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terça-feira, 31 de maio de 2011

Jeca, eu?

- Jeca Tatu é tua mãe, ô espirro de gato!

     Não disse, mas pensei seriamente em gritar no ouvido de Cunilda – chamemos assim minha colega de profissão. Limitei-me a retrucar:

- Pelo menos meus bois não dormem na minha cama.

     Na elegância dos seus um metro e cinquenta de urbanidade, a moça aventou que eu, um cara que gosta da vida no campo, corria sério risco de virar um Jeca Tatu. Ora, ora, meus senhores, li Urupês, de Monteiro Lobato. Acho-o de uma riqueza estilística comparada às encontradas em Saramago. O jornalista escritor retrata em cores vivas a - entre outras coisas – falta de higiene do caipira paulista. O romance daquele que veio a se tornar símbolo da literatura infantil brasileira foi adaptado para o cinema. O Brasil deu risada à custa da interpretação de Mazaroppi. O personagem convivia com os animais como se eles fossem da sua parentalha. E, num país amatutado, Jeca virou sinônimo de matuto, de capiau. Eu até teria ficado calado se não soubesse que ela mora em apartamento e cria um cachorro.

     E os apartamentos de hoje em dia você sabe como são amplos; para não dizer o contrário. A pessoa cria um cachorro dentro de um imóvel que, muitas vezes, não passa de 70 metros quadrados e acha-se no direito de alfinetar quem gosta de gado. Paisano, eu também moro em apartamento e sei, como poucos, o estrago que os caninos fazem em um condomínio. Antes que um tresloucado me condene ao inferno de Dante, adoro cães. Já tive mais de um, inclusive. Não dentro de um apartamento, ressalto. Cansei de entrar na garagem do prédio e ver as colunas do imóvel manchadas de urina de cães. Os donos de cachorros – tem exceções, claro – acham que as calçadas são latrinas para os latidores. A gente tem que andar olhando para o chão para não rechear os calçados. Tem apartamento mesmo que mais parece um canil.

     Aí uma sanfona de gambá vem querer dizer que sou Jeca. Fala sério né, ô, sapato de cobra. Ora Jeca!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Criticar, péssimo investimento

     O chefe chega para o funcionário e diz em tom contrito: “seja sincero, o que você acha da minha administração?”. Se o indagado não tem experiência, ou não se preocupa em ser demitido, deve mostrar as falhas do perguntador. Se, entretanto, conhece alguma coisa da vida, e não quer ficar desempregado, urge que olhe no grão dos olhos do cacique e minta. Minta com força. Rasgue elogios. Ou, se for mais experto, conte apenas o que vê de bom no administrador. Mas nunca, nunquinha critique um ser humano. Nós, e nós significa eu, você, seu vizinho, seu patrão, o prefeito, o presidente da República e o diabo a quatro. Odiamos críticas. Por mais inocentes que elas pareçam. Até mesmo as chamadas “críticas construtivas” são como ferroadas de abelhas no ouvido de quem as ouve. Certamente você, leitor, já ouviu falar em Tristão de Ataíde. Pois veja como ele reagiu quando Rubem Braga – um dos maiores cronistas brasileiros – escreveu uma crônica no Diário da Noite criticando a Igreja Católica.

     Alceu Amoroso Lima – o Tristão – era a maior estrela do grupo de intelectuais católicos dos anos 1930. Era membro do Centro Dom Vital, uma organização direitista “cristã” criada em 1922. O Centro mantinha uma coluna no jornal supervisionada por Tristão. A tal coluna, conforme ressaltaria o escritor Fernando Morais em Chatô o Rei do Brasil, “tentava passar a impressão de ser um espaço de reflexão politicamente de centro, embora fosse uma das mais reacionárias seções da imprensa de então”. E ela existia graças a um acordo entre Chateaubriand, o dono do periódico, e o clero católico. Quando Tristão leu a crônica enviou uma mensagem ao empresário: ou o “desatinado Rubem Braga” era demitido ou ele retiraria a coluna do Centro Dom Vital. Sobrou para quem? Rubem Braga dançou. Alceu Amoroso Lima, “mermão”, que coisa feia, hem?! Coisa feia, sim, mas que fazemos amiúde.  

     Outro dia um amigo meu, que não vou revelar o nome, choramingou nos meus escutadores de forró que o síndico do prédio em que ele morava era um horror. Que era ditador, que não tinha humildade, que reagia muito mal às críticas que ele fazia. Passado um tempo ele assumiu a vaga deixada pelo ditador. Em outra conversa comigo, orgulhou-se de ter dito “umas poucas e boas” para um condômino que veio se “meter a besta” com ele. “Ora, o cara veio querer que eu explicasse tudo que estava fazendo no prédio, e se achou importante o suficiente para me dar sugestões e criticar minha administração. Imagine se eu iria aceitar”, garganteou. Eu só não disse que ele era um babaca para não perder a amizade. É, paisano, fico com uma certeza que se agiganta a cada dia: só criticar quando tiver preparado para uma rebordosa.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

By, by, Avaí

     Meia noite e quinze. A madrugada da quinta feira está começando e a Avenida Beira-Mar Norte entra em ebulição. Biiiiiiip-biiiiiiiip-biiiiiiiip, fooooom-foooooom-foooooom. Essa barulheira é comum quando o Avaí joga – e ganha, claro. Os torcedores do time da Ressacada costumam sair em buzinaço pela área mais charmosa de Floripa. Hoje, entretanto, o motivo é outro. O Vasco da Gama sepultou os planos dos catarinenses. A equipe carioca humilhou os comandados do técnico Silas. O placar não retratou a superioridade vascaína. Tivesse o Vasco feito a metade das claríssimas chances de gol que teve e teria metido seis no Avaí. Os moradores da região fecharam a matraca e foram dormir. Já os torcedores cruz-maltinos soltaram o grito e as mãos. Mãos que não cansam de apertar a buzina.

