- Jeca Tatu é tua mãe, ô espirro de gato!
Não disse, mas pensei seriamente em gritar no ouvido de Cunilda – chamemos assim minha colega de profissão. Limitei-me a retrucar:
- Pelo menos meus bois não dormem na minha cama.
Na elegância dos seus um metro e cinquenta de urbanidade, a moça aventou que eu, um cara que gosta da vida no campo, corria sério risco de virar um Jeca Tatu. Ora, ora, meus senhores, li Urupês, de Monteiro Lobato. Acho-o de uma riqueza estilística comparada às encontradas em Saramago. O jornalista escritor retrata em cores vivas a - entre outras coisas – falta de higiene do caipira paulista. O romance daquele que veio a se tornar símbolo da literatura infantil brasileira foi adaptado para o cinema. O Brasil deu risada à custa da interpretação de Mazaroppi. O personagem convivia com os animais como se eles fossem da sua parentalha. E, num país amatutado, Jeca virou sinônimo de matuto, de capiau. Eu até teria ficado calado se não soubesse que ela mora em apartamento e cria um cachorro.
E os apartamentos de hoje em dia você sabe como são amplos; para não dizer o contrário. A pessoa cria um cachorro dentro de um imóvel que, muitas vezes, não passa de 70 metros quadrados e acha-se no direito de alfinetar quem gosta de gado. Paisano, eu também moro em apartamento e sei, como poucos, o estrago que os caninos fazem em um condomínio. Antes que um tresloucado me condene ao inferno de Dante, adoro cães. Já tive mais de um, inclusive. Não dentro de um apartamento, ressalto. Cansei de entrar na garagem do prédio e ver as colunas do imóvel manchadas de urina de cães. Os donos de cachorros – tem exceções, claro – acham que as calçadas são latrinas para os latidores. A gente tem que andar olhando para o chão para não rechear os calçados. Tem apartamento mesmo que mais parece um canil.
Aí uma sanfona de gambá vem querer dizer que sou Jeca. Fala sério né, ô, sapato de cobra. Ora Jeca!
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