografias em jornais, aparições na TV e coisas do gênero acompanham o Manual do Explorador. Não podem, isso não podem, esquecer do próximo dia das crianças. Uma nova boneca de 1,99 e uma nova bola, também de 1,99, aquietarão os filhos dos escravos.

Um comentário:

  1. Triste realidade em que seus olhos tem fotografado querido amigo... a pobreza e a vida miserável de crianças (bem dito por você, anjinhos), cuja única refeição do dia vem de uma escola mal assistida e desamparada em todos os âmbitos que permeia o processo pedagógico educacional. Pobre vida miserável, que futuro esperar? Enquanto os políticos continuarem sendo péssimos administradores não cumprindo com seu compromisso social e humanitário para o qual foram eleitos (erradicar a pobreza, e proporcionar saúde e educação de qualidade para todos e não só para alguns.) Isso me deixa INDIGNADA!

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