     E foi uma derrota dupla para os torcedores do Avaí. É que todos os avaianos que conheço torcem também pelo Flamengo. Todos, não. O Rafinha, peladeiro da AABB, e o Zico, primo da minha mulher, são vascaínos. Os demais, são rubro-negros até a alma. Aí você já viu, né. O cara torce pelo Avaí e pelo Flamengo, enfrenta o Vasco em Florianópolis, toma um sapeca-iaiá... huuuum. Até parte da imprensa esportiva – como é chamada a turma que trabalha com futebol – é declaradamente flamenguista. E já contavam com a vitória antecipada. Escutei vários colegas meus alardeando que o Avaí golearia o Vasco. E a torcida avaiana, assim como a flamenguista, não pode ganhar um jogo que já acha o time o melhor do planeta. Deu até dó.

     E de nada adiantou a estratégia do Avaí de dar bordoada. Quanto mais batiam, mais dribles levavam. Marcinho Guerreiro, o xerifão de Floripa, ficou até zonzo; só chapéu ele tomou três. Parecia uma avalanche preta e branca no gramado da Ressacada. O melhor em campo, evidente, foi o goleiro Renan do Avaí. Não fossem as boas defesas do moço e a goleada teria sido histórica. Nem o comentarista de futebol da Rede Globo – o flamenguista Júnior – parecia acreditar. Com a voz taciturna, deixava claro a tristeza que sentia. Pobre Júnior, não adiantou secar o adversário. Foi uma partida perfeita dos vascaínos. Arrasaram o Avaí. Não foi só pela vitória, mas como ela veio. Os catarinenses não tiveram a menor chance. Só jogaram alguma coisa quando o time de São Januário entendeu que a vitória estava garantida. Ao Avaí, resta saber que tem um bom time e pode fazer uma campanha razoável no Brasileirão. Já a torcida vascaína de Floripa pode preparar a buzina que o título vem aí.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

     Dizem que o contato com a natureza nos deixa menos estressado. Dizem que quando ficamos um fim de semana num lugar bucólico, por exemplo, relaxamos e nos tornamos mais flexíveis. Dizem que o convívio com animais do campo – que não sejam jogadores de futebol, por favor – nos passa sossego, quietude, e que esse estado de espírito melhora nossa convivência com os mortais da cidade. Duvido. E duvido com um D beeeeeeeeeeem grande. Pra ser sincero, acho que a vida no campo prejudica, e muuuuuuuuuuuito, o bom convívio com nossos semelhantes urbanos. Por razões óbvias, jacaré. Entre o gado, para que tenhas uma ideia, as coisas funcionam de forma muito simples. Aquele que tem mais força, que é mais pesado e que é maior, é quem manda. É inimaginável que um terneiro de 300 kg enfrente um touro de 900 kg. O “preiboy” sabe que levará uma traulitada que se ele não cair é porque morreu em pé feito vela. O camarada que trata os quadrúpedes é respeitadíssimo por eles. Os chifrudos reconhecem o bem que o tratador lhes faz. Já na cidade...

     Quem manda em quem entre os homens? Quem define como as coisas funcionam? Quem respeita quem e quem merece ser respeitado? Não sabemos. As coisas não são claras. São como regras de futebol; até existem, mas a interpretação por parte de quem as aplica bagunça tudo. “Não há crime sem lei que o determine”, alardeia os bastiões da lei. Mesmo assim, embora matar seja crime, dependendo de quem seja o homicida o delito vira gás. Um fedelho que mal perdeu a catinga da frauda enfrenta um pai de família e o enche de adjetivos impróprios para a saúde bucal e auditiva. E se confia em que? No dinheiro do pai. Um ordinário de 16 anos estupra, espanca e mata. E o que acontece? Impunidade, paisano. Com um agravante: se o delinqüente for filho de rico, vai precisar de um psicólogo, se for filho de pobre levará uma boa surra antes de ir para uma cadeia para jovens marginais. Por isso a vida no campo é nociva. Sacou?

     No campo há respeito; na cidade isso é coisa de antigamente. No campo há regras claras; na cidade os julgamentos são anuviados pela força do capital. Aí o sujeito vai ao campo e relaxa, sem muito esforço entra em sintonia com a natureza. Aí quando ele volta para a cidade, meu chapa, e vê o pandemônio que o cerca, fica mais irritado do que quando saiu. O estresse é aumentado em 1000%. Por isso, caso alguém te diga “ta nervoso?, vai pescar” ou “vai passar um fim de semana num hotel fazenda que você desestressa”, pense duas vezes. O tiro pode sair pela culatra. Um vizinho meu me reclamou, ontem à noite quando eu chegava ao prédio onde moro, que cumprimentou um senhor que estava no elevador e o bonitão não respondeu. Esse meu vizinho, um aposentado de 65 anos, estava contrariadíssimo. “Que gente grossa que tem aqui”, desabafou. Depois de cinco minutos relatando atitudes de seus “mal educados”, segundo ele, condôminos, entrou no carro e saiu. Peguei o elevador, olhei no espelho e disse para mim mesmo: “que bom seria que isso aqui fosse um curral”.

domingo, 22 de maio de 2011

Começou o Brasileirão 2011

Começou o campeonato brasileiro de futebol. O Avaí, que pelas bandas de Florianópolis já está se achando campeão da Copa do Brasil, foi goleado pelo Flamengo, o mesmo Mengo eliminado da Copa pelo Ceará, o dito Ceará que tomou de 3 do Vasco, virtual eliminado da Copa pelo Avaí. Pois é, o que se pode esperar dessa competição? Rindo à toa está o Figueirense, que eu jurava que seria triturado pelo Cruzeiro. O Furacão, como o time da capital catarinense é conhecido, não conseguiu nem chegar às finais do Catarinão 2011, que foi vencido pela Chapecoense, que deve estar na série Y do brasileiro. Isso quer dizer que se o time de Chapecó tivesse disputado o campeonato mineiro, nem água para o Cruzeiro. A pergunta que não quer calar, é: tem lógica esse tal de futebol?

