Dizem que o contato com a natureza nos deixa menos estressado. Dizem que quando ficamos um fim de semana num lugar bucólico, por exemplo, relaxamos e nos tornamos mais flexíveis. Dizem que o convívio com animais do campo – que não sejam jogadores de futebol, por favor – nos passa sossego, quietude, e que esse estado de espírito melhora nossa convivência com os mortais da cidade. Duvido. E duvido com um D beeeeeeeeeeem grande. Pra ser sincero, acho que a vida no campo prejudica, e muuuuuuuuuuuito, o bom convívio com nossos semelhantes urbanos. Por razões óbvias, jacaré. Entre o gado, para que tenhas uma ideia, as coisas funcionam de forma muito simples. Aquele que tem mais força, que é mais pesado e que é maior, é quem manda. É inimaginável que um terneiro de 300 kg enfrente um touro de 900 kg. O “preiboy” sabe que levará uma traulitada que se ele não cair é porque morreu em pé feito vela. O camarada que trata os quadrúpedes é respeitadíssimo por eles. Os chifrudos reconhecem o bem que o tratador lhes faz. Já na cidade...
Quem manda em quem entre os homens? Quem define como as coisas funcionam? Quem respeita quem e quem merece ser respeitado? Não sabemos. As coisas não são claras. São como regras de futebol; até existem, mas a interpretação por parte de quem as aplica bagunça tudo. “Não há crime sem lei que o determine”, alardeia os bastiões da lei. Mesmo assim, embora matar seja crime, dependendo de quem seja o homicida o delito vira gás. Um fedelho que mal perdeu a catinga da frauda enfrenta um pai de família e o enche de adjetivos impróprios para a saúde bucal e auditiva. E se confia em que? No dinheiro do pai. Um ordinário de 16 anos estupra, espanca e mata. E o que acontece? Impunidade, paisano. Com um agravante: se o delinqüente for filho de rico, vai precisar de um psicólogo, se for filho de pobre levará uma boa surra antes de ir para uma cadeia para jovens marginais. Por isso a vida no campo é nociva. Sacou?
No campo há respeito; na cidade isso é coisa de antigamente. No campo há regras claras; na cidade os julgamentos são anuviados pela força do capital. Aí o sujeito vai ao campo e relaxa, sem muito esforço entra em sintonia com a natureza. Aí quando ele volta para a cidade, meu chapa, e vê o pandemônio que o cerca, fica mais irritado do que quando saiu. O estresse é aumentado em 1000%. Por isso, caso alguém te diga “ta nervoso?, vai pescar” ou “vai passar um fim de semana num hotel fazenda que você desestressa”, pense duas vezes. O tiro pode sair pela culatra. Um vizinho meu me reclamou, ontem à noite quando eu chegava ao prédio onde moro, que cumprimentou um senhor que estava no elevador e o bonitão não respondeu. Esse meu vizinho, um aposentado de 65 anos, estava contrariadíssimo. “Que gente grossa que tem aqui”, desabafou. Depois de cinco minutos relatando atitudes de seus “mal educados”, segundo ele, condôminos, entrou no carro e saiu. Peguei o elevador, olhei no espelho e disse para mim mesmo: “que bom seria que isso aqui fosse um curral”.
Há quem diga: "Ässim como são as pessoas, são as criaturas".
ResponderExcluirEu digo: "Assim como são as criaturas, infelizmente NÃO são as pessoas".