Aproxima-se da meia noite. O posto de combustível às margens da BR fervilha. Mesmo assim, as bombas não despejam uma gota de gasolina, álcool ou óleo diesel nos tanques dos veículos. A movimentação é no pátio, onde caminhões estacionados servem de trincheiras para traficantes, viciados com narizes eufóricos e prostitutas. O estrago causado à sociedade é impossível de ser quantificado. Um rapaz de 19 anos comanda a boca. Aristeu, chamemos assim o moço, é um velho conhecido da polícia. Vende crak, maconha e cocaína. A mãe dele é falecida. O pai, potiguar, mora com uma pernambucana. O casal não aprova o modo de vida adotado por Aristeu. Jercino, nome fictício do pai, não permite que produtos advindos de roubo ou tráfico entrem em sua casa. “Não aceito vagabundo. Não quer trabalhar honestamente, então não apareça perto de mim”, esbraveja em tom de desabafo.
Por volta das 2h da madrugada, Aristeu chama um taxi. Vai à capital, há cerca de 20 km, buscar uma nova remessa de drogas. Ao ser perguntado se não tem medo de ser pego pela polícia, fala grosso: “Eu vendo para policiais, também. Se acontecer alguma coisa comigo, eu entrego todos eles. Meus clientes, aqui, são, na realidade, os caminhoneiros”. Um rapazola de 17 anos está agachado sob a carroceria de uma carreta. O cachimbo movido à pedra está em frenesi. Seu nome? Messias. É irmão de Aristeu. Quase alheio ao que se passa em redor, sorri quando um passante lhe diz uma pilhéria. Não estuda. Não trabalha. É um nordestino sem esperança de dias melhores. Um brasileiro anônimo. Um filho que morreu para o pai, embora não tenha ciência disso. E que está morrendo aos poucos pela boca. Ninguém faz nada. “Será preciso mais que um ‘messias’, para salvar Messias”, penso entristecido.
“Aqui ta tudo tomado pela droga”, diz Anastácia, madrasta dos rapazes. “Tem ‘minino’ de dez anos viciado em maconha”, assusta-me. “Outro dia, meu marido pegou Messias fumando ‘peda’ e deu-lhe uma surra. Queria fazer ele comer a ‘peda’. Só não matou porque eu não deixei. Eles - Aristeu e Messias - moram num barraco perto da nossa casa. Jercino não quer eles aqui. Mas quando ele sai para trabalhar, eu dou comida a eles. Tenho pena”.
O que contei, vi na periferia de uma capital nordestina. Um lugar empobrecido, onde o dinheiro do meu imposto parece não chegar.
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