Agora tem time que começou o Campeonato Brasileiro do mesmo jeito que terminou o estadual - ou seja, envergonhando a torcida. É o caso do Grêmio. Depois de perder o título do Gauchão dentro de casa, conseguiu perder na estreia para o desorganizado Coríntians, que tem como craque o zagueiro Chicão. O Fluminense, a mesma coisa. Depois de eliminado da Libertadores pelo fraquíssimo Libertdad do Paraguai, perdeu para o São Paulo no Rio.

Já tem gente apontando favoritos para conquistar o caneco. Acho uma temeridade, conforme afirmei antes. Mas na Série B, um dos favoritos ao acesso à série A é o ABC. Anote. É uma qustão de lógica. No ano passado o ABC venceu a série C e veio para a B. Neste ano ele saltará da B para a A. E em dezembro eu estarei em Natal para comemorar com o Mais Querido.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Vereadores, motoqueiros e Berthold Brecht

     O vereador sobe à tribuna. Os companheiros de profissão ficam de olho. E aí ele comete o primeiro pecado: traz à tona um projeto de lei que regulamenta a profissão de motoboy em Florianópolis. Um dos fazedores de lei municipal levanta-se da mesa posicionada no ponto mais alto da casa. Badeko é o nome do cidadão; nome de guerra, digamos assim. Ensacado num terno cuja calça parece ter cinco números a mais do que quem a usa, desce e dirige-se a um camarada dele. Não sabendo que é, no mínimo, falta de educação dar as costas a um pregador, faz isso sem o menor constrangimento. E ri. A boca solta atropela quem está fazendo uso do microfone. Para piorar, o afrodescendente furta a atenção de outros dois políticos. A essas alturas, Márcio de Souza, outro afrodescendente, tenta discursar. As palavras chegam aos olhos de não mais que quatro membros da câmara. Márcio persiste, argumenta que a necessidade da regulamentação de uma categoria como a dos motoboys é mais do que necessária, até porque já existe uma lei federal fazendo isso. Basta a câmara de vereadores municipalizar a lei. A luta é vã. Badeko sai do plenário. Quem sabe foi ao banheiro. Certas coisas é melhor fazer do que ouvir um companheiro fazer.

     Márcio de Souza não desanima e insiste em pecar. Apresenta números, estatísticas que comprovam a quantidade de motociclistas que morrem diariamente na capital de Santa Catarina. Alerta que o poder público pode fazer alguma coisa, e para começar a fazer a regulamentação da categoria é o primeiro passo. É a vez de levar outra “costada” na cara. João Amim é o nome da fera. De cenhos franzidos, o filho do ex-governador Esperidião Amim parece ter odiado o assunto. “Que diferença entre ele e o pai, hem?”, resmunga Pedro Luis Sabaciauskis, presidente da associação de motociclistas Amofloripa, que estava entre as cinco almas abnegadas que enfrentavam os 14 graus da noite florianopolitana. “Antes de começar a seção, fui falar com ele e ele me deixou falando sozinho”, reclama o empresário. “Não foi nem um pouco simpático. Tem muito o que aprender com o pai. O pai dele recebia até os adversários com um sorriso”, critica Sabaciauskis. Se, como diz Pierre Weil, o corpo fala, o de João Amim parece deixar claro que está incomodado com o discurso sobre motociclistas. E ele não está sozinho nessa incomodação. A lei No 12.009, de 29 de julho de 2009, sancionada pelo então presidente Lula, não sensibiliza os mandatários do Sul brasileiro. Vale salientar que a lei é federal e cada cidade é responsável pela sua municipalização. Até o momento o Centro-Oeste lidera o ranking de municipalização – 17,8% dos municípios já o fizeram. O percentual no Sul é de míseros 4,9% - o pior entre as regiões do Brasil. “Que morram esses motoqueiros danados”, parece ser o clamor surdo dos chefes políticos catarinenses.

     Sensibilizado com tantas mortes de motociclistas, Márcio de Souza pede que o projeto de lei apresentado por ele volte à comissão de constituição e justiça da Câmara. O tempo de Márcio estoura. "Chega de pecado", esbraveja o relógio.  João Amim, finalmente, pôde girar a cadeira e voltar a olhar o púlpito. Badeko vê-se livre do falatório de Márcio e consegue respirar outra vez dentro do plenário. Antes, porém, é interceptado por Pedro Sabaciauskis. “Deixa que eu vou pegar essa (...) e vou fazer passar”, retruca indignado o vereador, quando Pedro questiona o descaso dos vereadores com a lei que regulamenta a profissão de motoboys. Ah, antes disso, a Câmara prestou farta homenagem a uma rede de comunicação de Florianópolis da qual Badeko é funcionário. Parece que tudo uma questão de prioridade. “E as mortes de motociclistas?”, pergunto, “não merecem a atenção dos nossos vereadores”?

     Enquanto me retiro, uma voz malina sopra nos meu ouvidos: "O que João Amim e Badeko querem é que Márcio de Souza retirem o projeto para eles poderem apresentar". Nego-me, juro, a acreditar que uma coisa dessas seja verdade. Se bem que, como disse Berthold Brecht certa vez: "As leis e as salsichas, é melhor não saber como são feitas".  




terça-feira, 17 de maio de 2011

A burrice está com a corda toda

Como disse Rui Barbosa certa vez, "há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência". É ou não é, paisano, a mais pura verdade? Olhe ao seu redor e tire as próprias conclusões.

- Quem manda no teu condomínio?
- Quem manda no teu bairro?
- Quem manda na tua cidade?
- Quem manda no teu Estado?
- Quem manda na empresa em que você trabalha?
- Quem manda no clube que você frequenta?
- Quem manda na igreja que você costuma ir?
- Quem manda nas estradas que você trafega?
- E por aí vai.

