Comportamento de manada. Percebo isso nos bovinos de modo muito claro. Quando um deles se apavora e sai em disparada pelo pasto, todos fazem a mesma coisa. Sem raciocinar, sem pensar duas vezes, sem dizer: “calma, vamos analisar a situação”. Necas de pitibiriba. Se um corre, todos correm. Na hora da ração é um deus nos acuda. Basta o primeiro se dirigir para o curral que a corriola vai atrás. Botou a boca no cocho é sinal de coisa boa. O gesto é repetido pelos demais. Animais. São todos iguais. Só muda o...? Só muda o dono, meu chapa. De fato, todos têm quatro patas – salvo alguma anomalia. Refiro-me aos bois, não aos donos. Todos têm rabo, barriga, costela e por aí vai. E cabeça, claro. Cabeça que não serve para pensar, ressaltemos. Cabecinha que está lá para abrigar a boca, os olhos e os chifres. Nunca, isso mesmo, nunca para pensar. Nunca para ponderar. Nunca para reclamar que estão sendo feitos de bobos. Nunca para se indignar. Nunca para dizer chega. Nunca para constatar que são vacas e não burras. Comportamento de manada. Falando nisso lembrei-me de um evento que fui outro dia.
Como não tinha nada para fazer, fiquei olhando tudo e todos. Os músicos eram muito bons. O lugar, maravilhoso. Na beira do mar. E na beira do mar, como diz o poeta, “nego joga bola”. Não uma bola literal, daquelas maltratadas por peladeiros nos campos de futebol. Mas a bola da vida, dos momentos que se apresentam para serem moldados conforme as hábeis mãos de quem deles dispõe. Sentado, passei a observar as damas que transitavam de um lado para o outro feito baratas sem GPS. E fui notando as similitudes entre elas. Uma coisa, no entanto, agarrou-se em meu olhar: as bolsas. Todas carregavam bolsas. Todas, sem exceção. Se é todas é sem exceção, óbvio. Mas faço questão de dizer que o todas aqui empregado é todas no mais abrangente sentido do todas. Não pense, paisano, que estou me referindo a uma bolsa qualquer. Não. Uma bolsa pequena, por exemplo, talvez nem me despertasse o olho esquerdo. As bolsas da festa eram grandes. Comportavam, tranquilamente, três quilos de açúcar, dois de arroz, um de farinha, meio de carne fresca, algumas batatas para fazer um purê e uma ou duas frutas para a sobremesa. Aquilo sim eram bolsas.
Irritei-me. Ou melhor, fui irritado. Minha irritação é abrupta. Não vem subindo pelas unhas dos pés. Não percorre cada dedo, cada tendão dos meus pisantes. Não palmilha as pernas e outras partes do corpo antes de explodir pela boca e pelos olhos. Ultimamente tenho controlado mais minha cólera e evitado – sempre que possível – que ela ganhe liberdade pela boca. Os olhos têm sido a porta de saída que abro para minha ira ganhar a imensidão. E tenho me especializado em criar olhares: tem o olhar do “vai te catar, rapaz”; tem outro, semelhante, porém mais agressivo que diz “vai ~#$^*&”. A maioria das pessoas entende a linguagem dos meus olhos. Outro dia o árbitro lá da AABB me deu cartão amarelo só porque lancei-lhe um olhar de “és um ^$#*&”. Verdade. Juro que não mostrei o dedo médio para o camarada. Só olhei. Ele, feito um touro na arena, vociferou: “quer levar um cartão?”. Agucei o olhar. Sem conhecer outra forma de demonstrar autoridade, enfiou a mão no bolso e mostrou-me o cartão. Voltando à festa, vou revelar meu descontentamento.
As bolsas das senhoras, embora o tamanho, estavam murchas. Em algumas percebi um montinho. Talvez um molho de chave, um batom ou um completo kit de maquiagem. Ora, ora, gente amiga, que desperdício de dinheiro e de praticidade, pensei: se é para não levar nada, para que comprar um paiol daqueles? Conversei com um colega e ele foi direto: “é moda, Gile”. Moda, é isso. Sendo assim, não tenho o direito a ficar com raiva. As nobres senhoras são vítimas de oportunistas que empurram-lhes acessórios desnecessários a um preço elevadíssimo. Diante de uma propaganda elas são proibidas de pensar, de refletir, de analisar, de ponderar. Mas isso não tem nada a ver com comportamento de manada, por favor.
as vezes as bolsas femininas também servem para guardar as chaves, carteiras ou outras coisas que os seus companheiros não 'GOSTAM" de carregar. esta também pode ser uma outra explicação para o tamanho das bolsas.
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