Gente do céu, a burrice é, sim, uma ciência.  Quando falo em burro, assim como o jurista citado, não faço menção a iletrados ou a incapazes de somar dois mais dois. Se prestarmos atenção ao que eles fazem, no entanto, nos erros absurdos que cometem, na maneira como nos escoiceiam, hum...

Mas é aí que está a ciência da burrice - no coice. O coice é, sim, senhoras e senhores, a chave de tudo. Analise uma campanha política e veja se o vencedor não foi aquele que deu o coice maior no oponente!

Você já imaginou, amizade, na quantidade, e na qualidade, dos coices que alguns empresários dão para fazer suas fortunas?!

"Nêgo veio", como diz o caboclo, ouse desafiar alguns dos mandatários que eu citei no rol do segundo parágrafo. Prepare-se, porém, para o coice que levará. É interessante notar que um burro comandante sempre encontra outros burros que o carregam até o trono.

É, meu chapa, a burrice está com a corda toda.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Campeões estaduais de 2011

No início deste ano eu avisei a um dos meus irmãos, São Paulino roxo, que o Santos seria campeão paulista "com os pés nas costas". Não que eu seja santista, até porque eu nunca morei no litoral paulista, mas é que bastava olhar para o elenco do Peixe, observar os adversários e constatar sem medo de ser feliz.

Em Minas deu Cruzeiro. Deu a lógica. Só uma zebra bem gorda faria os comandados de Cuca perderem o título para o Galo. Dorival Júnior, técnico do Atlético, até que merecia, mas não tem um time forte nas mãos.

Na república gaúcha os colorados cairam na vanera e festejaram o título na casa do adversário. Pobre grêmio, pobre Olímpico. Ah, Renato Gaúcho, mais um vice, hem?!

E em Pernambuco? Deu Santa Cruz, "mô filho". Quero aqui mandar um alô para o Chico, vice-presidente do Sport, que tem apartamento aqui na Ilha da Magia, e dizer-lhe que: "não deu, camarada". A Cobra Coral fez a festa e picou o Leão antes de levantar a taça. Mas eu acredito no Sport e tenho certeza que o time voltará à divisão de elite do Brasileirão.

E no meu Rio Grande do Norte, terra do folclorita Câmara Cascudo? "ABC time do povo, campeão das multidoões...". Deu o óbvio. O Mais Querido, como o alvinegro natalense é conhecido, levantou o caneco mais uma vez. Agora jão são mais de 50 títulos estaduais. É, de fato, o campeão dos campeões. E só não será campeão da Copa do Brasil porque foi eliminado - com a ajuda do apito - pelo Vasco da Gama.

A única, isso mesmo, a única vergonha no futebol brasiileiro ficou por conta dos cariocas. Não é que a urubuzada comemorou o título invicto?! Fala sério, nané! Eu cheguei, no dia depois da conquista flamenguista, e falei para um rubronegro fanático: "O Flamengo envergonhou o futebol carioca". Quase perdi o amigo. O Ceará tratou de sair em minha defesa e despachou o Flamengo da Copa do Brasil.

Santa Catarina também deu seu vexame. A Chapecoense foi campeã. Calma, calma, o time do Oeste mereceu ganhar. Eliminou, inclusive, o Avaí, que está a quatro partidas de ser Campeão da Copa do Brasil. Tem uma coisa, entretanto, que precisa ficar claro: no ano passado a equipe foi rebaixada para a segundona do Catarinense. Forças ocultas fizeram o Atlético de Ibirama desistir de disputar o estadual de 2011 e a vaga foi cedida para a chapecoense. hummmmmmmmmmmm...

Sábado começa o Brasileirão 2011. Aqui vai o meu provavel campeão:
Santos, ou São Paulo, ou Corintians - não esse não - , ou Palmeiras - não depois do vexame contra o Coritiba, não - ou Vasco, ou Fluminense, ou Cruzeiro, ou Internacional, ou...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Avaí derrota educação na noite de Floripa

– Figueira filho da (…). – Gritou o fanático torcedor azul e branco. - Figueira, a quem ele se refere, é o torcedor do Figueirense, arquirrival do Avaí.

– Vai tomar (…), Avaí de (…). – Respondeu o rapaz do apartamento ao lado.

– É Avaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaí, cara&^%$#*. – Esgoelou-se outro adorador do time que acabava de fazer o terceiro gol no São Paulo.

– Vai pra (...), seu (...). Secador duma (...). – Alguém fez coro às belas vozes que se apresentavam pelas sacadas dos prédios na noite de quarta feira.

– Cala a boca aí, seu (...). – Mandou um camarada de mais idade. Pela voz, não tinha menos do que 60 anos. Podia ter dormido sem escutar:

– Vai dormir, velho, gaúcho de merda. Tu nem é manezinho (apelido dado ao nativo da ilha de Santa Catarina), po*&%$. Te manda daqui. Sai da minha área seu (...). – E as expressões racistas, contra os gaúchos, principalmente, ecoaram por uma das regiões ditas mais “nobres” de Florianópolis.

     Cada um que ia até a sacada, ou à janela, do apartamento onde se empoleira, gritava como quem acaba de perder a mãe vítima de uma facada no peito. A noite da orla marítima de Floripa esfacelou-se em palavrões que o menorzinho tinha três metros de altura. Graças ao meu bom Deus, nenhum grito feminino foi ouvido. Pelo menos nessa fossa transbordante elas não colocaram seus delicados pezinhos. O desfile de vozes era todo masculino. O Avaí precisava vencer o São Paulo com, pelo menos, dois gols de diferença para se classificar para as semifinais da Copa do Brasil. E realizou a façanha. Como quem anda de montanha russa pela primeira vez, os torcedores do time do Guga não conseguiam conter a própria boca. E nesses momentos, paisano, o espírito do homem transborda e o excesso procura um orifício para ganhar a liberdade. Acha-a pelas cordas vocais. As cadeias que aprisionam as idéias, vontades e desejos se soltam. Liberamos os bichos que moram dentro de nós: preconceito, ódio, desejo de matar...
 
     E quem não tem nada a ver com a pocilga, não consegue fechar as narinas por mais de um minuto. Os tampões nos escutadores de boleros mostram-se ineficientes e as cavidades auriculares dobram-se à torpeza de homens que, àquela hora da noite, bem poderiam estar procurando um marido, uma louça pra lavar ou um pai que a mãe deixou numa zona qualquer. E ainda se acham educados, os tais senhores. No outro dia, como se nada tivesse acontecido, vestem-se com roupas de grifes, perfumam-se e entram em seus possantes. A alma, essa companheira invisível aos olhos de muitos, acompanha-os cabisbaixa. Enrolada em uma túnica escura, com uma echarpe da cor do urubu e descalça, cheira a cadáver de quinze dias. Observo-os, matéria e alma, e as ânsias de vômito me invadem. Com o adiantar das horas, vou me restabelecendo.

Até o próximo jogo.















quinta-feira, 12 de maio de 2011

Salmo 104

     Gente do céu, cada dia eu me surpreendo mais com a qualidade dos emails que recebo. Um amigo me alfinetou: - Me diga com quem andas que eu te direi o nível das mensagens que você recebe -. Pura maldade daquele canalha. Um dia dividi meus contatos em parentes, amigos, colegas, fontes e contatos. Não deu certo. É que tinha amigo que era colega. Tinha contato que era parente. Tinha até contato que era amigo, colega e fonte! Virou uma salada mista. Deixei tudo num saco de gato só. Não importa se é parente, colega ou seja lá o que for, taxei todos de contato. Mas não pense que saio abrindo todo recado que me enviam. Olho primeiramente o nome do remetente. É com dor no coração que descarto alguns de cara. Odeio fazer isso; é como virar o rosto quando alguém me diz bom dia. Não posso, entretanto, responder bom dia ao mesmo cidadão cinco ou seis vezes numa manhã. Ah, nunca, isso mesmo, nunca abro aqueles Power Pointers melosos que correm na internet como um câncer em adiantada metástase. Aquilo é puro vírus. Hoje, no entanto, ao abrir minha caixa depois de dois dias, deparei-me com o seguinte texto:

Salmo 100:4 - Deus tem visto suas lutas. Deus diz que elas estão chegando ao fim. Uma bênção está vindo em sua direção. Se você crê em Deus, envie esta mensagem para 20 amigos, retornando também a quem lhe enviou. Não ignore, você está sendo testado (a). Se rejeitar, lembre-se que disse Jesus: "Se me negas entre os homens, te negarei diante do Pai". Dentro de 4 minutos te darão uma boa notícia. Funciona mesmo. Não custa tentar !

     Juro que tentei, paisano, conectar uma coisa a outra. Salmo 104, enviar mensagem e frase solta de Jesus. Bem, ao menos aproveitei para ler os trinta e cinco versículos do salmo. Salmo é uma espécie de poesia judaica. E poesia, nobre leitor, é sempre bem vinda. Olhei o nome de quem me enviou. Opa, o camarada não é chegado à versificação dos sentimentos. Nesse caso, ficou fácil identificar a motivação única de tal mensagem: uma bênção. E bênção, paisano, é geralmente entendida como alguma coisa boa ligada a finanças. O meu contato atesta que a corrente funciona. Eu, que não sou muito dado a essas pajelanças, não enviei a mensagem. Na verdade, fico com vergonha de me ver usando um texto bíblico para auferir vantagens financeiras. Tenho plena certeza que a pessoa que me enviou a tal corrente não é nenhuma aproveitadora, apenas vê as coisas diferentes de mim. Ah, pensei em fazer uma crítica a quem usa textos bíblicos de maneira equivocada, mas desisti. Ninguém é obrigado a nascer sabendo ler e escrever.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A mãe do Guilherme, a Mãe do Leonardo

     - Ai, que desanimador – digitou, quase que balbuciando, uma jovem leitora. Senti o pesar da moça, mesmo não sabendo de quem se tratava, pois seu comentário foi anônimo. E o anonimato é uma espécie de trincheira usada pela maioria dos comentadores de internet. Opa, não entro no mérito do certo ou errado de tal atitude. Às vezes, é por timidez, a pessoa não quer ter o nome exposto e, se coçando após a leitura de um texto, tecla algumas frases e assina: anônimo. Outras vezes, é por puro senso de sigilo. Não pretende colocar o nome e ter sua identidade secreta revelada. Tem, evidente, trezenas de justificativas para se manter oculto por trás de um comentário. O chato é quando tal anotação é maldosa, maliciosa. Do contrário, como diria o filósofo da TV, “Faz parte”. Invocando os meus superpoderes rítmicos, estratosféricos e palatinaikos, percebi desgosto na frase da jovem.

     - Você ta é com inveja por não ser mãe – esbravejou uma colega direto no meu email. Nem se deu ao trabalho de comentar no blog. – Ai, to morrendo, sim, senhora -, respondi com o cinismo característico de um Diógenes. Ué, o nobre leitor, ou leitora, ou outra coisa, ainda não havia percebido que carrego uma aura cínica sobre meus cabelos embetumados? Cínico, sim. Por favor, não é esse cinismo encontrado em políticos e outros contraventores que, ao serem entrevistados, após provas irrefutáveis de seus crimes, bravateiam: “Eu sou uma pessoa honesta, transparente e de consciência limpa”. Não, não é esse tipo de cinismo. É o cinismo que surgiu com Antístenes e teve em Diógenes o seu principal expoente. A escola cínica bebeu na sabedoria socrática e serpenteia, até hoje, pelos vinte e cinco cantos do nosso planeta. Gente do céu, um texto, quase um textículo (permita-me o questionável neologismo), acerca do dia das mães não deveria causar tantas reclamações por parte das mulheres. Digo “por parte das mulheres” porque nenhum, nenhum homem ousou me contrariar. Todas as mensagens que recebi vieram de mulheres. Calma, senhoras, eu também devo minha vida a uma mãe. E agradeço a Papai do Céu por ela. Questionei, só isso, algumas palhaçadas que são feitas em nome das genitoras. Um comentário feito nesse blog pela minha amiga Janair, lá de Chapecó, entretanto, foi uma covardia.

     A mensagem, que você pode ler nos comentários à esquerda da página, começou com: “Amigo Gile”. Aí você já viu, né?! Vem bordoada pela frente. Emocionada, a mamãe Jana poetizou a respeito da maternidade. E fez isso com um brilhantismo e uma educação que só uma mãe realizada é capaz de fazê-lo. Foi, no entanto, covarde. Calma, calma, eu não seria grosseiro, jamais, com a esposa do meu grande amigo Bruno. O que o leitor não sabe é que ela é mãe dos filhos mais lindos e adoráveis que essa terra viu nascer nos últimos três anos – Guilherme e Leonardo. O Gui é meu faixa. Como eu, adora macarrão e sagu. Se expressa como gente grande. Parece um diplomata. O Léo é ágil, cândido e gracioso. O que não dá para saber, mesmo olhando os dois lado a lado, é que eles são gêmeos. Como são diferentes os pimpolhos. Um é loiro, puxou à mãe; o outro é moreno, a cara do pai. Os quatro moram em uma deliciosa casa rodeada de verde e de água nos arredores de Chapecó. Aí fica fácil, dona Jana, falar na beleza de ser mãe. Outro dia, alguns amigos estavam dando risada e doidivanas interveio: “quero ver rir, assim, duro”. Pois é.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mãe: expulsa e padecendo feliz

     Xingando um peladeiro que o incomodava, o colega de time soltou a voz:

- Tomara que na próxima encarnação você nasça mulher, que é pra sofrer, seu fominha – fominha, na gíria do futebol, é o cara que não passa a bola para o companheiro.

     Insatisfeito, completou:

- Por mim, além de mulher, você será mãe, que é pra sofrer até morrer, seu (...).

     Caso o nobre leitor seja um homem acostumado ao meio futebolístico, substitua os três pontinhos por um palavrão maior do que a cara de pau dos nossos políticos. Sendo mulher, e dessas que enrubescem com um simples e despretensioso “vai à merda”, não mecha nos pontinhos; deixe-os lá, faça de conta que o finalzinho da frase não existe. Como fazem os pais quando não querem admitir que os filhos estejam fazendo merda. Opa, senhoras distintas, substitua a “merda” também, por favor. Quem me conhece, sabe que não sou dado a impropérios. A formação judaico-cristã trava minha boca. A mesma educação impede-me de acreditar em reencarnação. Por isso, não concordo, em parte, com o que o camarada do xingamento inicial do texto disse. Só em parte.

     Esse papo de que o outro reencarnará, para mim, é furado. Sim, porque minha crença, quando faço uso dela, baseia-se na Bíblia. E o livro sagrado é veementemente contrário a reencarnação. Então, você pode estar se perguntando, com que parte do xingamento o Gile concorda? – Com a praga jogada – respondo. Vamos combinar, se existisse reencarnação, seria muito ruim para um peladeiro voltar na forma de mulher. Não de uma mulher qualquer, diga-se de passagem, mas de uma dama com filhos. Claro, voltar como mulher, sangrando todo mês, portando TPM e cólicas menstruais, seria péssimo para qualquer marmanjo. Para completar, todo homem, por mais miserável que seja, encontra uma Eva em quem possa mandar. Tudo isso seria superável, mas ser mãe...
 
     É uma roubada. Tanto é verdade que um dissimulado inventou que “ser mãe é padecer no paraíso”. Pense agora, simpatia, em cinco mães que você conhece. Feche os olhinhos e pense. Quantas delas têm um jardim imenso com cascatas? Quantas delas podem andar peladonas dentro de sua propriedade sem precisar se preocupar com assovios maldosos de um mequetrefe qualquer? Quantas delas têm liberdade de fazer o que bem entendem da vida? Nenhuma? Pois no paraíso as coisas eram mais ou menos assim. Raciocine comigo: se ser mãe é padecer no paraíso, e a tal mãe não tem paraíso, ser mãe é, apenas, padecer. É triste mas é verdade. De acordo com a bíblia, a mulher, enquanto estava no paraíso, não teve filhos. Expulsa de lá, foi condenada pelo Criador: “Com dores darás a luz”. O que ele não disse, para não ser sarcástico, é que as dores do parto acompanhariam as futuras mamães para o resto da vida. E não se engane, candidata a mãe, os dias são cada vez piores. Os filhos indo de pior a pior, insensíveis aos sofrer materno. Apesar de não ser dado à efemérides, parabenizo as mães pelo dia delas. Coitadas, pelo menos um dia no ano elas merecem ser lembradas.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Grêmio é uma piada

Fluminense: FORA!
Internacional: FORA!
Grêmio: FORA!
Cruzeiro: FORA!
Ganso: DENTRO!

Fala sério, ô cambada de boleiro desclassificada. O Fluminense, o único dos perdedores por quem torci, precisa urgente de um goleiro. O jogo estava empatado até que o pegador de bolas bobeou. A zaga é boa, mas levaria gol de cabeça do meu amigo Rivelino que tem 1,61 de altura.

O internacional ficou vermelho de vergonha. Também, com o futebol que vem jogando, só os fanáticos colorados acreditariam que a equipe teria melhor sorte. Os peladeiros da AABB, aqui de Floripa, arrancariam, no mínimo um empate, jogando contra eles lá no Beira-Rio.

E o Grêmio? Esse é uma piada. Ô time feio! O entrosamento da equipe me lembra a sincronia que existe dentro de um balaio de gatos. Foi longe demais.

O Cruzeiro... Ah, o Cruzeiro. Que pecado! Não sou torcedor da Raposa, mas fiquei triste com a sua eliminação. Isso é mau para o futebol bonito.

Quanto a Ganso... Se os companheiros de clube colaborarem um pouquinho, ele levará o Peixe à maré da glória na Libertadores. Agora, mais do que nunca, quem dá bola é o Santos.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Igreja 0X0 Buteco

     Pense numa combinação para dar errado: igreja evangélica e buteco. O Word, esse ignorante, já me corrigiu. Assinalou com um vermelho a palavra buteco. Ele exige, como se meu editor fosse, que eu escreva boteco. Não farei, entretanto, tal coisa. Isso porque, boteco e buteco não são, nem de longe, a mesma coisa. Buteco tem a cara do povo. Lembra bebum. Lembra cachaça. Lembra, também, futricas. Para muitos, é o caso do meu amigo Crasbonaldo, lembra confusão. Para ele, quase todo rolo tem início na ingestão de álcool. Um professor que tive na faculdade de Administração, bebaço bem resolvido, com se dizia, costumava recitar, ironicamente, sua litania de sexta à noite: “A bebida degrada a alma e corrompe o homem”. Um belo dia, passeando por Roma, teve um mal súbito e se foi. Os alunos receberam a nota de falecimento com pesar. “Problemas de coração”, informava a universidade. No corredor, o zum-zum-zum revelava outra versão: “Foi a marvada, a manguaça, a branquinha”. Se foi o músculo cardíaco ou o fígado quem pifou, não sei até hoje. Sei que o intelectual – pois ele era um desses – morreu bem próximo ao Coliseu. “Morreu bem”, brincou um aluno menos sensível. Mentes mais maliciosas e cheias de picardia acreditam piamente que buteco tem grande afinidade com sexo. As mulheres, principalmente elas, pensam assim. Diga, o coitado do marido, que vai ao buteco... “Vai atrás de (...), não é? Pois então, amizade, imagine um boteco e uma igreja divididos por uma única e miserável parede. Daquelas construídas com tijolos de oito furos, que são tão eficientes em evitar a propagação do som tanto quanto um balaio é próprio para ser usado como depósito de gasolina. Já o boteco é coisa de grã fino e não merece espaço nessa crônica. Fica para outro dia.

     Igreja Evangélica Assembléia de Deus. Cultos às terças, quintas e domingos; sempre às 19h. Escola dominical no domingo às 9h. Some-se a essa bagatela as reuniões de jovens, de senhoras, os ensaios da mocidade e outros ajuntamentos necessários ao bom andamento da instituição e o resultado será um templo aberto quase sempre. Numa igreja pentecostal, as reuniões são, via de regra, entusiasmadas. A música é no dez. Os sermões, para que ninguém durma e para que tenham maior credibilidade por parte dos presentes, são feitos por preletores cujas carótidas parecem prestes a explodir. Fora do prédio, o movimento fica por conta de jovens namorados que aproveitam o descuido dos pais para trocarem beijos inocentes. Ah, candidatos a namorados também ficam do lado de fora buscando um coraçãozinho desocupado. O problema, paisano, é quando, do lado de fora, um sujeito “mais pra lá do que pra cá”, grita: “Bota uma dose aí pra mim, ô”. Que barbaridade, Gilead, você pode estar pensando. Calma, paisano, pois esse quadro pode ser visto aqui em Florianópolis.
Para quem chega ao trevo de Jurerê internacional e da Daniela, no Norte da Ilha, basta olhar à direita. Igreja e buteco irmanam-se por uma parede. Os religiosos chegaram primeiro, sou testemunha. Não foram capazes, por que eu não sei, de impedir que a concorrência se instalasse. Se bem que, como dizia um evangélico das antigas, “material de fazer crente é o descrente”. Será, penso agora, que o pastor deixou os bebuns se achegarem para pescá-los posteriormente? Não, seria muito arriscado. Quando tem jogo de futebol, então! Louvores a Deus e gritos de gol se confundem. Creio mesmo que quem sai ganhando nesse negócio são os da cachaça.

– Pra onde você vai, mal-acabado? – pergunta a dona encrenca.

– Vou pra igreja, querida –, responde o maridão.

– De bermuda e camiseta? – desconfia a mulher.

– É a modernidade, meu amor – improvisa o homem, certo de que, caso a esposa vá atrás dele mais tarde, basta livrar-se do flagrante, o copo, e dar um passo para o lado. Apenas um passo será suficiente para levá-lo do bar à igreja.

     Curioso como sou, dia desses vou parar para conversar com o pastor e com o dono do bar. O que danado eles fizeram para conviver pacificamente? Com a fórmula na mão, ficarei milionário. Poderei unir norte-americanos e mulçumanos, noras e sogras, pais e filhos e por aí vai. Igreja e buteco, é brincadeira?

terça-feira, 3 de maio de 2011

Flores, política, religião e Ernest Hemingway

    Não, não me peça para falar de flores. Não, porque as lagartas precisam delas. Falar de flores é louvar as lagartas. Sim, eu sei, os beija-flores não merecem meu não. Adoro os pequeninos alados, e sei que as flores fornecem-lhe o alimento diário. Mesmo assim, prefiro o jardim sem lagartas. Ainda que meu ato represente o fim dos colibris, das flores e até mesmo do próprio jardim. As insaciáveis lagartas fazem as lindas flores desaparecerem em segundos. Elas formam uma legião de destruidores de canteiros. Apossam-se das floreiras com uma sede de extermínio semelhante a do exército Hitlerista. Empanturram-se do néctar que o semeador acreditou ser exclusivo dos cuitelinhos. Quando estes chegam com suas asas ultra velozes, só encontram restos dos talos que um dia hastearam flores, rosas e crisântemos. Ah, veem, por mais triste que possa parecer, hostes de pançudas lagartas refesteladas deslocando-se para novas flores que um sonhador plantou. Não me peça para falar de flores.

     Não me peça para falar de flores se não queres ouvir de lagartas. Não que eu tenha perdido a capacidade de sonhar, meu Deus do céu. Tivesse essa desgraça acontecido, eu seria um morto vivo, um zumbi, ou coisa do gênero. Só não posso me dar ao luxo de dormir enquanto lagartas vorazes dizimam meu jardim. Nem muito menos acreditar, como querem alguns, que as lagartas fazem parte de um processo natural. Para lá com essa conversa fiada. Coloquemos nossos sonhos na mochila e sigamos adiante. Chegará a hora de abrirmos. O momento, no entanto, é de agir. Capitais brasileiras, tidas como evoluídas social, financeira e culturalmente, tornaram-se ninhos de neonazistas que matam minorias. Câmaras municipais, estaduais e federais converteram-se em covis de salteadores do nosso rico dinheirinho. Lares, ou o que restou deles, viraram centro de consumo e distribuição de tóxicos e entorpecentes. Instituições religiosas, que até poucos anos algumas serviam para salgar a sociedade, estão gangrenadas por charlatões, hienas da fé e corruptos a serviço da politicagem purulenta. Não me peça para falar de flores.

     Não me peça para falar de flores se teus ouvidos são insensíveis a dor de quem chora em um corredor de hospital. Que sofre na madrugada de um pronto socorro por não ter um médico para atendê-lo. Sofre por não ter um leito. Sofre por não ter remédio. Porque o dinheiro para suprir tais necessidades paga a cocaína de políticos indecentes e criminosos. Compra o uísque que ajuda a embalar as noitadas de assassinos travestidos de defensores da sociedade. Pagam o motel e as meretrizes usadas por vereadores, deputados e senadores. Falar de flores quando crianças descem à sepultura por falta de alimentação? Porque empaletozados furtaram-lhe o direito à merenda? Falar de flores quando o assalariado paga imposto de renda, e o dono de iate gaba-se da restituição a que teve vez? Falar de flores quando a realidade se torna cada dia pior? Falar de flores quando a justiça é pervertida por bastardos julgadores comprometidos com a mentira? Falar de flores quando o “defensor da liberdade” aponta um míssil para quem empunha um bodoque? Lembro das palavras de Robert Jordan, personagem principal do livro Por quem os sinos dobram de Ernest Hemingway: “O mundo é um bom lugar e vale a pena lutar por ele, e odeio ter que deixá-lo”. Lutemos agora, antes que as lagartas nos destruam e nos sepultem sob o que restar do nosso jardim.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Osama não morreu

     Que o príncipe da Inglaterra casou, sabemos. As fartíssimas imagens de televisão não deixam dúvida. Embora seja um tanto quanto idiota, um monte de endividados que nunca botaram seus pés cheios de unhas encravadas na terra da rainha celebraram o casório de um cara que eles não têm a menor noção de quem seja. Concordando ou não com os bobalhões de plantão, o matrimônio ocorreu. Que o Flamengo foi campeão carioca invicto, também sabemos. Deu a lógica. Nos pênaltis, ninguém, pelo menos no Rio, ganha do mengão. Coitado dos jogadores do Vasco; de tanto medo, chutaram a bola para longe do gol rubro-negro. Que nenhum ignorante acerca do futebol ache que a equipe da Gávea é a melhor entre os cariocas. Que é a mais forte, entretanto, não se pode negar. E a força, amizade, sempre sai vencedora. Conte-me um caso, na história, em que a força foi derrotada. Faça isso e mudarei meu nome para Apolônio, Godofredo ou Vantuil. Que me perdoem os Vantuís que navegam por este blog, mas acho esse nome meio esquisito. Só conheci um Vantuil em toda a minha vida. Morava perto da casa da minha vó materna. Era um militar da Aeronáutica. Andava em uma moto única na rua e parecia um sumo pontífice em dia de visita aos seus fiéis. A empáfia em pessoa. Outra coisa que sabemos, para finalizar esse parágrafo: Osama Bin Laden está morto.

     Mesmo sem imagens irrefutáveis do assassinato, ou do assassinado, Obama disse e está dito. A bem da verdade, foi divulgada uma “fotinha” do, até então, líder da Al-qaeda. E o povo, como todo bom telespectador, precisa de imagem. Somos igual São Tomé, precisamos ver para crer. Por isso, enquanto os EUA não apresentarem imagens indiscutíveis do Barbudo morto, as teorias sobre a morte, ou não morte, do bonitão vão crescer mais do que conta bancária de político. Político eleito e em pleno exercício de mandato, ressalte-se. Ora, ora, se até hoje há quem jure de pés juntos que Elvis Presley está vivo! Mesmo empanturrado de drogas e quase estourando de tanta química no organismo, conforme imagens da época, tem gente certa de que o cantor não “fechou o paletó”! Imagine, paisano, o que não vão dizer de Osama. Na real os americanos entraram numa roubada. Lutar contra Bin Laden foi como brigar com bêbado. Se você bate no bebum, não fez mais do que o esperado. Se apanha, ta ferrado. Onde já se viu apanhar de um “pé de cana”? Por isso, todo mundo na face da terra sabia que uma hora ou outra Osama “entraria na boquinha da garrafa”. Entrou. Entrou ou foi para o céu?

 
     É aí que mora o perigo, jacaré. Para uma penca de seguidores de Osama, nesse momento ele está no paraíso. Virou mártir. E como tal, precisa ser reverenciado, idolatrado e vingado. Nem mesmo a matança indiscriminada feita pelos norte-americanos no Iraque e no Afeganistão será capaz de deter os correligionários do assassinado. Príncipe Wiliam é passado, como passado é o título do Flamengo. Osama, por outro lado, é futuro. Um futuro de bombas, assassinatos e medo. O medo se espalhará mundo a fora ao primeiro atentado cometido pelos remanescentes da Al-qaeda. Americanos e aliados dormirão abraçados com o temor de uma explosão. Obama matou Osama. Não bastava assassinar o bêbado, “we can”. Precisaria ter eliminado a cachaça. E essa, meu caro, não se extingue.